
A segunda etapa das obras de reforma e restauro no Solar do Colégio, que abriga o Arquivo Público Municipal, em Campos, foi concluída e entregue, oficialmente, nesta quinta-feira, 26/06/25. A segunda etapa das intervenções compreende a instalação de uma sobrecobertura metálica para proteção de toda a área física do prédio e de seu telhado original.
Na primeira etapa, também já concluída, foi realizada a elaboração do Termo de Referência, do Estudo Técnico Preliminar, Mapa de Risco, mapeamento da estrutura do prédio, além das demais documentações técnicas referentes à contratação da empresa para a elaboração do projeto de instalação da sobrecobertura da edificação.
Desde 2022, a UENF é a fiel depositária de recursos que vieram do fundo da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), mediante um acordo feito entre a Alerj, a UENF e as Prefeituras de Cabo Frio e Campos dos Goytacazes — um total de R$ 30 milhões, dos quais R$ 20 milhões destinados ao Solar do Colégio, em Campos dos Goytacazes; R$ 8 milhões ao prédio da Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio (AQUI); e R$ 2 milhões para ações da Universidade.
A reitora da UENF, Rosana Rodrigues, disse que é com grande satisfação que a equipe da UENF acompanha a conclusão desta segunda etapa das obras referentes ao Solar do Colégio. Ela lembra que essa estrutura representa um avanço significativo não apenas na preservação física do acervo documental e do próprio prédio em si, mas também no fortalecimento do compromisso da Universidade com o patrimônio público, a memória e a história de Campos dos Goytacazes e região.
— A sobrecobertura garante a segurança dos documentos enquanto permite o estudo das necessidades de reforma e recuperação do telhado e da restauração do prédio histórico. Mais do que uma obra de infraestrutura, essa etapa concluída faz parte do trabalho de reconhecimento do papel estratégico do Arquivo Público como espaço de pesquisa, referência e cidadania para Campos, para a região e para o país — afirma Rosana.

Uma obra minuciosa e responsável
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2001 o prédio passou a abrigar o Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho, importante instituição mantenedora da história e da memória regional. O conjunto formado pelo Solar e Capela do Engenho do Colégio, também conhecido como Engenho do Colégio, fazia parte da fazenda jesuítica denominada Nossa Senhora da Conceição e Santo Inácio, construída entre 1650 e 1690.
Segundo o projeto básico para contratação de obra de sobrecobertura, elaborado na primeira fase da obra, a execução da segunda etapa “é de suma importância para a proteção do acervo, em caráter emergencial, e também na sequência, durante os levantamentos a serem efetuados quando da elaboração do projeto de restauração, também em vias de contratação, e ainda posteriormente durante a execução da obra de restauro a ser contratada em seguida”.
No total, as intervenções de reforma e restauro no Solar do Colégio consistem em quatro etapas.
Com as duas primeiras já concluídas, o próximo passo (terceira etapa) é a elaboração do projeto de restauro — que vai definir, exatamente, o que deverá ser feito durante a obra (que será a quarta etapa) e o seu custo, o orçamento. A terceira etapa está em fase de licitação.
Ainda na primeira etapa da obra, foi criada uma Comissão Técnica composta por profissionais da construção civil como engenheiros civis e projetistas para direcionamentos às principais decisões relativas à obra.
Na UENF, a Gerência de Projetos de Engenharia (GPENG), vinculada à Prefeitura da Universidade, é o setor que acompanha todas as etapas da obra executada no Solar do Colégio. O gerente Gabriel Smiderle explica que, por tratar-se de um bem cultural, protegido legalmente pelo Iphan, o Arquivo Público possui um viés totalmente diferente do foco de uma reforma de um prédio comum.
— O principal desafio seria conseguir conciliar a preservação do ponto de vista do patrimônio histórico e, ao mesmo tempo, corrigir os problemas existentes e dar ao imóvel todas as funcionalidades necessárias. Porque a sociedade vai mudando, as normas vão mudando. E o prédio foi construído há muito tempo, quando não era necessário seguir certas normas. Por exemplo, normas de acessibilidade, que é um conceito relativamente novo. Em algumas situações é até incompatível, mas é necessário encontrar uma solução que alinhe as necessidades. E aí entra o principal desafio: encontrar esse equilíbrio entre conseguir fazer o restauro e atender a essas necessidades atuais numa construção — pontuou.

Segundo ele, a instalação da sobrecobertura tem por objetivo proteger o prédio das infiltrações que vêm ocorrendo, para que não venham a atingir nenhum material do acervo.
— As duas principais finalidades da sobrecobertura são: primeiro, evitar, de imediato, o mais rápido possível, as infiltrações. E, segundo, possibilitar os levantamentos que serão feitos no telhado do prédio. Vai ser necessário investigação, prospecção minuciosa, remover telhas, porque cada detalhe é importante na próxima etapa da obra. Por exemplo, é preciso verificar os pontos danificados do madeiramento, a forma correta de tratar e recuperar. E, para substituição de peças, será necessário saber qual foi o tipo de madeira usada — que em geral não é a comumente utilizada no mercado atual; a forma de encaixes, entalhes na madeira; ver a forma como era feito na época para procurar manter. Então é uma série de coisas com levantamentos muito minuciosos. Para isso também a sobrecobertura vai ser ótima — relatou Gabriel.
Início do desafio e o objetivo de fazer a comunidade feliz
Quando a UENF recebeu o desafio de conduzir as obras, tanto do Solar do Colégio (Campos) quanto da Fazenda Campos Novos (Cabo Frio), quem acompanhou todo o processo inicial foi o então reitor Raul Palacio.
O professor Raul enfatiza que o objetivo da UENF, especificamente, é fazer um povo feliz, como está na entrada da instituição, gravado em pedra, para que as pessoas não se esqueçam.
— Nesse sentido, como fazer um povo feliz sem história? Como fazer um povo feliz se a gente não recupera ou não mantém um patrimônio no qual aconteceu toda uma vida, toda uma história de uma cidade? E esse é o caso das duas construções. Tanto do Solar dos Jesuítas, que é em Campos, como a Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio. Por isso que aceitamos o desafio. Sabendo que ia ser um projeto pioneiro, a partir do qual a gente ia ter que procurar, inicialmente, o recurso e, depois disso, ver como se fazia todo esse processo de restauro, reuniões. Tudo para podermos fazer um processo com maior transparência possível e utilizar da forma correta os recursos públicos — detalhou o ex-reitor.
(Jornalista: Thábata Ferreira – Fotos: Cassiane Falcão – ASCOM/UENF)