Mulheres pretas e quilombolas de Campos em sessão dupla do Cine Darcy nesta sexta

Programação especial pelo Dia Internacional da Mulher terá ainda debate com as jornalistas campistas Stella Tó e Daniela Abreu, além da quilombola Lucimara Muniz

O Cine Darcy terá sessão dupla nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Os documentários “Griôs – Histórias que os livros não contam” e “Cores Pretas” serão as atrações especiais na sala do cinema universitário da UENF, a partir das 18h. Após as exibições, será promovido um bate-papo sobre os temas e reflexões que os filmes propõem, com as presenças das jornalistas campistas Daniela Abreu e Stella Tó, diretoras das obras, e a quilombola Lucimara Muniz.

O documentário Griôs foi gravado com membros mais velhos de cada um dos sete quilombos de Campos dos Goytacazes. O objetivo é fazer um registro da história de formação e resistência desses quilombos. Na obra, são exibidos depoimentos dos griôs dos quilombos de Custodópolis — um dos poucos quilombos urbanos do Brasil e um dos primeiros a ser reconhecido —, Lagoa Fea (Fea e não Feia, respeitando a forma como próprios quilombolas se referem ao local), Sossego, Conceição do Imbé, Aleluia, Batatal e Cambucá — esses últimos conhecidos como ABC do Imbé.

Diretora do filme, a jornalista Daniela Abreu destaca a importância de registrar e dar reconhecimento a essas histórias tão expressivas:

— Os griôs guardam consigo as histórias de como se formaram essas comunidades, suas origens, costumes, formas de trabalho, cultura e muita resistência ao longo dos anos, no processo de formação e reconhecimento de cada um dos quilombos registrados e reconhecidos. Quando um griô morre, leva consigo essas histórias que, a partir de agora, ganham nova forma de se perpetuar. Outra finalidade do documentário é dar suporte material para o efetivo cumprimento da Lei 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” — afirma.

Patrimônio Cultural de Campos dos Goytacazes, o documentário Cores Pretas retrata a vida de cinco mulheres negras e seus anseios futuros, em uma realidade de luta constante contra o racismo estrutural existente na sociedade. A obra faz uma costura entre a vida dessas pessoas, que narram suas vivências de enfrentamento ao racismo, e ainda assim, vislumbram possibilidades de construir caminhos frutíferos para as próximas gerações. Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da UENF (NEABI), Stella Tó assina Cores Pretas como diretora geral, roteirista e diretora de fotografia.

A obra foi selecionada na 3ª Mostra Lugar de Mulher é no Cinema, de Salvador, em 2019, um ano depois do seu lançamento. Já em 2023, a produção campista foi exibida no Museu da Cultura e da História Afro-Brasileira, no Rio de Janeiro.

— O racismo é uma tecnologia utilizada e muito bem orquestrada, para fazer a gente esquecer quem a gente é — enfatizou Stella Tó em setembro do ano passado, quando Cores Pretas foi exibido na telona do Cine Darcy pela primeira vez.

Jornalista e ativista do Movimento Negro, Daniela Abreu é uma das mulheres em destaque no Cores Pretas.  Atualmente na comunicação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), já atuou em jornais, sites e rádios de Campos. Em 2018, enquanto atuava no Coletivo Nós Por Nós — que prestava apoio e assessoria jurídica à mulheres vítimas de violência doméstica no município —, fez parte da primeira candidatura coletiva feminista de Campos.

— Fazer parte deste evento, no Dia Internacional da Mulher, ao lado de Stella e Lucimara, duas grandes mulheres que tanto me inspiram e, ainda mais, falando de assuntos que nos atravessam a vida é, para além de um compromisso, uma honra. Sou profundamente grata por essa oportunidade de levar as histórias verdadeiras dos sete quilombos de Campos a mais pessoas — diz Daniela.

Stella Tó já trabalhou em veículos como G1, Band FM, Mídia Ninja e Facebook Brasil. Hoje, é membro do NEABI-UENF e atua como analista de comunicação em uma instituição filantrópica, cujo objetivo é reduzir as desigualdades do Brasil. Ela também ressaltou a relevância da iniciativa do cinema universitário da UENF no Dia Internacional da Mulher:

— Ações como essa são fundamentais para que a pauta da equidade esteja sempre no centro do debate. Em uma cidade em que 55% da população é feminina, não ter uma mulher como vereadora revela o quanto ainda estamos à margem das tomadas de decisão. Eu acredito que a arte e a cultura sejam caminhos essenciais para conseguirmos meditar sobre o nosso papel na sociedade e sobre a importância de ocuparmos diversos espaços — concluiu.

Além das jornalistas Daniela Abreu e Stella Tó, também marcará presença na roda de conversa pós-filme do Cine Darcy nesta sexta-feira a quilombola Lucimara Muniz. Integrante da Coordenação Nacional de Articulação dos Quilombos e vice-presidente da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro, ela é produtora e idealizadora de Griôs.

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