Zezé Motta recebe o título de Doutora Honoris Causa da UENF

A reitora da UENF, Rosana Rodrigues, entregou o título de Doutora Honoris Causa da UENF à atriz e cantora Zezé Motta

Foi cantando um de seus antigos sucessos, “Cana Caiana“, que a atriz e cantora Zezé Motta — surpreendendo a todos na plateia — agradeceu o título de Doutora Honoris Causa da UENF, na noite de ontem (19/08/25), durante a cerimônia de abertura do I Festival Internacional Goitacá de Cinema, no Centro de Convenções Oscar Niemeyer. O título foi entregue pela reitora da UENF, professora Rosana Rodrigues.

Cantando à capela, Zezé contagiou o público com versos que falam de sua infância nos canaviais da Usina de Barcelos: “(…) Meu rumo foi traçado na palma de uma palmeira / na beira do paraíba do sul / brinquei nos canaviais / sou cana caiana / sou nega cigana, dona dos canaviais (…) / sou ouro negro de Campos, dona dos canaviais (…)”. A plateia, que lotou o auditório, acompanhou de pé, batendo palmas, num momento de grande emoção.

Zezé Motta foi a primeira personalidade a receber o título de Doutora Honoris Causa da UENF. Segundo o Regimento Interno da UENF, o título é concedido a “personalidades que se tenham distinguido, seja pelo saber, seja pela contribuição fundamental à consolidação da instituição acadêmica, seja pela atuação em prol das Artes, das Ciências, da Filosofia, das Letras ou de melhor entendimento entre os povos”.

Ela falou da felicidade e grande emoção por participar do encontro em sua “terrinha amada, Campos dos Goytacazes”. E, com bom humor, lembrou de um episódio em que sanjoanenses cobraram um pedido de desculpas pelo fato de Zezé se autointitular “campista”.

— Disseram que eu nasci do outro lado da linha do trem, portanto, não sou campista, mas sanjoanense… — disse.

Zezé lembrou que, em sua trajetória de 60 anos de carreira, interpretou mais de 100 personagens, destacando, entre outros papeis, o que chamou de sua “fada madrinha”, Xica da Silva — filme lançado em 1976, dirigido por Cacá Dieguez, que rendeu a Zezé o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília, alavancando sua carreira.

— Graças a Deus estou aqui, na cidade onde nasci, com 81 anos de vida, 60 de carreira e mais de 100 filmes. É um momento que me faz refletir sobre minha trajetória — disse Zezé, dedicando o título a diversos cineastas, entre eles Cacá Dieguez, Arnaldo Jabor e Nelson Pereira dos Santos.

Zezé enalteceu o papel das mulheres no cinema hoje, chamando também a atenção para a luta das mulheres negras no Brasil. A atriz e cantora afirmou que sua carreira foi marcada pela busca da representatividade e pelo combate ao preconceito.  

— Todos os dias ao acordar eu repito  uma frase que minha saudosa amiga, guru e professora  me disse: “não temos mais tempo para lamúrias. Precisamos arregaçar as mangas e  virar o jogo”. Palavras de Lélia Gonzalez. Eu digo isso sempre como  mantra todos os dias. Pra me lembrar da importância da nossa voz e do nosso posicionamento numa sociedade desigual. Ser uma mulher negra no Brasil é,  por si só, um ato de resistência  diária — afirmou.

E acrescentou:

— Mas ser uma mulher preta que conseguiu se firmar no cenário artístico  desafiando estereótipos e conquistando espaços  é uma vitória que carrego comigo e, junto a mim,  todas as mulheres que vieram antes.  Esta homenagem é um símbolo de que estamos todos juntos  nessa caminhada. Muito obrigada, vida longa para esse festival!

A reitora Rosana Rodrigues, ao lado de Zezé Motta e do diretor do Festival, Fernando Souza (à direita) e de Gabriel Barbosa (produtor executivo)

Ao participar da cerimônia de abertura do Festival, a reitora Rosana Rodrigues parabenizou a iniciativa, ressaltando que a semente plantada por Darcy Ribeiro deixou frutos.

— Esse evento já nasce histórico, deixando um legado muito precioso. Um festival internacional goitacá de cinema em sua primeira edição. É uma programação potente e intensa. Traz o cinema de volta para o foco desta universidade, desta cidade e do nosso pais, valorizado a cultura e a arte. Sediar esse evento resgata um pouco da nossa história, e do nosso histórico. Estamos na UENF, idealizada por Darcy, concretizada por Leonel Brizola e desenhada por Oscar Niemeyer — disse.

A reitora destacou que Darcy Ribeiro não via o cinema apenas como arte, mas como uma poderosa ferramenta de educação e transformação social.

— Ao criar a UENF pensada como a universidade do futuro, ele viu a cultura e o audiovisual com um lugar especial. A proposta da Escola de Cinema, que ainda hoje é um campo das ideias e dos sonhos, é uma parte viva desse legado.  Ele deixou isso para nós concretizarmos. Hoje, tempo em que defender a soberania nacional se tornou ainda mais inegociável, ao abrir esse festival, honramos Darcy Ribeiro, esse grande  brasileiro que muito contribuiu para nossa  historia de liberdade e democracia e reafirmamos a crença no cinema, na cultura e nas artes como força de emancipação humana e social. Darcy, nós ainda estamos aqui — disse.

A mesa de abertura teve ainda a participação de Fernando Souza (diretor geral do Festival), Gabriel Barbosa (produtor executivo do Festival), Joca Ferreira (assessor especial da Presidência do BNDES), Wladimir Garotinho (prefeito de Campos dos Goytacazes), Giovane do Nascimento (diretor de Cultura da UENF), David Maciel (coordenador do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UENF), José Ronaldo Alves da Cunha (presidente da Fundação Darcy Ribeiro), Fátima Pacheco (coordenadora de Parcerias Regionais da Embratur), Taíla Borges (superintendente do Audiovisual da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro) e Patrícia Cordeiro (secretaria de Turismo de Campos dos Goytacazes).

(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri – Fotos: Cassiane Falcão – ASCOM/UENF)

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