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Na última quinta-feira, 20/02/25, a Casa de Cultura Villa Maria sediou o I Simpósio Temático, um evento que reuniu pesquisadores, estudantes e profissionais interessados em debater cultura e diversidade a partir da valorização do patrimônio cultural brasileiro. Com uma programação diversificada, o simpósio contou com palestras, mesas-redondas e apresentações de trabalhos acadêmicos que abordaram diferentes perspectivas sobre o tema.
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Abertura e Boas-Vindas
A cerimônia de abertura foi conduzida pelo diretor de Cultura da UENF Giovane do Nascimento, que destacou a importância da Casa de Cultura Villa Maria como um espaço de valorização e fomento à cultura.
Em diálogo com o discurso do professor Giovane, o coordenador da Pós-Graduação em Cognição e Linguagem, professor Carlos Henrique Medeiros de Souza, e os professores Eliana Crispim F. Luquetti e Sérgio Arruda de Moura, ressaltaram a importância da Villa Maria como espaço de discussão e troca de conhecimento no campo da cultura, ao fortalecer e aproximar a academia e a sociedade, um dos compromissos centrais da universidade.
Debates e Reflexões
O evento contou com mesas-redondas que abordaram a temática “Cultura, Patrimônio, Educação e Diversidade”, promovendo reflexões sobre os desafios e potencialidades das tradições culturais no Brasil.
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Mesa-redondas
Pela manhã a mesa-redonda trouxe para a discussão o campo do patrimônio cultural negro e indígena como processo político de resistência. Mediada pelo professor Giovane do Nascimento, a mesa contou com as especialistas Andrea Lúcia da Silva Paiva (UFF), Elaine Monteiro (UFF) e Fernanda Vieira Sant’Anna (UEMG), que destacaram o reconhecimento do Jongo do Sudeste como Patrimônio Imaterial e os desafios enfrentados pelas populações indígenas não aldeadas, que seguem invisibilizadas por políticas públicas e pelo imaginário social que associa a identidade indígena exclusivamente aos territórios demarcados. As falas ressaltaram a urgência de ampliar as discussões sobre o patrimônio imaterial como instrumento de valorização e resistência.
A segunda mesa-redonda, realizada no período da tarde, mediada pela professora Joelma Andreão de Cerqueira (UFMG), reuniu Marileide Gonçalves França (Ufes), Niciane Estevão Castro (Secretaria de Cultura do Ifes), Rosimar Silva Domingos (Grupo Cultural do Horizonte) e Genildo Coelho Hautequestt (Associação do Patrimônio Imaterial Cachoeirense). Em um diálogo ativo com os agentes culturais, a mesa trouxe falas potentes sobre “Cultura, Educação e Diversidade”, enfatizando o papel ativo dos grupos culturais na preservação da memória e identidade afro-indígena e o envolvimento das instituições de ensino nesse processo.
Os participantes ressaltaram a necessidade de políticas públicas que garantam a transmissão intergeracional dos saberes tradicionais, além de uma maior integração entre as escolas, universidades e os grupos culturais na construção de uma educação antirracista e decolonial.
Roda de conversa acadêmica
Com debates aprofundados e participação ativa do público, o simpósio contou ainda com três Rodas de conversas acadêmicas, que oportunizaram a troca de experiências entre pesquisadores e agentes culturais, abordando trabalhos no campo da música, cultura afro-brasileira e indígena, meio ambiente e relações étnico raciais, entre outros. Ao todo foram apresentados 44 trabalhos acadêmicos em modalidades de roda de conversa e banners que expuseram trabalhos acadêmicos de relevância no campo das políticas culturais e educacionais do país.
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Cultura Viva
O Simpósio foi marcado por um momento de conexão com a ancestralidade e a cultura afrodiaspórica: uma roda de caxambu coletiva, realizada pelo Grupo Cultural Caxambu do Horizonte de Alegre/ES, com os mestres Daú da Silva e Ilson da Silva Domingos, e pelo Grupo Caxambu da Santa Cruz, da Comunidade Quilombola de Monte Alegre de Cachoeiro de Itapemirim/ES, sob a condução da mestra Maria Laurinda Adão.
Os mestres caxambuzeiros e seus brincantes oportunizaram uma experiência de interação e troca de saberes ancestrais, reafirmando a potência do caxambu como espaço de resistência, memória e celebração da cultura negra. Ao som dos tambores que ecoaram força e tradição, a roda tornou-se um espaço de vivência coletiva, onde o corpo, a música e a espiritualidade se entrelaçaram.
Defesa de tese
Um dos pontos mais marcantes do evento foi a defesa de tese da agora doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem (PPGCL) do Centro de Ciências do Homem – UENF, Jacyara Conceição Rosa Mardgan, com o trabalho intitulado “A Magia do N’goma: ecos, saberes e tradições afrodiaspóricas nas rodas de caxambu”.
Com uma apresentação ‘envolvente, encarnada, incorporada e atrevida’, como a própria autora definiu seu trabalho, Jacyara Mardgan propôs uma Epistemologia Caxambuzeira, abordando a cultura negra brasileira como processo de conhecimento, a partir do caxambu, e a urgência de ações efetivas no enfrentamento aos epistemicídios que marcam a formação social e educacional do país.
O debate foi enriquecido pela participação de uma banca de especialistas, composta pelas professoras Andrea Lúcia da Silva Paiva (UFF), Elaine Monteiro (UFF), Fernanda Vieira Sant’Anna (UEMG) e Marileide Gonçalves França (UFES). As discussões abordaram temas centrais, como o registro e reconhecimento dos jongos e caxambus como Patrimônio Cultural do Brasil, e o papel das ações afrocêntricas e decoloniais na educação brasileira como estratégias antirracistas para a mitigação e erradicação do racismo no país.
Segundo a pesquisadora Jacyara Mardgan, “a intenção da pesquisa é tensionar a academia reafirmando a potência das epistemologias afrodiaspóricas que seguem presentes em expressões culturais como o caxambu, chamando atenção para a necessidade de ampliação dos espaços acadêmicos para essas narrativas e saberes.”
Interação e Impressões do Público
Os participantes elogiaram a organização e a qualidade das discussões promovidas ao longo do evento, destacando a relevância dos temas abordados e a riqueza das trocas proporcionadas.
Para Liziete Oliveira, participante do Grupo Cultural do Horizonte, “todo o simpósio foi emocionante e necessário”, reforçando a importância de espaços que valorizam a cultura e a memória afro-brasileira.
Já para Iago Santos, estudante da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), o evento representou uma oportunidade de ampliar conhecimentos e trocar experiências com outros pesquisadores. Ele ainda enfatizou: “O dia foi de muita emoção e aprendizado”.
Encerramento e Perspectivas para o Futuro
O simpósio teve um total de 97 participantes inscritos e 44 trabalhos acadêmicos apresentados. O professor Giovane do Nascimento destacou que o sucesso desta edição abre caminho para novas iniciativas, reforçando que já existem planos para tornar o simpósio um evento regular no calendário da Casa de Cultura Villa Maria.
(Fonte: Casa de Cultura Villa Maria)