Será realizada nesta sexta-feira, 29/11/24, às 9h, a entrega da primeira etapa da obra de restauração da Fazenda Campos Novos, no distrito de Tamoios, Cabo Frio-RJ. A obra foi realizada mediante acordo de cooperação técnica entre a UENF e a Prefeitura de Cabo Frio, com recursos do fundo da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o prédio da Fazenda Campos Novos encontrava-se, antes da obra, interditado, correndo o risco de desabamento.
A cerimônia será realizada na Capela, com a presença de representantes da Reitoria da UENF, Prefeitura de Cabo Frio, Iphan e Inepac. Em seguida, o Estúdio Sarasá fará uma apresentação sobre a obra (contextualização, estado de conservação, serviços realizados, proposta de uso e ocupação, plano museográfico). Após a apresentação, os convidados serão encaminhados para uma visita à Fazenda, finalizando com uma confraternização (café).
Iniciada em julho de 2023 pelo Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, a primeira etapa da obra abrangeu os serviços iniciais de restauro, que têm sido executados, acompanhados e fiscalizados pela Comissão de Fiscalização do Contrato de Execução da Obra de Restauração em Edificações Tombadas – Fazenda Campos Novos (COMISFEORET), formada por representantes da UENF e da Prefeituta de Cabo Frio. Pela UENF, fazem parte o diretor de Cultura, professor Giovane do Nascimento (gestor) e a técnica Ana Cristina Azeredo da Silva. Também integram a Comissão os servidores da Prefeitura de Cabo Frio Wilson Luis de Miranda e Sérgio Oliveira Nogueira.
A obra de restauração conta ainda com o suporte técnico dos órgãos de patrimônio municipal, estadual e federal — Instituto Municipal do Patrimônio Cultural de Cabo Frio (Imupac), Inepac e Iphan. As próximas etapas deverão incluir o desenvolvimento do plano de Acessibilidade, Uso e Ocupação do Espaço, além do projeto Museográfico.
— A Fazenda Campos Novos, um dos marcos históricos importantes de Cabo Frio, vive um momento significativo com a inauguração da primeira etapa de sua restauração. A solenidade marca a entrega da parte emergencial das obras, que visam preservar a história e valorizar o patrimônio cultural da região. A restauração é fruto de uma parceria entre a Alerj, a UENF, o Iphan, o Inepac, a Prefeitura de Cabo Frio e o Grupo Sarasá, reafirmando a união entre diferentes esferas públicas e privadas para garantir a preservação de um bem histórico de tamanha relevância — disse a reitora da UENF, Rosana Rodrigues.
Segundo ela, a entrega da parte emergencial da restauração é um passo fundamental para conter a deterioração da estrutura. As intervenções incluíram estabilizações na arquitetura e medidas para proteger as áreas mais sensíveis do prédio histórico. Rosana ressaltou que essas ações não apenas garantiram a integridade física do monumento, mas também abrem caminho para a continuidade das obras e o desenvolvimento de novos usos para o espaço, como a promoção de atividades culturais, educativas e turísticas.
— A restauração da Fazenda Campos Novos é mais do que uma obra de recuperação arquitetônica; é uma oportunidade de criar um espaço de memória, educação e lazer para a população de Cabo Frio e visitantes. Com o avanço das obras, espera-se que o local se torne um polo cultural, atraindo não só turistas, mas também estudantes, pesquisadores e todos aqueles interessados na rica história da Região dos Lagos. A entrega da primeira etapa da restauração é um marco que reafirma a importância de preservar o patrimônio histórico como um legado para as futuras gerações — afirmou a reitora da UENF.
O diretor de Cultura da UENF destacou o modelo de gestão da obra de restauração da Fazenda Campos Novos, que reuniu não só os órgãos de patrimônio municipal, estadual e federal, como representações das comunidades quilombolas.
— Foi uma gestão completamente partilhada, com os mais variados campos da sociedade civil. A Fazenda Campos Novos é muito significativa do ponto de vista afetivo para as pessoas da região. É um espaço muito inspirador para a pesquisa, que precisa ser consolidado pela Universidade e estar sempre aberto à interlocução com a comunidade — disse Giovane.
Fundada em 1690 pelos jesuítas, a Fazenda Campos Novos possui um conjunto arquitetônico formado por uma casa-grande, a igreja de Santo Inácio e um cemitério. O conjunto foi tombado pelo Inepac em 2003 e pelo Iphan em 2011. O local abrigou diversas personalidades históricas, como D. Pedro II, Princesa Isabel, Conde D’Eu, Príncipe Maximiliano, Saint-Hilaire, John Luccock, entre outros. Em 1832, recebeu a visita do naturalista Charles Darwin.
O site do Iphan descreve o conjunto arquitetônico da seguinte forma:
Um raro exemplo da sociedade do século XVII
O conjunto rural, remanescente de uma antiga fazenda fundada em 1648 e construída sobre um sambaqui, conta com uma casa, senzala, oficinas, capela e cemitério anexo. Estes, construídos por volta de 1690, constituem importantes e raros exemplares de arquitetura rural jesuítica, caracterizando a sociedade da época. Uma característica importante do projeto é a edificação da igreja integrada com a casa-grande, o que permitia acesso exclusivo às missas através de uma espécie de púlpito lateral, com ligação direta aos aposentos internos da casa.
Em 1623, após a fundação das cidades de Cabo Frio em 1615 e da Aldeia de Índios de São Pedro em 1617, os jesuítas receberam duas grandes doações de terras na região, as sesmarias do Rio Una e de Búzios. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, a fazenda passou às mãos de diversos proprietários e sofreu várias intervenções mas que não comprometem a preservação de seus traços. Em 1993, foi desapropriado pela Prefeitura de Cabo Frio e passou a ser a sede; lá instalou a Secretaria Municipal de Agricultura (Fonte: Site do Iphan).
(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri)