Solidariedade. Com esta palavra, o professor Sávio Freire Bruno, da Universidade Federal Fluminense (UFF), definiu o que é, em sua essência, a extensão universitária, ao proferir a palestra de abertura da XVI Mostra de Extensão UENF-UFF-IFF & VIII UFRRJ na noite de ontem (21/10/24). Com a experiencia de quem pratica extensão há 20 anos, Sávio encantou a plateia — formada por alunos, professores e bolsistas de extensão — ao abordar com muita sensibilidade o tema central do evento: “Brasil e suas diversidades – Extensão como interação e transformação social”.
Ressaltando que “o saber sem ação é uma semente que não recebeu nem uma gotinha de água”, ele disse que a extensão universitária tem o papel de irradiar o conhecimento adquirido dentro da universidade. Para o professor, a verdadeira extensão universitária requer independência em relação às pressões de mercado, liberdade e autonomia para criar e agir.
— A extensão se traduz em ações que extrapolam os muros das universidade e interagem com a sociedade, partilhando conhecimentos e ações conjuntas em prol de um mundo mais lúcido e comprometido com ações cidadãs, um mundo justo e equilibrado social e ambientalmente. E quando a gente fala numa sociedade mais justa, a gente fica bastante sensibilizado, porque normalmente os limites das universidades são divididos com comunidades vulneráveis, com uma injustiça social histórica, com a falta de oportunidades. Precisamos lutar por uma sociedade mais justa para todos — disse.
Sávio discorreu sobre o tema central do evento: “Brasil e suas diversidades: a extensão como interação e transformação social”, ressaltando que o país possui a maior biodiversidade do planeta — cerca de 12%, ou cerca de 120 mil espécies da fauna e 50 mil da flora. Ao abordar as espécies ameaçadas no território brasileiro — um total de 1.249, segundo a última lista oficial do Ibama, de 2022 — o professor afirmou que, na realidade, não são as espécies que estão ameaçadas, mas os biomas.
Segundo afirmou, os biomas brasileiros estão gravemente ameaçados por desmatamentos, mudanças climáticas, atropelamento da fauna, poluição dos rios e mares, agronegócio, caça, incêndios florestais, crescimento urbano desordenado, posse e consumo de animais silvestres etc. Cerca de 475 milhões de vertebrados são mortos anualmente nas rodovias brasileiras, e não há um programa efetivo de mitigação de atropelamento.
Ele observou que a destruição dos habitats com a entrada de populações humanas em áreas antes florestadas é a principal causa de pandemias. É o chamado spillover. (Trata-se do fenômeno em que um vírus ou micróbio consegue se adaptar e ir de um hospedeiro a outro, como o que deu origem à Covid-19, em que o vírus SARS-CoV-2 migrou de morcegos para seres humanos).
— Estamos convivendo com tantas enfermidades por não respeitar os nossos biomas. Infelizmente, estamos caminhando no sentido inverso do compromisso que o Brasil firmou na Conferência de Paris recentemente para diminuir a emissão de gases. Estamos vendo áreas de florestas passando por processo de desertificação. Sem diversidade biológica não há vida — disse.
Graduado em Medicina Veterinária, Biologia Marinha, Biologia e Geografia, Sávio tem pós-graduação em Planejamento Ambiental/Educação Ambiental e Biologia. É mestre em Medicina Veterinária e Ciência Ambiental e doutor em Medicina Veterinária.
A Mostra prossegue nesta terça com apresentações de trabalhos, eventos culturais e palestra com o professor José Antônio Sepúlveda (UFF) sobre o tema “Laicidade e Educação: problematização da relação entre religião e escola”, a partir das 16h30.
Veja a programação completa no site do evento AQUI.
(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri)