Iniciado em 2018, um projeto da UENF em colaboração com a Associação Mico Leão Dourado e o NUPEM/UFRJ, cujo objetivo é estudar os impactos da instalação de dutos para óleo e gás na fauna da Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro, corre o risco de ser interrompido devido à falta de recursos. Isso porque a Petrobras, financiadora do projeto, acaba de suspender todos os repasses do convênio durante este ano, indicando retomá-los somente em 2021.
Segundo o coordenador do projeto, professor Carlos Ruiz-Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais da UENF, os cortes inviabilizam completamente a continuidade das ações.
“O projeto principal refere-se a uma compensação ambiental exigida pelo ICMBio e Ibama, de estudar como as faixas sobre os dutos interferem na movimentação dos animais. Ou seja, se são de fato um fator na fragmentação das florestas. Então nós vimos estudando isso por um mais de um ano e agora colocaríamos estruturas de mitigação para comparar”, explica.
Ele observa que, com os cortes, houve o desmonte da equipe de trabalho numa fase importante do projeto, que seria a construção das estruturas que funcionariam como pontes para os animais atravessarem as faixas dos dutos. A equipe era formada por quatro biólogos pós-doutorandos, um médico veterinário e dois técnicos de campo. Quatro mestrandos e vários alunos de iniciação científica ficam prejudicados.
Além do desmonte da equipe, outro problema é a manutenção dos aparelhos transmissores de telemetria (GPS), que deveria ser feita em junho e novembro. Os aparelhos são acoplados nos animais estudados, para possibilitar o seu monitoramento. Segundo Ruiz, cada aparelho custa 2.200 dólares. No momento, há dez animais com aparelhos de GPS.
“Se não fizermos isso e as pilhas acabarem, a gente não tem como achar os animais e ainda corremos o risco de perder os equipamentos. Além disso, capturar as preguiças é um esforço enorme. Às vezes, para pegar 10 animais precisamos de um mês”, afirma o professor.
Ele conta que 11 armadilhas fotográficas foram perdidas recentemente, devido ao fechamento das reservas biológicas União e Poço das Antas. “Devido à COVID-19, ar reservas tinham sido fechadas. Conseguimos uma excepcionalidade para termos acesso aos equipamentos, só que demoramos muito e, como não ficou ninguém monitorando esses lugares, a gente perdeu 11 armadilhas fotográficas, que custam cerca de 2 mil cada uma, por caçadores e pessoas não autorizadas que entram, especialmente perto dos gasodutos”, relata.
Segundo Ruiz, uma interrupção no projeto agora poderá inviabilizar tudo que já foi feito: “O andamento do trabalho e a interação com o CENPES da Petrobrás iam muito bem. Já tínhamos identificado quais espécies eram afetadas negativamente pelas faixas. Se esperarmos muito tempo pra colocar as estruturas, não necessariamente vão ser iguais os dados que coletamos. Serão animais diferentes, situações ambientais diferentes. Quanto mais tempo passa pra fazer o trabalho, mais variáveis podem surgir que vão interferir nessa comparação dos dados”.
O projeto, no valor de R$ 3,4 milhões, foi iniciado em 2018 e envolve o estudo do mico-leão-dourado, da preguiça, do ouriço-caxeiro e vários pequenos mamíferos. Segundo Ruiz, a Fundenor, que administra os recursos, não recebeu até agora nenhum comunicado oficial da Petrobras. E os técnicos da Petrobras também não têm informações precisas sobre o que acontecerá ao projeto. A única certeza é que os repasses estão suspensos.
“Em março, recebemos um comunicado oficial de que haveria uma suspensão dos pagamentos por 90 dias. Mas a gente não se preocupou tanto porque era possível suprir esse período. Mas, como também não recebemos os valores de 2019, se ficarmos 2020 inteiro sem receber será impossível continuar o projeto”, diz.