‘Universalização da água é problema político’, diz cientista

Professor José Esteban Castro, da UFPE, proferiu a segunda conferência do XVII CONFICT / X CONPG na manhã de quarta-feira na UENF

A universalização da água não é um problema climático, tecnológico ou de falta de recursos, mas fundamentalmente político, disse na manhã da última quarta-feira, 09/07/25, o professor José Esteban Castro, da Universidade Federal de Pernambuco. Ele ministrou, de forma remota, a segunda conferência do XVII Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFICT) e X Congresso Fluminense de Pós-Graduação (CONPG), no Centro de Convenções da UENF.

Intitulada “A água e a universalização das políticas de crueldade: conhecimento, política e a dimensão sociológica dos processos de democratização”, a conferência foi mediada pela professora Antenora Siqueira, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Ambiente e Políticas Públicas da UFF.

Professor emérito em Sociologia da Newscastle University, Reino Unido, o professor José Esteban lembrou que, segundo relatórios do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), a universalização do acesso à água requer cerca de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) de cada país.

— O principal elemento para a universalização da água é a política. Não vamos atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030 por um problema climático, financeiro ou tecnológico. O problema é politico. É um problema da politica democrática — disse Esteban, que atua como professor visitante na Pós-Graduação em Sociologia Política, na Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano e no Centro de Estudos Avançados da UFPE.

Inspirado em seu livro mais recente, “Democracia e Política Global da Água em Perspectiva Histórica”, o professor lembrou da tragédia ocorrida recentemente no Texas, Estados Unidos, devido a uma inundação. Segundo afirmou, as mortes provocadas pelas inundações são o reflexo da política governamental, que não priorizou sistemas de alarme que pudessem avisar a população do evento climático extremo que estava por vir.

— Este tipo de ação está sendo retirado da agenda dos Estados Unidos. O tema da água está fundamentalmente no centro disso.

Segundo afirmou, toda esta questão tem como pano de fundo a destruição dos valores democráticos, o que vem ocorrendo não só nos Estados Unidos, como em várias partes do mundo, como na América Latina e na Europa. De acordo com Esteban, os governos não se interessam pelos direitos da população como um todo.

— Os princípios que nos fazem defender a democracia estão sendo destruídos, estão sendo negados. A democracia está sendo atacada. Só os ricos se beneficiam das políticas — disse, acrescentando que o grande problema da América Latina é a desigualdade estrutural, que afeta populações indígenas e afrodescendentes.

Ele lembrou que, na história da humanidade, as primeiras legislações já buscavam defender o acesso à água.

— Há 4 ou 5 mil anos, já se entendia que o acesso à água é fundamental, um direito de todas as pessoas e também dos animais. Estavam mais avançados que nós hoje — disse.

Para o professor, a política de privatização do acesso à água, que fez sucesso na América Latina nos anos 90, ao invés de melhorar, só piorou a situação.

— Foi retomado um modelo que já tinha fracassado historicamente no século XIX em países como a Inglaterra. Agora de novo a política de privatização do saneamento básico está voltando com muita força, não somente no Brasil. E já sabemos que isso fracassa — afirmou.

Iniciado na última segunda-feira, 07/07/25, o XVII CONFICT / X CONPG será encerrado nesta sexta-feira. O evento reúne a UENF, o IFF e a UFF em atividades culturais e acadêmicas. Veja a programação AQUI.

Saiba mais sobre o evento AQUI e AQUI.

(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri – Fotos: Clara Freitas – ASCOM/UENF)

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