Cheia de metanarrativa e provocações, a ocupação artística ‘Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço’, na Villa Maria, assinada pelo artista visual Alexandre Mury, foi ponto de encontro entre o aprofundamento da arte e professores da rede, na última sexta-feira 27/09/24. A ação aconteceu em parceria com o Polo Arte na Escola – UENF.
A ocupação foi iniciada, oficialmente, no último dia 24/09 e marca o início de um novo ciclo de exposições de arte na Villa. Ela vai até o próximo dia 23/10/24.
A ação da última sexta foi uma das primeiras ações, junto à comunidade, que compõem a programação da exposição.
Sobre o contato com o artista durante a exposição, uma das participantes, Michele Moraes, relata que foi uma experiência ímpar.
— Raramente temos artistas contando de perto suas motivações para elaboração de suas obras. Ouvir a fala do artista pessoalmente em sua própria exposição é um grande diferencial em nossa prática em sala de aula. A experiência foi única e especial — disse.
Já para Ana Paula Lima, o mais importante foi desmistificar a ideia de que ‘não temos acesso ao artista’, o que segundo ela, é de ‘fundamental importância’.
Aproximação com a comunidade
Mury aponta que, após este primeiro encontro com os professores da rede, espera a aproximação com a comunidade acadêmica, estudantes e professores, para discutir.
— A exposição tem uma profundidade que merece ser debatida, discutida, apreciada num nível de troca, inclusive, de informação com várias áreas de conhecimento. Isso enriquece o meu trabalho, é um feedback interessante para mim e faz parte da obra de arte conceitual — pontua.
Na programação também são esperadas mesas-redondas com professores universitários, encontros de formação com professores do ensino básico e visitas mediadas para estudantes. As datas serão divulgadas gradativamente.
Natural do município de São Fidélis (RJ), Alexandre Mury tem mais de 80 obras do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), além de obras no Museu de Arte do Rio (MAR), no Museu da Fotografia Fortaleza, fotografias importantes no mundo inteiro e uma indicação ao Prêmio Pipa em 2016.
Sobre a compreensão da Arte
Segundo Mury, todas as peças que estão na ocupação da Villa poderiam ter o título de ‘Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço’. Cada peça, por mais diferente que seja uma da outra, poderia adotar o mesmo título. Contudo, títulos de peças foram modificados justamente para fazer uma brincadeira com a linguagem.
Sobre estes títulos, ele diz que é “fundamental que sejam lidos por cada pessoa da exposição para melhor compreensão da obra porque induzem ou conduzem a uma interpretação”.
A respeito da interpretação da arte conceitual, Mury afirma que, tão importante quanto dar liberdade ao outro, é saber a intencionalidade do artista.
— Não dá pra ser arte conceitual, sem saber a intencionalidade do artista. E muitas vezes a intencionalidade do artista ou depende desta exposição numa fala, como a minha conversando aqui, ou num registro escrito do artista falando sobre sua obra — diz.
Imersão artística para professores
Coordenadora pedagógica do Polo Arte na Escola – UENF, Danuza Rangel explica que o encontro de professores com Mury, como uma das primeiras ações da programação da ocupação, possibilita uma experiência mais ampla e profunda com o trabalho do artista.
— Tendo essa oportunidade de obter mais informações sobre a poética, as referências e os processos do artista antes da visitação dos seus alunos, esses professores poderão fazer as provocações e proposições (antes, durante e depois da exposição) mais favoráveis para que seus alunos tirem melhor proveito da visitação e para que os desdobramentos dela promovam aprendizagem significativa — ressalta.
Polo Arte na Escola -UENF
O Polo Arte na Escola – UENF promove, há 19 anos, a formação continuada de professores que trabalham com Arte e Cultura nas escolas entendendo que são áreas muito dinâmicas do conhecimento, que demandam essa atualização constante, assim como as práticas pedagógicas, que também devem responder às transformações sócio-culturais, com as inovações necessárias.
— Manter o professor numa atitude de pesquisa, refletindo sobre a relação entre teoria e prática, com autonomia, resiliência e motivação faz parte dos nossos principais objetivos — ressalta a coordenadora do Polo.
Urban Sketch e Formas Múltiplas de Continuidade no Espaço
Alunos de Design Gráfico do Instituto Federal Fluminense (IFF), liderados pelos egresso Kevin Arêas, que monitora a disciplina de Urban Sketching no mesmo curso, estiveram na ocupação — registrando em seus cadernos e memórias a obra de Mury.
O Urban Urban Sketch é uma técnica de desenho por observação direta de cenários e situações.
Na perspectiva de Kevin, se a técnica do urban skech fosse escrita, ao invés de desenhada, seria uma crônica.
— Toda vez que a gente olha um desenho feito dessa forma, revisitamos o lugar, as coisas que aconteceram, o tempo que passamos ali. Neste tempo, aconteceram coisas ao nosso redor que vão ficar fixas na experiência do desenho — relata.
Sobre a escolha da obra do Mury, Kevin explica que era um movimento excelente acontecendo para praticar.
— Além disso, Mury tem um passado com a instituição também. O que é interessante de homenagear, um ex professor. E sem contar que o contexto da ocupação artística é muito interessante porque, por ser esse tema de formas de continuidade, de certa forma, a gente dá continuidade também à representação das formas que ele fez — pontuou.
(Thábata Ferreira)