Tradição e Memória Quilombola

Luiza Almeida estuda jongo em comunidade quilombola

A estudante Luiza Almeida, 26 anos, nasceu em Belo Horizonte, mas mora em Campos desde que tinha 6 anos de idade. Ela sempre estudou em escola pública, e argumenta que por isso enfrentou dificuldades para o acesso ao concorrido ensino superior público.

Luiza lembra que, no Ensino Médio, uma professora disse em sala de aula que a UENF estava muito longe do alcance dos alunos de escolas públicas, pois os estudantes dos colégios particulares estavam se preparando em bons cursos pré-vestibulares. “Isso desanimou muitos alunos. Até os mais empenhados da turma nem tentaram fazer o vestibular para a UENF, alunos estes que tenho absoluta certeza que passariam se tivessem tentado. Destaco neste aspecto, a importância de os alunos do Ensino Médio tentarem, mesmo que o objetivo pareça distante e muitos fatores não estejam a seu favor”, incentiva a estudante.

Ainda indecisa sobre qual carreira seguir, Luiza iniciou graduação em Direito, porém, não se identificou com a área. Então, ela decidiu cursar Psicologia na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde está desde 2015. Na UENF, inicialmente, ela participou de um projeto de Extensão na temática racial. A partir dessa experiência, ela decidiu se candidatar a uma bolsa de Iniciação Científica e ingressar nesta linha de pesquisa.

“Pretendo fazer mestrado, doutorado e enfim ser professora universitária para ensinar tudo o que aprendi”, planeja Luiza.

Conheça a pesquisa

A estudante Luiza Almeida atua na pesquisa Tradição e Memória Quilombola ao som dos Tambores de Machadinha, referência ao grupo de jongo do quilombola Machadinha localizado em Quissamã/RJ. O trabalho tem a orientação da professora Maria Clareth Gonçalves Reis, do Laboratório de Estudos de Educação e Linguagem (LEEL), do Centro de Ciências do Homem (CCH), coordenadora do NEABI/UENF.

Luiza explica que o jongo é uma expressão da cultura afro-brasileira e tem origem africana. Essa manifestação era praticada pelos trabalhadores negros escravizados como forma de lazer e resistência à dominação colonial, sendo praticado através da dança em forma de roda, do canto dos pontos de jongo e do batuque do tambor.

A comunidade transmite por meio do jongo, a força e a garra da luta pela conquista de direitos e valorização da cultura. Além disso, levar as manifestações culturais para dentro das escolas constitui momentos para discutir o racismo e o preconceito ainda presentes na sociedade.

A aluna fala ainda que o objetivo da pesquisa é fazer uma análise desse grupo de dança e compreender vários aspectos de sua ligação com a comunidade quilombola. “O que chamou nossa atenção foi um grande número de jovens entre 12 e 25 anos que se interessaram em participar do grupo de jongo e desta forma valorizar a cultura”, lembra.

A estudante diz que por meio de questionários, entrevistas e da análise dos dados coletados conclui-se que o preconceito em relação ao jongo ameaça o grupo de jongueiros a continuar com jovens participantes e este é um grande desafio enfrentado para a manutenção da prática desta cultura na comunidade.

“Conseguimos identificar que um dos atrativos para a participação dos jovens no grupo de jongo Tambores de Machadinha é o fato de poderem viajar para outras cidades e regiões, possibilitando a troca de conhecimento cultural com outros grupos”, finaliza.

Por Francislaine Cavichini

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