Foi realizada na manhã desta quinta-feira, 17/11/22, uma mesa-redonda sobre o tema “A questão da terra e a atualidade da reforma agrária no Brasil”, no âmbito da IX Jornada do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais. A Jornada, que começou na quarta-feira, teve como tema central “O futuro das políticas sociais no Brasil”.
Participaram da mesa-redonda o professor Jerônimo da Silva e Silva, da Universidade Federal do Sul e do Sudeste do Pará (Unifesspa); o professor Paulo Marcelo Raposo, do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da UENF (CCTA); a doutora em Políticas Sociais Tainara Botelho; e a doutoranda em Políticas Sociais da UENF, Viviane Ramiro.
O professor Jerônimo disse que a violência no campo não sensibiliza a maioria das pessoas. Segundo ele, é importante que o estado tenha políticas de memória, que exista um esforço para que essas mortes não sejam esquecidas.
— Como os movimentos tratam a memórias, as dores? É necessária uma política emancipatória, para lembrar esta experiência. No interior do Pará, os latifúndios somam o tamanho da Dinamarca ou da Holanda. A maior jazida aberta está na região do sul do Pará. No Sudeste do Pará, é onde o estado é mais omisso, não aderiu ao lockdown. Uma imagem que marcou foi dos corpos nos sacos, nas valas, no Cemitério de Manaus — disse.
Segundo o professor, há no Brasil muita grilagem de terra, falsificação de posse e conflitos agrários em latifúndios associados particularmente à mineração e à pistolagem.
— Na década de 70, no Bico dos Papagaios teve a Guerrilha do Araguaia. Na década de 80, o Massacre da Princesa, além do assassinato da Irmã Adelaide e o Massacre da Fazenda Ubá. E na Curva do S teve o Massacre de Eldorado dos Carajás. Foram momentos desesperadores, onde a maioria dos trabalhadores foram fuzilados à queima roupa e mutilados com arma branca e depois ainda levaram tiros. Os médicos tiveram de fazer autópsia a luz de velas — contou.
Viviane observou que a violência no campo extrapola os massacres e chacinas que aparecem na mídia. ELa lembrou que a maior parte da população rural é negra.
— Não é um modelo democrático, é imposto. Há uma base escravocrata que forjou o capitalismo que a gente tem hoje, um capitalismo de grandes fortunas, patriarcal, racista e homofóbico, que tem cor, sexo e pertence a uma classe social — afirmou.
Ela também falou sobre a violência contra a mulher no campo. Do total de conflitos registrados em 2021, disse, 32% estão relacionados ao universo feminino. O estupro lidera o ranking de crimes contra mulheres, com 70% dos registros. Para Viviane, isso é o resultado da falta de políticas públicas adequadas, bem como a falta de representatividade feminina e negra no Legislativo.
Segundo Tainara, no orçamento federal deste ano os recursos destinados à assistência social foram de apenas 4,11%, incluindo Auxílio Brasil, Auxílio Natalidade e Benefício de Prestação Continuada (BPC).
— As políticas sociais são geradas pelo estado capitalista e são políticas neoliberais, o que inviabiliza os direitos sociais dos assentados — disse.
Paulo Marcelo encerrou com duas frases de Paulo Freire: “A gente deveria ser capaz de defender um mundo onde não fosse tão difícil amar” e “A história não se faz com a presença viva daqueles que a sonharam”.