Mulheres da UENF na transformação da Ciência

Quando a NASA conseguiu mandar o homem ao espaço, na década de 60, mulheres negras enfrentaram o preconceito e tiveram papel fundamental ao contribuir nos cálculos matemáticos para as trajetórias orbitais. Esse exemplo mostra que a contribuição da mulher na Ciência extrapola continentes e áreas do conhecimento. Em homenagem a mulheres cientistas de talento, garra e vontade de vencer, a Revista Conhecendo a Ciência preparou uma edição especial pelo Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, 11 de fevereiro, e pelo Dia Internacional da Mulher, 8 de março.

Na UENF, as mulheres cientistas contribuem para o avanço da Ciência e a transformação da sociedade. A Universidade tem, atualmente, 297 professores e 103 são mulheres, o que representa 34% do corpo docente. Na área discente, a situação é diferente. Na Graduação presencial, elas representam 56%. Já na Graduação a Distância, 78% são mulheres; e na Pós-Graduação, 56% são pesquisadoras.


Na liderança – Mulher e negra, a campista e atual vice-reitora da UENF, professora Teresa de Jesus Peixoto Faria, nunca deixou com que os preconceitos sofridos se tornassem barreiras. “Sempre os enfrentei com força e coragem. Já tive que bater na mesa para ser ouvida”, afirma. Na UENF, ela também exerceu outros cargos de liderança como coordenadora do curso de Ciências Sociais, chefe do Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico (LEEA) e diretora do Centro de Ciências do Homem (CCH).

Vice-reitora da UENF e professora Teresa de Jesus Peixoto Faria

Arquiteta de formação, Teresa fez Pós-Graduação latu sensu em História da Arte e Arquitetura do Brasil, na PUC-Rio, e depois Doutorado em Paris, na França. “Nunca idealizei ser uma cientista. Minha monografia sobre história da arquitetura residencial em Campos dos Goytacazes foi o meu primeiro trabalho científico. Mas não a escrevi com essa intenção, queria apenas aprofundar meus conhecimentos para trabalhar profissionalmente. Mas dela muitas indagações surgiram”, reflete.

O curso de doutorado na Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, foi decisivo, e a tese nasceu de uma indagação, quase que de uma indignação: por que toda a história de Campos, todo seu patrimônio, a construção da cidade, só era explicada a partir da cana-de-açúcar e dos senhores de engenho, mais tarde usineiros? “A tese aprovada com a menção très bien avec félicitations me conferiu o título de doutora em estudos urbanos, reconhecido pela UFRJ como doutorado em Geografia. Assim, me transformei numa cientista, da área das Ciências Humanas e Sociais”, revela Teresa, que este ano completa 20 anos de UENF.

Ela considera sua maior conquista como cientista ter ingressado na UENF, uma das melhores Universidades do Brasil e de reconhecimento internacional. “Além disso, realizei o meu compromisso com a CAPES, de ser docente, pesquisadora e participar de um Programa de Pós-Graduação e da formação de mais cientistas, concorrendo para o avanço e reconhecimento das Ciências Humanas e Sociais no Brasil. Considero importante participar, não só com minha produção científica, mas com ações concretas para a preservação da memória histórica das cidades e para a construção de cidades mais igualitárias, especialmente, Campos”, enfatiza Teresa Peixoto.


Da Rússia ao Brasil – Em 1994, a professora Lioudmila Aleksandrovna Matlakhova veio para o Brasil acompanhar o marido, o cientista e professor da UENF Anatoliy Nikolaevich Matlakhov, falecido em 2011, que fazia parte de um grupo de especialistas russos convidados pela UENF, com o objetivo principal de desenvolver uma nova tecnologia de produção de diamantes sintéticos. Os anos passaram e Anatoliy se tornou docente concursado da Universidade. Cinco anos depois, Lioudmila, que já tinha doutorado cursado no Instituto de Metalurgia da Academia da Ciência da União Soviética, também tornou-se professora da UENF.

A pesquisadora Lioudmila Aleksandrovna Matlakhova veio ao Brasil acompanhar o marido e se tornou professora da UENF

Em casa, Lioudmila teve os exemplos dos pais, que também eram cientistas.  Na infância, ela visitava os laboratórios onde eles trabalhavam e acabou se apaixonando pela pesquisa. Terminando a escola, ela ingressou no Instituto de Aço e Ligas, na Faculdade de Física-Química dos Processos Metalúrgicos e logo atuou no laboratório.

Apesar de trabalhar em uma área em que a participação dos homens é majoritária, a pesquisadora afirma que nunca sofreu preconceito.  “Eu tento aprimorar e valorizar minhas capacidades, me adequando à realidade. E valorizo muito a capacidade e qualidade dos meus colegas e orientadores. E também dos meus alunos”, comenta.

Para ela, a importância das mulheres na ciência cresce muito rápido, pois não faltam inteligência, criatividade, paciência e organização.  Como cientista, a maior conquista foi no tempo do Doutorado, quando Lioudmila pesquisou várias ligas à base de um composto intermetálico, variando sua composição química com tratamentos térmicos e termoquímicos e estudando as alterações na estrutura e nas propriedades físicas e mecânicas. Ela conseguiu mostrar que estas ligas sofrem transformações reversíveis e podem apresentar vários efeitos não elásticos.

“Recentemente, eu e meus antigos colegas do Instituto em Moscou publicamos um livro tendo como base um capítulo da minha tese de Doutorado. O conhecimento adquirido ainda nos anos 80, me permite atualmente entender melhor processos ocorridos em outras ligas e materiais, que sofrem transformações de fase. Por isso, eu considero este trabalho como maior minha conquista como cientista”, declara a pesquisadora Lioudmila.

Por Francislaine Cavichini

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