Projeto da UENF ajuda meninas da periferia a ingressar no ensino superior

Priscila (ao centro, de azul), com os bolsistas do projeto durante o evento da Faperj na ABC

Um projeto de inclusão social coordenado pela professora Maria Priscila Pessanha de Castro, do Laboratório de Ciências Físicas da UENF (LCFIS), está fazendo a diferença entre meninas da periferia do município de Campos. De um total de nove estudantes de escolas públicas do interior de Campos dos Goytacazes. quatro conseguiram aprovação em universidades, sendo duas na UENF. Intitulado “ArduíNas: Meninas no controle de práticas experimentais das Ciências Exatas e da Terra”, o projeto foi um dos contemplados no último edital da Faperj “Meninas e Mulheres na Ciência”.

Devido ao sucesso do projeto, a professora Priscila foi homenageada na segunda-feira, 19/02/24, durante evento realizado pela Faperj no Auditório da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro. Representando todas as coordenadoras de projetos aprovados no Edital “Meninas e Mulheres na Ciência”, a professora da UENF contou sua experiência como coordenadora do projeto, que vem motivando meninas em idade escolar a seguirem carreiras científicas e tecnológicas. Na ocasião, Priscila afirmou que o projeto — desenvolvido em duas escolas estaduais de Travessão e Poço Gordo — é o mais gratificante de sua vida como educadora.

— São comunidades marcadas por desafios como baixa renda, violência doméstica e alto índice de evasão escolar. Meninas que receberam bolsas de pré-iniciação científica como Jovens Talentos e que nem vislumbravam em suas vidas ter uma formação universitária puderam discutir temas como emancipação feminina e Física. Como resultado, elas se empoderaram, fizeram o Enem e temos algumas aprovadas em universidades, inclusive públicas — disse.

A professora Priscila, da UENF, relatou a sua experiência

Desenvolvido no Colégio Estadual Coronel Nelson Pereira Rebel, em Travessão, e no Colégio Estadual Coronel Francisco da Motta Vasconcelos, em Poço Gordo, o projeto ArduíNas atendeu, na categoria Jovens Talentos, nove bolsistas, além de dois bolsistas de Iniciação Científica e três bolsistas de Treinamento e Capacitação Técnica, professores das escolas.

Atuaram no projeto, como bolsistas Jovens Talentos, nove meninas na faixa etária dos 16 aos 18 anos de idade, todas moradoras destas localidades. Duas bolsistas foram aprovadas para o curso de Química da UENF e uma para o curso de Telecomunicações do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF).

— À medida que avançávamos com os trabalhos, elas se empoderavam e percebiam que poderiam ser capazes de prestar o Enem e entrarem em uma universidade. Estas meninas, inicialmente, não vislumbravam carreira universitária. Muitas delas não tinham conhecimento que podiam ingressar em uma universidade pública e gratuita e não sabiam a dimensão da transformação social que a universidade pública proporcionaria na vida delas. Espero que tenhamos várias edições deste edital para contemplar várias meninas — afirma Priscila.

Segundo Priscila, o projeto trabalhou com duas frentes: primeiro, o debate sobre gênero, com a colaboração da professora Elis Miranda,  da Universidade Federal Fluminense (UFF), e depois foi utilizada a plataforma Arduíno para elaboração de experimentos de baixo custo para a discussão de conceitos de Física.

— O projeto tinha como um dos objetivos que as bolsistas de Jovens Talentos e Iniciação Científica se tornassem vetores a fim de propagar os conhecimentos adquiridos em diversos ambientes, como por exemplo: sala de aula e feiras de ciência. Nestes espaços elas apresentavam todo material didático produzido pelo grupo durante o desenvolvimento do projeto — conta a professora.

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UENF, Maria Cristina Canela (à esquerda), e a reitora da UENF, Rosana Rodrigues (à esquerda, de azul) participaram do evento

A bolsista Marcelly Sales ingressou no curso de Química da UENF incentivada pelo projeto ArduíNas. Ela conta que, desde pequena, sempre gostou da área de Exatas, mas nunca teve o incentivo para levar à frente os seus sonhos. Tudo mudou quando ela conheceu o projeto ArduíNas, no terceiro ano do ensino médio, através de seu professor de Física, Wellington.

— Sempre escutei que ser astronauta, física, trabalhar dentro de laboratório não é coisa de mulher, que mulher nasceu apenas para ser professora ou dona de casa. No projeto, me mostraram que muitas mulheres atuam sim na área de Exatas. A Maria Priscila mesmo é uma grande inspiração para mim. Então, decidi seguir esta área. A escolha do curso foi difícil, mas sempre gostei da área de laboratório e materiais, por isso decidi fazer Química. Escolhi a UENF por ver que uma universidade pública pode proporcionar grandes oportunidades para nossa sociedade — diz.

A bolsista Thalia Angelino dos Santos também ingressou no curso de Química da UENF por incentivo do projeto ArduíNas.

— O projeto ArduíNas foi um grande incentivador para o meu ingresso para a UENF, despertando minha curiosidade e motivando aprender mais sobre o mundo das Exatas, da Química, da Física e me impulsionando a aprofundar meus estudos e alcançar seus objetivos profissionais como sempre sonhei — afirma.

Ambas estudantes estiveram presentes no evento do dia 20 de fevereiro, assim como os dois bolsistas de TCT, Wellington da Costa e Beatriz Coutinho, do Colégio Estadual Nelson Pereira Rebel no distrito de Travessão. Na ocasião, Marcelly Salles foi convidada a relatar sua experiência como bolsista do projeto.

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