A conservação da agrobiodiversidade do feijoeiro e a valorização de produtos locais como estratégia de desenvolvimento sustentável
Entenda o contexto – O feijão-comum (Phaseolus vulgaris L.) é uma das leguminosas não oleaginosas mais consumidas no mundo e representa uma importante fonte de proteína e micronutrientes, especialmente para as populações de baixa renda. A professora Rosana Rodrigues, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV) relembra que no Brasil, observações históricas e arqueológicas sugerem que o feijão-comum era cultivado pelos indígenas antes da chegada dos portugueses, e que tornou-se base da alimentação diária dos brasileiros. Elemento típico da agricultura familiar, o feijão é cultivado em todas as regiões do país, em diferentes biomas e contextos socioculturais.
“A conservação da agrobiodiversidade é uma preocupação global, visto que a diversidade genética define a adaptação dos cultivos às mudanças climáticas, constitui a base dos programas de melhoramento, e para os agricultores familiares, a diversidade garante a segurança alimentar e nutricional e incorpora e preserva valores culturais. As variedades locais de feijão-comum têm importância econômica, social e cultural para os agricultores familiares, em todas as regiões do Brasil. Entretanto, o conhecimento sobre a situação da produção e conservação de variedades locais de feijão no estado do Rio de Janeiro até 2015 permanecia incipiente”, destaca.
Conheça a pesquisa – Dividida em duas fases, a primeira etapa da pesquisa foi conduzida entre 2015 e 2018, e consistiu na identificação de produtores rurais que cultivavam feijão, e a coleta de sementes em diferentes municípios, cobrindo todo o estado do Rio de Janeiro. Um levantamento do perfil dos produtores rurais foi traçado e a caracterização morfológica, agronômica e molecular do germoplasma foi conduzida na UENF.
“Nessa primeira etapa, tivemos o apoio da EMATER-Rio e de diversas Secretarias Municipais de Agricultura, que contribuiram de forma decisiva para a identificação dos produtores familiares. A segunda etapa, iniciada em 2019, consiste na construção de uma proposta de cooperação entre a UENF, órgãos de extensão e os agricultores envolvidos no projeto, visando iniciar a gestão compartilhada das sementes de feijão-comum. Os agricultores que aceitaram participar do projeto estão sendo apoiados na manutenção dos seus estoques de sementes, ou seja, na conservação on farm. Concomitantemente, as mesmas sementes estão sendo armazenadas, a médio prazo, na UENF, em câmara fria. Estamos, portanto, traçando um diagnóstico da diversidade de feijão-comum que está sendo conservada pelos agricultores em diferentes regiões do estado do Rio de Janeiro e contribuindo para a conservação (on farm e ex situ) desse importante recurso genético”, salienta a professora.
A responsabilidade de manutenção da agrobiodiversidade é compartilhada com os produtores. Além da conservação das variedades locais de feijão-comum, a professora destaca que este projeto pretende servir de modelo para outras iniciativas de gestão compartilhada, e subsidiar políticas públicas e demais propostas integradas de conservação da agrobiodiversidade.
Catálogo da agrobiodiversidade do feijoeiro no RJ – “Nossa equipe na UENF, em conjunto com nossos parceiros, está elaborando um catálogo que traz as informações mais relevantes sobre as sementes conservadas e os agricultores responsáveis por essa conservação no estado do Rio, identificados por municípios. Esse catálogo é uma primeira ação de devolução aos produtores que contribuíram conosco e têm contribuído com a agricultura fluminense de forma muito intensa”, informou a professora.
Perspectivas – “Trabalhamos com o propósito de desenvolvermos a valorização do produto local associado a experiências culturais e gastronômicas que possam ser apreciadas e reconhecidas pela população em geral, gerando retorno para os produtores familiares”, conclui a professora.
Por Jane Ribeiro