Bibliotecas: espaço de conhecimento que se mantém na era digital

Biblioteca do CCH/UENF

Desde que o alemão Johannes Gutenberg inventou a máquina de impressão tipográfica e imprimiu o primeiro livro da História — a Bíblia, em 1455 — iniciou-se uma verdadeira revolução na circulação do conhecimento. Até então, os livros eram manuscritos e a leitura, restrita a uma pequena parcela da população. Com o computador e a internet, a humanidade vive hoje uma outra revolução, com a disseminação dos livros digitais.

Nesta terça-feira, 09/04/2024, quando se comemora o Dia Nacional das Bibliotecas e também dos Bibliotecários, vale destacar que, apesar das novas tecnologias digitais, o livro físico ainda continua ocupando seu lugar de excelência.

— Eu ainda sou pelo livro. Vou defender o livro sempre. Por mais que tenha o digital, nada vai substituir o livro e a leitura —, afirma a assistente de bibliotecária, Vângela Maria Lopes Soares, que tem 40 anos de serviços prestados em bibliotecas, sendo 29 anos destes dedicados à UENF.

Vângela Maria Lopes Soares trabalha na Biblioteca do CCTA/UENF

Esta semana também é a Semana Nacional do Livro. Aliás todo o mês de abril é dedicado aos livros, sendo o dia 18 de abril o Dia do Livro Infantil e o Dia 23 de abril o Dia Mundial do Livro e o Dia do Direito do Autor.

Vângela está desde 1994 na Biblioteca do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias (CCTA), que foi a primeira biblioteca da UENF. Ela conta que os primeiros livros da biblioteca eram em sua maioria em Inglês, doações do professor Joachim Friedrich Wilhelm von Bülow, que participou da implantação da UENF.

— Precisamos resgatar a importância dos livros, das informações em si. A leitura é um fator muito importante para as pessoas, para o conhecimento dos alunos, é uma riqueza muito grande. A cultura a gente adquire, o conhecimento é a sabedoria. Quem lê aprende. O que eu observo é que, por mais que tenha a biblioteca digital, os alunos preferem a biblioteca presencial, gostam de manusear o livro — considera Vângela.

Professor Sérgio Arruda

O  professor da UENF, doutor em Letras, Sérgio Arruda, destaca que a necessidade de encarar um livro impresso para a leitura e frequentar uma biblioteca tem a ver com os requisitos de uma leitura verdadeira de fato. 

— Trata-se de mergulhar no universo daquilo que se está lendo em um ambiente de absoluta concentração. É isto que está faltando na juventude hoje, é isto que atrapalha a leitura. As pessoas não suportam mais nada que dure mais que dois minutos, daí o sucesso das redes sociais. A leitura resulta na imersão total no ambiente que vai ser construído por aquilo que está sendo lido. Nada de fora pode perturbar porque o texto é autossuficiente em trazer o leitor para dentro dele num universo contextual, imerso no texto, e um contextual, tudo aquilo que o texto está relacionando com o lado de fora. Então, a biblioteca ou um quarto de leitura ou um lugar afastado é insubstituível. E a leitura de verdade é aquela leitura concentrada, mesmo que seja em um dispositivo móvel — afirma.

O bolsista do Núcleo de Pesquisas Econômicas do Rio de Janeiro (NUPERJ), doutor em Sociologia Rural, Francis Zanella, de 32 anos, informa que frequenta bibliotecas para estudar pelas condições que elas oferecem. Ele atualmente estuda na Biblioteca do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da UENF.

Francis Zanella é bolsista do NUPERJ e frequenta a Biblioteca do CBB/UENF

— Trabalho na parte da manhã e na parte da tarde fico na UENF para estudar. Aqui tem silêncio, é um ambiente agradável, climatizado. Aqui eu produzo mais do que em casa e quando chego em casa me dá um bem estar de ter produzido — argumenta Francis.

As bibliotecas dos quatros centros da UENF contam com salas para estudos coletivos e cabines individuais. O número total de exemplares das quatro bibliotecas em conjunto é de 107.031 exemplares, sendo 47.594 títulos diferentes, entre livros, revistas, fascículos, TCCs. A biblioteca também possui o acervo Anselmo Macieira e uma sala de computadores para acesso dos estudantes à internet.

Os alunos, professores e técnicos da UENF também têm acesso à Minha Biblioteca, um sistema de livros digitais no formato flipbooks, que são folheáveis, podem ter as fontes ampliadas, têm recurso de acessibilidade com leitura em áudio para pessoas cegas ou com baixa visão e mecanismo de busca nos arquivos por palavras chave. O repositório institucional, onde estão os TCCs e periódicos, tem acesso livre.

A técnica administrativa da UENF, Maria Lúcia Saldanha, observou que, após a pandemia de Covid-19, diminuiu a procura pela Biblioteca do CBB, onde ela atua, e pelos livros físicos.

— Pode ser pela facilidade de baixar livros na internet. Mas a biblioteca tem seus atrativos. Aqui temos wifi, ar refrigerado, silêncio etc — enumera Maria Lúcia.

A mestre e doutoranda em Cognição e Linguagem, professora Roberta Santana Barroso, comenta sobre os fatores positivos e negativos da leitura em telas.

— As transformações na leitura, da página impressa às telas digitais, não apenas alteraram a forma como acessamos o conhecimento, mas também reconfiguraram nossos processos cognitivos, desafiando-nos a repensar a relação entre texto e mente. Como Stanislas Dehaene (2022) aponta em suas pesquisas, essas mudanças podem ser profundamente influentes no desenvolvimento neural e na plasticidade do cérebro. Nesse contexto, as bibliotecas universitárias desempenham um papel crucial como espaços de aprendizado e pesquisa, onde os estudantes podem navegar nesse novo cenário de leitura, combinando recursos digitais e impressos para promover uma compreensão mais profunda do conhecimento — assegura Roberta.

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