Conferências

A conferência de abertura, intitulada “As emergências climáticas, de saúde e de biodiversidade: como sairemos delas?”, foi realizada pelo professor Paulo Eduardo Artaxo Netto, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP). O palestrante é doutor em Física Atmosférica (USP) e já trabalhou na NASA e nas Universidades de Antuérpia (Bélgica), Lund (Suécia) e Harvard (Estados Unidos). Em 2006, foi eleito fellow da American Association for the Advancement of Sciences. É membro da equipe do IPCC que foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz de 2007. A mediação ficou por conta da coordenadora Institucional do Programa de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica da Uenf, Maria Cristina Gaglianone.

O professor Artaxo defende a tese de que existem três grandes crises da atualidade: a crise da saúde, da emergência climática e da perda de biodiversidade. Para ele é preciso repensar o modelo de desenvolvimento econômico e que precisamos de muita ciência para desenvolver os Objetivos dos Desenvolvimento Sustentável elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

“A sociedade do futuro vai ser uma sociedade que será dirigida pela ciência e a UENF, UFF, IFF e demais universidades tem um papel estratégico e essencial de ajudar a sociedade a encontrar na ciência e na pesquisa os caminhos do desenvolvimento sustentável. Precisamos fazer ciência de qualidade e esse desafio está nas mãos dos estudantes que estão engajados nas pesquisas de excelência. Nós hoje precisamos de cientistas de alto nível, de um desenvolvimento científico e tecnológico de qualidade”, ressaltou.

Professor Paulo Eduardo Artaxo Netto, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP).

O segundo dia de Congresso teve como destaque a palestra do professor Rômulo Dante Orrico Filho, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COPPE) da UFRJ. O Prof. Dr. Rômulo Dante Orrico Filho é engenheiro Civil (UFBA), Dr.Ing. em Urbanisme et Aménagement du Territoire pela Universidade de Paris, com ênfase em pesquisa em transporte público, atuando principalmente no planejamento, economia e regulamentação de redes de transportes. O professor Rômulo falou sobre “Mobilidade urbana sustentável: um desafio para o desenvolvimento”. A mediação ficou por conta do professor Guilherme Chagas Cordeiro (CCT/UENF).

Dentre as ações possíveis para a melhoria do transporte público, ele defendeu a cobrança de tarifas para aqueles que utilizam veículos próprios para se locomover e ações que facilitem o transporte ativo, como caminhadas e bicicleta. “Temos que pensar no transporte público como algo mais amplo. De que adianta pavimentar ruas e deixar as calçadas estragadas? É preciso melhorar as calçadas, arborizar as ruas, criar ciclovias. O transporte público precisa estar alinhado com o planejamento urbano, um ajudando o outro. Nós precisamos desenhar uma rede de linhas que atenda às necessidades da população e também ao potencial da cidade que precisa ser desenvolvida. Ou seja, atender à população, mas também àquilo que o planejamento urbano quer que a cidade se transforme”, disse.

Professor Rômulo Dante Orrico Filho do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da UFRJ.

A professora Lúcia Mendonça Previato foi destaque no terceiro dia de Congresso. Graduou-se em História Natural pela Universidade de Santa Lúcia, possui doutorado em Ciências com Ênfase em Microbiologia pela UFRJ, e realizou estágios de Pós-Doutorado no Canadá, Estados Unidos e na França. Atualmente é Professora Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem experiência na área de glicobiologia e bioquímica de microrganismos, com ênfase em tripanosomatídeos, fungos e bactérias endofíticas fixadoras de nitrogênio, e na caracterização de glicofenótipos por espectrometria de massas (glicoma) e espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN).

A palestra foi intitulada “Contribuição das ciências básicas na meta de desenvolvimento sustentável que visa o controle de doenças negligenciadas. O exemplo da doença de Chagas”. A mediação foi feita pela professora Valdirene Moreira Gomes, assessora de Pesquisa e Pós-Graduação da UENF.

Lúcia Mendonça Previato, Professora Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

“As doenças negligenciadas são doenças que afetam populações que vivem na pobreza, sem saneamento e em contato com vetores, cujo controle se dá através de políticas públicas. A Doença de Chagas é uma destas doenças negligenciadas, acarretando em um dos maiores impactos socioeconômicos na América Latina. Estima-se que a queda de produtividade em virtude da Doença de Chagas seja da ordem de U$ 1,2 bilhão/ano. Hoje existem de oito a dez milhões de pessoas infectadas em áreas endêmicas e 300 mil em áreas não endêmicas, número que vem subindo. A pesquisa básica tem sido muito importante e esperamos que as etapas de transformação das pesquisas básicas em novos medicamentos e uma vacina venham em breve”, destacou.

O professor Hervé Théry da Universidade de São Paulo foi o palestrante no último dia do CONFICT. O professor possui graduação em História e em Geografia e atualmente é professor visitante do Programa de pós-graduação em Geografia Humana da USP. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Regional, atuando principalmente nos temas: geografia do Brasil, geografia política, cartografia temática e modelização gráfica.

Professor Hervé proferiu palestra com o título “Aportes da cartografia temática ao conhecimento das desigualdades e dinâmicas territoriais no Brasil”. Segundo ele, a ideia é ver em que medida a cartografia que coloca em prática e que ensina aos seus estudantes pode ajudar como metodologia de pesquisa científica.

“Não é só uma cartografia ilustrativa, é uma cartografia como metodologia de pesquisa a serviço da geografia e das ciências sociais. Nós usamos a cartografia ilustrativa como ferramenta de dados”, destacou o professor.

O palestrantes apresentou ainda outras aplicações da cartografia em temas como trabalho escravo, disseminação da epidemia da Covid 19, distribuição de renda e ações como as medidas de auxílio emergencial.

“Temos uma abordagem mais ampla do sistema de informação geográfica com visão mais expressiva do relevo do Brasil. A geografia tem que ficar com os pés no chão no que tange ao relevo, clima, vegetação e meio ambiente em geral, determinantes que deveriam ser protegidos. Além disso, a dinâmica geográfica da população mudou muito nos últimos 30 anos. Dados mostram que houve uma concentração maior do número de pessoas no litoral e nas grandes cidades como Manaus e São Paulo”, declarou.

Outro ponto destacado pelo professor Hervê foi sobre a “Violência contra a Terra”, mortes em conflitos fundiários. “Na Zona da Mata do Nordeste e Sul da Bahia, são registrados inúmeros casos de mortes violentas causadas por conflitos fundiários. Podemos também destacar as mortes por homicídio em que se registra 60 mil mortes por ano nas cidades e nos campos”, relatou o palestrante.

Professor Hervé Théry da Universidade de São Paulo