CONSUNI aprova título de Doutora Honoris Causa para Zezé Motta

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Na mesma sessão, o CONSUNI também aprovou a concessão do título de Professora Emérita a Arlete Sendra (CCH)

Zezé Motta (Foto: Gustavo Arrais)

 

O Conselho Universitário da UENF (CONSUNI) aprovou na última sexta-feira, 12/07/24, a concessão do título de Doutora Honoris Causa para a atriz e cantora Zezé Motta.  Zezé Mota é a primeira personalidade a receber este título na UENF. O CONSUNI também aprovou a concessão do título de Professora Emérita da UENF à professora aposentada do Centro de Ciências do Homem da UENF (CCH) Arlete Parrilha Sendra.

— Eu fico muito feliz em saber que sirvo de referência. Penso que valeu a pena todas as batalhas que enfrentei até aqui como mulher preta, como atriz e cantora. Tenho muito orgulho em ser uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial no Brasil. Neste 2024 essa homenagem vem com um sabor ainda melhor, pois estou comemorando meus 80 anos de vida e 40 anos de criação do CIDAN, Centro de Informação e Documentação do Artista Negro no Brasil. Estou viva, em atividade, lúcida e com prestigio. Ando com a agenda cheia de trabalho. Isso tudo é uma benção, todo dia eu agradeço — disse a atriz e cantora Zezé Motta.

De acordo com o artigo 83 do Regimento Interno da UENF, o título de Professor Emérito é atribuído a “ex-professores que tenham alcançado posição eminente no ensino ou na pesquisa”. Já o título de Doutor Honoris Causa pode ser concedido a “personalidades que se tenham distinguido, seja pelo saber, seja pela contribuição fundamental à consolidação da instituição acadêmica, seja pela atuação em prol das Artes, das Ciências, da Filosofia, das Letras ou de melhor entendimento entre os povos”.

— A concessão do título de Doutora Honoris Causa a Zezé Motta reflete o compromisso da UENF com a valorização de figuras que, através de suas obras e ações, contribuem significativamente para o enriquecimento cultural e a promoção da justiça social. Zezé Motta representa os valores de excelência, integridade e dedicação que nossa universidade preza e promove — disse a reitora da UENF, professora Rosana Rodrigues.

A proposta de concessão do título de Doutora Honoris Causa a Zezé Motta foi feita pela Diretoria de Cultura da UENF. A homenagem reflete, segundo o diretor de Cultura, Giovane Nascimento, a preocupação da Universidade em reconhecer os talentos de Campos que, mesmo não abandonando suas raízes, muitas vezes não são identificados como campistas.

— É importante destacar ainda a relevância dela como mulher preta que sai de uma cidade que, lamentavelmente, ainda carrega as feridas da escravidão — assim como o restante do país —, e se coloca como um ícone de uma sociedade. Toda sua luta contra o racismo, a favor da população  menos favorecida, dá o total brilho dessa nossa homenagem e nos deixa cada vez mais seguros em relação a esta indicação — disse Giovane.

Arlete Sendra: 24 anos de dedicação à UENF

Arlete Sendra

 

Nascida em Campos dos Goytacazes (RJ), Arlete Sendra atuou por 24 anos como professora e pesquisadora do Laboratório de Cognição e Linguagem do Centro de Ciências do Homem da UENF (LCL/CCH), tendo se aposentado em 2020. Durante sua trajetória na Universidade, Arlete trabalhou na Graduação e na Pós- graduação, sempre em estudos centrados em literaturas, semiótica e estudos culturais.

— Estamos muito felizes com a decisão do Consuni. O título de Professora Emérita é uma homenagem que reflete a admiração e o respeito que colegas, alunos e a comunidade acadêmica têm pela Professora Arlete Sendra. Sua paixão pelo ensino, sua dedicação incansável à instituição e sua contribuição contínua para a literatura e o teatro são um legado duradouro que continuará a inspirar futuras gerações — disse a reitora Rosana Rodrigues.

Arlete disse que foi tomada por “intensa e profunda emoção” ao saber do título honorífico. Contou que trabalhar na UENF foi um sonho que virou realidade.

— Aprendi com este “emérita” que sonhos são passaportes . Parei de processar a busca de razões e deixei livre o fluir das sensações de alegria. Fiz um turismo pelos meus sessenta e dois anos de magistério. Meu passaporte – carimbo PUC/Rio – me abria possibilidades de escolhas de rotas . A UENF era minha meta. A intensidade da emoção ainda vibra em mim. Um renascer de vida me envolveu. E é com a pa/lavra, este instrumento que penetra nos escaninhos de nosso pensar e lavra ideias, desperta imaginários que agradeço à UENF a honraria que me foi conferida: muito obrigada. E para vivê-la mais intensamente, recordo colegas e alunas e alunos que comigo caminharam e com eles compartilho esta nobre distinção — disse.

Zezé Motta: 80 anos de vida e 56 de carreira

Zezé Motta no show em 1995 na Villa Maria

 

Nascida em Barcelos, distrito de São João da Barra (RJ), Zezé Motta sempre se considerou campista, uma vez que a localidade, na época, pertencia ao município de Campos dos Goytacazes. Em 10 de junho de 1995, ela realizou um show na Casa de Cultura Villa Maria, no qual chegou a afirmar ser “campista da gema”. O show, realizado nas escadarias da Villa, foi acompanhado por um grande público e teve como nome “Zezé in Concert”.

O público lotou os jardins da Villa para assistir Zezé cantar sucessos como “Odara”, “Crioula”, “Queixa”, “Trocando em Miúdos”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Tigresa”, “Senhora Liberdade”, entre outros, num total de 19 músicas. Na ocasião, ela relatou ter recebido um cachê simbólico, colocando-se à disposição para cantar no local “até de graça”, dado o seu amor pela terra goitacá.

Uma das artistas mais premiadas do País, Zezé Motta está completando 80 anos de vida. Expoente da cultura afro-brasileira e uma das artistas mais premiadas do País, Zezé Motta é uma referência nacional, com 56 anos de carreira, 14 discos gravados e atuação em 35 novelas e 70 filmes.

Nascida em uma família humilde, na adolescência, Zezé trabalhou como operária em uma indústria farmacêutica para ajudar nas despesas da casa, estudando à noite no curso Normal de formação de professoras. Aos finais de semana, frequentava o curso do Teatro Tablado, onde se formou atriz. A carreira artística no teatro começou na década de 1960, quando atuou na peça Roda Viva, de Chico Buarque. Na televisão, estreou como atriz em 1968, em um papel coadjuvante na novela da extinta TV Tupi Beto Rockfeller.

Em 1976, Zezé Motta se notabilizou pela atuação no filme Xica da Silva, de Cacá Diegues. Recebeu os prêmios Air France, Coruja de Ouro, Governador do Estado, bem como o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Brasília devido à sua atuação no filme. Em 2007, Zezé Motta recebeu o Troféu Oscarito no Festival de Gramado, destinado aos que mais contribuíram para o cinema nacional.Em sua trajetória, Zezé também se notabilizou como militante do Movimento Negro Unificado (MNU), onde denunciou racismos e atuou ativamente para combatê-lo.