O Laboratório de Biologia do Reconhecer foi assim batizado baseado no conceito das diversas ações do Sistema Imunitário, que têm início no plano molecular, no reconhecimento de moléculas por receptores expressos na superfície ou no interior de leucócitos e outras células dos mais diversos tecidos. Esse nome dado pelo Professor George Alexandre dos Reis, em 1992, segue a recomendação do idealizador da UENF, Prof. Darcy Ribeiro, para que de forma equivalente dos formais Departamentos das Universidades Brasileiras, intitulasse o laboratório que abrigaria equipes que tivessem a Imunologia como interesse principal, com a linguagem moderna das equipes colaborativas, adotando nomes provocativos. O LBR nasce com seu balizamento através da interiorização da pesquisa de ponta em Imunologia, voltando os olhos para os problemas de saúde das regiões Norte e Noroeste Fluminense, formando profissionais e pesquisadores capacitados e comprometidos com esse perfil.
Hoje, a Imunologia evolui a passos rápidos, abordando regulações genéticas e epigenéticas, estabelecendo populações e subpopulações celulares envolvidas em diferentes estados patológicos, bem como as relações entre estes componentes nos diversos compartimentos do organismo. Veremos que o LBR usa diversos modelos de estudo de patologias variadas, como câncer, tuberculose, hanseníase e toxoplasmose. São utilizados modelos murinos com protocolos experimentais in vitro, ex vivo e in vivo. Algumas das linhas hoje em desenvolvimento também envolvem o estudo de populações humanas das regiões Norte e Noroeste Fluminense.
Principais contribuições científicas do LBR
O grupo da Prof.a Andrea Arnholdt dedica-se ao desenvolvimento de modelos in vitro e in vivo que abordam aspectos cruciais para a disseminação do Toxoplasma gondii no organismo hospedeiro e sua capacidade de alojar-se em sítios imunoprivilegiados, utilizando leucócitos como Cavalos de Troia. São explorados in vitro e in vivo mecanismos moleculares envolvendo moléculas de adesão, metaloproteinases e seus reguladores, expressos em células infectadas por T. gondii.
A equipe da Prof.a Alba Peixoto Rangel desenvolve projetos na área de imunogenética de doenças infecciosas, contemplando duas doenças infecciosas negligenciadas e de importância epidemiológica regional: a toxoplasmose e a hanseníase. Esses projetos focam principalmente na investigação concomitante de SNP (Polimorfismo de Nucleotídeo Único) em genes candidatos envolvidos na resposta imune contra o T. gondii e Mycobacterium leprae, e parâmetros da resposta imune associados à manifestação ocular da toxoplasmose e a severidade da hanseníase na população de Campos dos Goytacazes/RJ. Além disso, projetos em neuroimunomodulação da toxoplasmose com avaliação de comportamento de animais infectados com T. gondii, avaliação imunogenética e epidemiológica da toxoplasmose congênita em recém-nascidos do Norte e Noroeste Fluminense também são investigados pelo grupo de pesquisa.
Desde a sua implantação em 1998, o grupo de pesquisa em Tuberculose (TB) liderado pela Prof.ª Elena Lassounskaia estuda mecanismos de imunopatogenia de doenças causadas pelas micobactérias patogênicas, incluindo tuberculose, paratuberculose bovina e infecções pulmonares causadas pelas micobactérias não tuberculosas. Em 2020 durante a pandemia, foram iniciados projetos de estudo de coinfecção TB/COVID-19. Na pesquisa de patogenicidade e identificação dos fatores que determinam a capacidade de micobactéria de causar formas graves da doença, o grupo utiliza uma abordagem moderna baseada na associação de dados genômicos dos isolados clínicos com os dados fenotípicos, de virulência, e manifestações da TB.
Para estudos de micro-organismos de risco elevado, como as micobactérias tuberculosas e novo coronavírus (SARS-CoV-2), o LBR conta com um Laboratório de Biossegurança NB3.
Todos os projetos nessa linha de pesquisa estão inseridos no conjunto de projetos que compõem a Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose, onde também se insere a Profa. Elisangela da Silva, a coordenadora da área de Pesquisa Básica e Imunopatogenia da REDE-TB.
Na área de diagnóstico, o grupo desenvolve novos kits imunoquímicos (ELISA e testes rápidos) para diagnóstico da paratuberculose bovina (patente 2015 – BR1020150051425) e outras micobacterioses de importância de saúde humana e animal, colaborando com a empresa startup Imuno X-Press, que foi fundada por ex-alunos do LBR.
Os modelos de estudos estabelecidos pelo grupo da profª Elena Lassounskaia estão sendo também utilizados nos projetos da Prof.ª Thatiana Lopes Biá Ventura Simão para seleção, caracterização e design de novos candidatos a fármacos objetivando o tratamento adjuvante da tuberculose pulmonar. Os projetos são baseados no estudo de produtos bioativos sintéticos de diferentes classes químicas ou naturais isolados de plantas pertencentes à flora brasileira, em especial do litoral Norte Fluminense, do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba assim como de produtos naturais marinhos. O potencial antimicobacteriano e anti-inflamatório desses produtos bioativos tem sido verificado quanto a sua capacidade de inibir o crescimento micobacteriano intracelular e de agregados extracelulares com diferentes níveis de virulência, assim como a capacidade de inibição da produção de diferentes mediadores inflamatórios e os mecanismos moleculares associados.
As linhas de pesquisa do LBR sempre estiveram na interface da pesquisa básica e aplicada. Uma das propostas iniciais do LBR era a produção de anticorpos monoclonais que pudessem ser utilizados como imunobiológicos em diversas interfaces. Neste contexto o Prof. Milton Kanashiro iniciou suas atividades no LBR em 1994 como técnico especialista em imunodiagnóstico e produção de anticorpos monoclonais, integrando o setor de hibridomas do LBR junto à equipe do Prof. Boris Margulis. Em 2002 após a obtenção do título de Doutor em Biociências sob a orientação da Prof.ª Thereza L. Kipnis, o Prof. Milton passou a integrar a equipe do LBR e deu início a linha de pesquisa de seleção e caracterização de compostos orgânicos e inorgânicos com atividade antineoplásica em modelos in vitro e in vivo. Os compostos são obtidos através de diversas colaborações com grupos de pesquisas que desenvolvem síntese de compostos inorgânicos e de grupos que isolam princípios ativos de plantas brasileiras. Estes compostos são selecionados em ensaios in vitro quanto à citotoxicidade, toxicidade seletiva e o tipo de morte celular induzida frente a um painel de linhagens celulares originadas de cânceres humanos.
Dentre os vários compostos estudados o composto de coordenação de platina, patente depositada no INPI (BR10201602858) foi capaz de induzir morte celular por apoptose em células de câncer de mama humana. Além das várias teses, dissertações e monografias, o grupo já fez a solicitação de registro de patente no INPI, sendo uma delas já concedida (BR1020140226303).