Helion Vargas, da UENF, ganha prêmio mundial
Pesquisador contribuiu para evolução de técnicas fotoacústicas e fototérmicas
Um dos cientistas da UENF mais respeitados no Brasil acaba de receber prêmio mundial na área de estudos fotoacústicos e fototérmicos, ramo específico da Física com larga faixa de aplicações. Helion Vargas, que já era membro titular da Academia Brasileira de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico (honraria conferida pela Presidência da República), foi escolhido para receber o Senior Prize IPPA.
O prêmio é concedido pela International Photoacoustic and Photothermal Association, que congrega os pesquisadores da área em nível mundial. O ‘Prêmio Senior’ da Associação reconhece pesquisadores que se destacam na contribuição ao desenvolvimento e evolução de técnicas fotoacústicas e fototérmicas e das aplicações com forte impacto em diferentes segmentos da comunidade científica. A entrega ocorrerá em Mérida, no México, durante o 16º Encontro.
Mineiro de Paracatu, 77 anos, Helion se dedica a estudos envolvendo técnicas fotoacústicas e fototérmicas há cerca de 35 anos. Nos últimos 14, vem liderando na UENF, em Campos dos Goytacazes (RJ), uma das equipes mais produtivas do país na área.
– Acho que esse prêmio eleva o nome da UENF, que está em franco crescimento, e o nome da cidade – diz o pesquisador.
Ao longo da carreira, Helion Vargas atuou em universidades da Inglaterra (Nottingham), Alemanha (Bochum), Holanda (Nigmen) e do México (Instituto de Estudos Avançados). No Brasil, onde manteve forte colaboração com o professor Luis Carlos Moura Miranda, atuou na Unicamp e na UENF.
As técnicas fototérmicas e fotoacústicas têm ampla gama de aplicações. Só nos laboratórios da UENF elas têm sido aplicadas, por exemplo, em pesquisas sobre o amadurecimento de frutas (tecnologias para aumentar o tempo de prateleira do mamão), em estudos sobre gases e até num protótipo destinado a detectar adulteração em gasolina, que está patenteado nos Estados Unidos.
Basquete, taquigrafia, ciência…
Helion Vargas foi jogador profissional e até treinador de basquete, tendo jogado na Seleção Brasileira Universitária, na década de 1950. Atuava como armador, num tempo em que morava em Belo Horizonte, mas interrompeu a carreira após aprovação em concurso público para taquígrafo da Assembleia Legislativa de Minas.
– Um dia me enchi de taquigrafia, me enchi de basquete, me enchi de tudo e falei: vou estudar – conta o pesquisador, que ingressaria no bacharelado em Física da UFMG em 1960, no mestrado em Física da USP em 1964 e no doutorado em Física da Universidade de Grenoble, França, em 1969.
O reconhecimento como cientista de prestígio, que não passava pela cabeça do jovem atleta e taquígrafo, começou a se cristalizar após o doutorado na França, país onde teve proposta para continuar trabalhando, mas preferiu voltar ao Brasil por questões familiares. Voltando ao Brasil, Helion ficou na Unicamp de 1973 a 1990.
Helion conta que foi o primeiro professor titular concursado da Unicamp e que chegou a ser aprovado para professor titular da USP, mas não tomou posse e alguns meses depois foi para o México. Orientou 71 estudantes (33 doutores e 38 mestres), publicou 251 artigos e 24 capítulos de livros.
Entre seus artigos internacionais está um trabalho, em coautoria com vários pesquisadores, que saiu na prestigiada revista Nature, em 1993, desvendando os mecanismos que fazem o milho pipoca explodir. Ficou magoado com o tratamento que setores da mídia deram ao trabalho, ridicularizado como irrelevante – situação relativamente frequente quando não se entende a dinâmica do avanço da ciência, onde o que hoje parece inútil amanhã se torna solução para novo problema.
– A ciência brasileira está se desenvolvendo muito, não tem faltado dinheiro. A Faperj, por exemplo, tem investido muito bem. O que ainda falta é a interação das indústrias com a universidade. E o ensino básico, que está terrível – opina o pesquisador, cuja maior alegria é ver os cientistas que ele ajudou a formar.