Egresso da UENF e desde 2012 professor da Universidade de Brasília (UnB), o sociólogo Fabrício Monteiro Neves defendeu ontem (20/10/22) a retomada do pensamento de Darcy Ribeiro como forma de resistência ao movimento contrário à educação, ciência e tecnologia. Ao ministrar a palestra “Darcy e a defesa da ciência nacional” no terceiro dia da XIV Mostra de Extensão UENF/UFF/IFF e VI UFRRJ, Fabrício traçou um histórico da ciência e tecnologia no país e a inserção de Darcy Ribeiro neste contexto.
“Ambas as trajetórias, de Darcy e da ciência e tecnologia nacional, se confundem. No momento atual, falar de Darcy é desafiar o movimento de negar a ciência, de desacreditar suas instituições e atacar seus princípios de valores. Darcy foi um intransigente defensor de uma ciência nacional, ou seja, uma ciência que fosse principalmente enraizada nas necessidades de seu povo”, disse.
Segundo afirmou, Darcy Ribeiro teve uma carreira bastante intensa na defesa da universidade pública e de qualidade. “Ele passou por diversas universidades a partir do exílio, em 1964, tendo sido o promotor de reformas universitárias no Uruguai, Peru e México, entre tantas outras. Sua última grande empreitada como promotor de utopias acadêmicas e universitárias foi a UENF. Daí a responsabilidade que todos têm em promover e levar à frente esse legado, que foi muito importante”, afirmou.
Fabrício ressaltou o centenário de Darcy, que está sendo comemorado este ano. Darcy nasceu em 1922 em Montes Claros (MG) e se licenciou em 1946 em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política. Ao lado do educador Anísio Teixeira, Darcy elaborou em 1959 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, cuja revisão foi proposta por ele mesmo na década de 1990, quando senador.
Ao traçar um panorama histórico da ciência no pais, ele disse que foi no pós-guerra que o Brasil teve um maior impulso ao desenvolvimento científico. Até a década de 1970, segundo ele, as políticas de ciência e tecnologia eram orientadas pelo modelo linear de desenvolvimento científico e tecnológico. Nesta época, foram criados órgãos fomentadores da ciência, como Capes, CNPq e Fundações de Amparo à Pesquisa, além de grandes projetos, como a Embraer, Embrapa, energia atômica, Ita, etc.
Segundo Fabrício, tratava-se de um modelo tecnocrático, que tinha como mote a diminuição do gap tecnológico entre centro e periferia. O governo queria absorver tecnologia para diversificar a estrutura produtiva. Neste época houve o ápice do financiamento da ciência. “Darcy pensava o contrário. Sua ideia era desenvolver as potencialidades da ciência e tecnologia a partir do próprio pensamento nacional”, afirmou.
A década de 1980, de acordo com Fabrício, foi marcada pela percepção do atraso da ciência e que o sistema científico apenas ofertava diplomas. “Não havia conexão com as demandas do setor produtivo e grupos mais amplos da sociedade. Foi um período de grande rediscussão de como a universidade deveria funciona e que tipo de ciência e tecnologia nós deveríamos desenvolver.
Ele ressaltou que Darcy retornou ao país nesse momento de crise. “Ele começa a pensar novas maneiras de conceber uma nova universidade. Não era mais o momento que ele tinha participado na década de 50, 60. E a UENF é fruto exatamente dessa crise. Ele pensa a UENF a partir de uma nova concepção do que deveria ser a universidade”, disse.
Segundo ele, na década de 90 ocorre uma reorientação, a partir da concepção de uma universidade empreendedora e liberal. Nesse contexto, entendia-se que a atividade cientifica deveria ser colocada a serviço do desenvolvimento industrial competitivo, numa economia caracterizada por um processo de abertura internacional. Essa concepção começa no governo do presidente Fernando Collor e é reforçada no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário destas visões, Darcy propunha um modelo de universidade e de ciência e tecnologia que olhasse para a sociedade brasileira e as demandas de seu povo.
Veja AQUI a palestra completa.
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