Ações pentecostais nos conjuntos habitacionais das periferias de Campos dos Goytacazes é destaque em pesquisa

Sociedades pacíficas — O assentamento ou realocação de moradores em diversos espaços da cidade de Campos dos Goytacazes, por meio do programa municipal de habitação denominado “Morar Feliz”, implementado desde o ano de 2009, apresenta o desafio de se compreender as implicações deste reordenamento urbano na vida da população, considerando seus impactos sociais.

Religião X tráfico de drogas — A pesquisa da professora Wania Amélia Belchior Mesquita, do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (LESCE), do Centro de Ciências do Homem (CCH), denominada “Ações pentecostais nos conjuntos habitacionais das periferias de Campos dos Goytacazes-RJ: sociabilidades religiosas nos espaços de moradias”, realizada com a participação da pós-doutoranda Ana Carla de Oliveira Pinheiro, relata a realidade vivida pelos moradores de comunidades antes consideradas “favelas”; hoje vivem entre a ação do tráfico de drogas, que impõe dinâmicas próprias no que se refere à sociabilidade constitutiva nestes lugares, e ações das igrejas evangélicas que se inserem de um modo bem particular neste processo.

“A partir de uma abordagem etnográfica, a pesquisa pretende compreender como se desenvolvem os processos de uso dos espaços religiosos e como se configura a sociabilidade em um dos conjuntos habitacionais do “Morar Feliz”, considerando as disputas pelo espaço, as formas de comunicação e a resolução de conflitos em contextos que envolvem a igreja nestas localidades”, destaca a professora Wania.

Ação dos pentecostais — A inserção dos fiéis pentecostais em diferentes esferas da vida social pode ser invocada para desfazer ou amenizar esta percepção negativa relacionada a imposições do tráfico de drogas nas comunidades. Segundo a professora Wania, a igreja torna-se um lugar que não cuida apenas dos problemas espirituais, mas também oferece suporte psicológico, assistencial e pode até provocar a inserção em redes internas que viabilizam conexões com outras instâncias da cidade, como o acesso ao Poder Público ou mesmo ao mercado de trabalho. Por outro lado, os pentecostais passam a ser detentores de uma reserva moral mediante outros moradores, conseguindo atenuar os estigmas do lugar.

“Neste sentido, a religião para alguns moradores configura um modo de organização de vida nas condições de enorme precariedade material, de desestruturação moral e de vulnerabilidade, demarcado pelo quadro permanente e sempre inconcluso de “limpeza moral”. As questões delineadas na pesquisa ajudam a entender como o pentecostalismo oferece um arcabouço e um sentido de pertencimento aos moradores de favelas que vivem em contiguidade territorial inescapável com os bandos de traficantes armados, com a insuficiência das operações estatais e com o enfrentamento do peso do estigma associado à pobreza e à degradação moral”, finalizou a pesquisadora.

Por Jane Ribeiro

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