As mulheres da Villa

Casa de Cultura Villa Maria

O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, foi criado pela ONU em 1970 para marcar a luta das mulheres pela plena igualdade de direitos com os homens. Muitas mulheres se destacam na história de Campos dos Goytacazes, e uma delas está intimamente ligada à história da UENF: Maria Queiroz de Oliveira, a Finasinha, que em 1970 doou sua residência, o palacete Villa Maria, para a primeira universidade que se instalasse em Campos.

Inaugurada em 8 de dezembro de 1993, a Casa de Cultura Villa Maria traz em sua história a participação ativa e fundamental de muitas outras mulheres. Cada uma a seu modo, e em momentos distintos dos 30 anos de vida da Casa de Cultura Villa Maria, elas ajudaram a manter vivo o sonho de Finasinha.

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a Diretoria de Cultura da UENF presta uma homenagem às “Mulheres da Villa”, que tanto contribuíram para que a Casa de Cultura fosse hoje uma realidade no cenário cultural campista.

Finasinha

A história da Casa de Cultura Villa Maria começa pelas mãos de uma campista à frente de seu tempo: Maria Tinoco Queiroz — a Dona “Finasinha”. Ou, para muitos que a conheceram, a “Rainha da Bondade”, epíteto que ganhou devido a suas ações beneméritas na cidade.

Filha de Benedito de Azevedo Queiroz e Teresa Linhares Tinoco Queiroz, donos de uma casa bancária situada na Praça São Salvador (onde hoje está o prédio do Banco do Brasil), Maria Queiroz recebeu o apelido de Finasinha quando pequena, por ter nascido no dia de Finados. Nascida em 1887, na chácara da família, localizada na rua Gil de Góis, Finasinha era herdeira de algumas das famílias mais ricas de Campos do século XIX: Queiroz, Tinoco, Gregório e Linhares.

Formou-se professora na Escola Normal de Campos, que na época funcionava no Liceu de Humanidades. Quando tinha 19 anos de idade, casou-se com o engenheiro e industrial Atilano Chrisóstomo de Oliveira, dono das usinas Mineiros e São Pedro do Paraíso.

Em 1918, Atilano mandou construir o palacete Villa Maria como um presente para a esposa. Em estilo eclético, inspirado nas antigas vilas italianas, a casa foi projetada pelo arquiteto José Benevento, o mesmo que projetou o Palácio Nilo Peçanha (antigo Fórum) e a Catedral.

O palacete foi palco de grandes festas, com a presença de autoridades. Uma delas foi o presidente Getúlio Vargas, que foi recebido duas vezes no local. O então presidente participou de banquetes e chegou a aparecer do alto da sacada, saudando o público do lado de fora da casa. Outra festa concorrida foi o casamento da filha do casal, Alice, que contou com comemorações para todas as classes sociais.

Ao ficar viúva, em 1944, Finasinha assumiu o comando de todos os negócios do marido — empresas, usinas e imóveis. Notabilizou-se por participar e promover eventos sociais e culturais. Um destes eventos foi a Festa do Açúcar, na qual era escolhida a “Miss Usina”, evento que ocorria em agosto, durante a Semana do Santíssimo Salvador. Era comum a presença de autoridades federais, convidadas pessoalmente por Finasinha.

Palacete Villa Maria na década de 1950
(Fonte: Blog “Eu penso que…”)

Ao mesmo tempo que tinha prestígio entre os poderosos, Finasinha atuava junto aos pobres. Costumava distribuir presentes todos os Natais, quando filas imensas se formavam em frente ao portão de sua casa. Também ajudava inúmeras entidades beneficentes de Campos. Foi escolhida como “madrinha” do Liceu de Humanidades de Campos, Polícia Militar, Associação de Imprensa Campista e Lira de Apolo.

A vida de Finasinha sofreu um revés com a perda de sua única filha, Alice, em abril de 1970. Aparentemente, ela não conseguiu superar a perda, pois faleceu apenas alguns meses depois, em 18 de dezembro de 1970, aos 83 anos de idade. Alice não tivera filhos e Finasinha decide, antes de falecer, doar o palacete onde viveu por 52 anos à futura universidade de Campos. Vinte e três anos depois,  era inaugurada a UENF, e o sonho de Finasinha pôde, enfim, ser realizado. O palacete passou a sediar, desde então, a Casa de Cultura Villa Maria, centro cultural da Universidade.

As mulheres da Casa

Marilene Reid

A servidora Marilene Reid acompanhou o início do funcionamento da Casa de Cultura Villa Maria, no final de 1993. Nesta época, a Casa era dirigida pela professora Elizabeth Campista. Atualmente lotada na Secretaria Acadêmica da UENF, Marilene lembra que, ao ingressar na Villa, tinha grandes expectativas em relação à proposta da Casa, de ser o braço cultural da Universidade, atuando como um veículo de integração entre o universo acadêmico e a sociedade.

— Em pouco tempo, a Casa atingiu a sua efervescência cultural, oferecendo  atividades variadas ao público. Recebia muitos visitantes, de todas as idades. Ouvíamos histórias de pessoas que conheceram Finasinha, outras que ouviram contar, mas também contávamos a história da casa aos visitantes. Isso nos dava muito orgulho. Lembro também que algumas pessoas ficavam inibidas em entrar na Villa e perguntavam se realmente podiam entrar. A beleza arquitetônica da casa nos encanta até hoje — conta.

Lídia Larrubia

A servidora Lídia Larrúbia Granja Moreira passou no concurso da UENF e foi designada para a Casa de Cultura Villa Maria em 2002. Atuando desde 2021 no Centro de Ciência e Tecnologia da UENF (CCT), Lídia ressalta que, durante o período em que trabalhou na Villa, pôde aprender muito sobre a cultura local.

— Tive a honra de conviver na minha chegada com o então diretor da Casa, João Vicente Gomes de Alvarenga, com quem aprendi muito sobre a cultura campista. Fiquei na Casa até a minha transferência para o campus da UENF, logo após a gestão da professora Simone Teixeira. Também foi um período de grande aprendizado, porque ela é uma pessoa generosa e compartilha seu conhecimento de forma simples. Considero que foi uma  experiência extraordinária — afirma.

Simonne Teixeira em frente à Casa de Cultura Villa Maria

Professora do Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico da UENF (LEEA),  Simonne Teixeira foi diretora da Casa de Cultura Villa Maria de 2016 a 2019. Sua gestão ocorreu oito anos após um período em que a Casa ficou sem diretor. Foi uma época de falta de recursos financeiros, em que uma das maiores dificuldades foi motivar os funcionários da Casa.

— Encontrei um cenário desolador, principalmente com relação as pessoas que trabalhavam, algumas há muitos anos, na casa. No geral, os servidores não possuíam formação em gestão cultural e estavam adaptados a uma rotina de manter a casa e os acervos com dedicação e perseverança. Minha sensação era que tudo estava abandonado, a casa, as pessoas e os acervos, apesar do empenho coletivo de continuar suas tarefas — diz Simone.

Ela conta que sua primeira preocupação foi criar formas de atrair os servidores para os projetos que começavam a ser desenvolvidos, voltados para a manutenção  do acervo e aquisição de novos acervos e, principalmente, par dar visibilidade ao conjunto documental (fonográfico, audiovisual e documental).

— Não tínhamos recursos, e a casa apresentava inúmeros problemas estruturais. Neste período criamos projetos de extensão e pesquisa que atraíram discentes, pos-doutorandos e colegas para trazer vida à Casa. Criamos eventos, exposições e programas culturais que projetaram a Villa Maria no cenário cultural da cidade. Foi com muito empenho coletivo, com a colaboração de todos e as bençãos de Finasinha que conseguimos despertar a cidade e a própria UENF para a importância deste espaço cultural — afirma.

Priscila Castro

A professora Priscila Castro, do Laboratório de Ciências Físicas da UENF (LCFIS), assumiu a direção da Cultura da UENF em 2020, permanecendo até 2023. Ela conta que seu maior compromisso foi com a democratização da cultura.

—Tivemos muitas dificuldades neste período. Não é fácil ser uma gestora mulher no Brasil, assim como não é fácil ser uma gestora mulher na UENF, mas ao fim me senti realizada por todo esforço e os resultados obtidos. Ao final da gestão, realizamos um total de 80 ações culturais na Villa e 50 sessões no Cine Darcy. Desta forma, poderia afirmar que no período da minha gestão na CCVM, as iniciativas interuniversitárias foram fundamentais para o fortalecimento do vínculo entre a academia e a comunidade, fomentando o acesso à cultura e à educação — diz.

Ela conta que sua gestão se estruturou em três eixos:  1) gestão dos acervos; 2) assessoramento à obra e posterior reorganização dos espaços da Casa, montagem de exposições e 3) gestão de eventos da Casa e eventos em parcerias.  

— Em um primeiro momento era necessário analisar a trajetória da Casa de Cultura Villa Maria (CCVM) e seu papel na promoção da cultura local e regional, bem como as ações desenvolvidas pela gestão da UENF. Iniciamos uma revisão documental física e digital das gestões da CCVM de 1993 a 2023, visando compreender a evolução histórica das políticas culturais — afirma.

 No período pós-pandêmico, foram realizados diversos eventos com parcerias, exposições, e organização/manutenção do acervo e do prédio e organização do acervo iconográfico para identificar artistas que contribuíram para a cultura local e regional, ampliando a compreensão do papel da CCVM na promoção cultural.

Fontes:

Programa CAMPOS.doc, canal Mult TV, ViaCabo, Campos, exibido em maio de 2014 (Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=48a4afMBgRs )

A Enciclopedia Campista (Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=p4UqEqdE6AA&t=248s )

Blog ‘Eu penso que…’ (http://ricandrevasconcelos.blogspot.com/2008/10/villa-maria.html)



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