A educação superior em tempos de discursos anti- ciência

Encerrando o ciclo de conferências do XIII CONFICT & VI CONPG, a Profa. Alice Ribeiro Casimiro Lopes, doutora em educação, trouxe para discussão a visão de parte da população em relação às universidades enquanto instituições. O tema, extremamente oportuno dado o contexto pandêmico que evidenciou um problema antigo na sociedade brasileira, foi apresentado a 311 participantes simultâneos pelo Zoom e 35 via Youtube. No presente momento, a palestra possui 183 acessos à gravação disponível no YouTube da Galoá Science.

Profa. Dra. Alice Ribeiro Casimiro Lopes    

A Profa. Alice iniciou a conferência expondo alguns fatos a respeito da educação na pandemia, uma vez que essa realidade acelerou um processo que já estava em andamento: a inserção da tecnologia no meio educacional de forma mais intensa. Uma realidade projetada para anos à frente, tornou-se parte do cotidiano de profissionais e alunos em questão de meses. Reinvenção é a palavra que define essa trajetória.

Ao provocar a reflexão a respeito da adaptação de todos a uma realidade totalmente nova, a professora frisou a diferença entre Educação a Distância e Ensino Remoto. O que conhecemos como EaD é, na verdade uma proposta totalmente diferente do que se tem visto nas salas de aula virtuais durante a pandemia. O Ensino Remoto é uma modalidade que se refere à simultaneidade, enquanto o Ensino a Distância trabalha de forma assíncrona, ou seja, por meio de vídeos e materiais pré- preparados, não sendo comum o contato direto entre alunos e professores.

“Apesar do fato de termos sido levados por uma educação remota por meio   de uma pandemia, que é uma grande tragédia na vida de todos nós, é muito importante pensarmos o que essa modalidade de ensino nos trouxe de produtivo para a nossa vida. O fato de termos mais encontros virtuais, de conseguirmos juntar alunos de diferentes estados em uma aula, de termos ampliado a funcionalidade das lives, dos podcasts e de outras ferramentas é uma grande conquista”, disse a Profa. Alice. Neste momento, precisamos valorizar aquilo que passamos quase dois anos aprimorando, pois foi dessa forma que as instituições conseguiram dar continuidade aos seus importantes trabalhos, fomentando a produção de conhecimento.

Em contrapartida, a professora revela que é constantemente questionada a respeito do quão democrática é a modalidade de ensino remoto, uma vez que nem todos possuem acesso à tecnologia   necessária   para conduzir seus estudos nessas condições. Em resposta a esses questionamentos, a Profa. Alice é direta: “A pandemia não inventou a desigualdade. Ela sempre existiu.” A desigualdade de acesso aos processos educacionais é uma pauta latente na sociedade, pois morar distante da faculdade/escola, a ausência de equipamentos e livros, a ausência de contatos, viagens e outros meios de enriquecimento sociocultural é uma problemática enfrentada por milhares de estudantes. A pandemia evidenciou, dentre muitas coisas, o quão grave é essa situação.

Mesmo com todos esses desafios e as conquistas adquiridas até aqui, como a universidade e a escola enquanto instituições vêm sendo tratadas?

É nítido o quanto a produção de conhecimento tem sido atacada e desmerecida por movimentos   reacionários do nosso país. Movimentos esses que difundiram um discurso de que essas instituições, em geral, servem ao propósito de disseminar ideologias ligadas à uma corrente política específica. A Profa. Alice alerta   que   esses   ataques   vêm   associados a cortes nos investimentos de ciência e tecnologia e ao desmonte de instituições de fomento como o CNPq. É importante notar que esses discursos não surgiram agora. Eles foram construídos como base de um plano político muito maior.

É muito importante pensar que, independente do governo que esteja em vigor,    ainda     será     necessário     combater o discurso anti-ciência.   Esse   é mais um dos desafios que a universidade terá que enfrentar.

Segundo a professora, precisamos não só defender a ciência, mas também questioná-la com o objetivo de torná-la mais clara e acessível. “A tentativa com a qual eu venho trabalhando em conjunto com outros autores busca discutir essa ideia da defesa da ciência e de como a questionamos, não a encarando como algo ligado à verdade, mas a ciência ligada aos efeitos que ela produz, às performances positivas que gera e aos resultados que ela alcança. Cada vez mais, em tempos recentes, a gente precisa discutir para que serve e a quem interessam os resultados de todas as nossas pesquisas e daquilo que produzimos.” relata a Profa. Alice.

Como    finalização     de     seu     pensamento, a professora incita a continuação da disseminação do conhecimento por meio das ferramentas e plataformas que aprendemos a usar durante a pandemia, pois, dessa forma, será possível ampliar o contato, divulgando e discutindo o que as instituições vêm produzindo.

Profa. Marilvia Dansa de Alencar, coordenadora do PIBi-UENF e moderadora da palestra; Marianna Batista, interprete de Libras; Profa. Alice Ribeiro Casimiro Lopes, palestrante    

 

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