Dia da Mulher: agrônoma da UENF ganha bolsa DT do CNPq com projeto de agricultura sustentável

Técnica de nível superior do LMGV/UENF, Cláudia Pombo Sudré é uma das poucas mulheres a conseguirem esta modalidade de bolsa em 2022 em todo o país

Cláudia Pombo Sudré

Mulheres com garra e determinação para alcançar seus objetivos estão por toda parte, e na UENF não poderia ser diferente. Uma destas mulheres é a engenheira agrônoma Cláudia Pombo Sudré, técnica em nível superior do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal da UENF (LMGV), que acaba de ser contemplada com uma bolsa de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT) do CNPq. Sua vida é um exemplo de superação de obstáculos típicos da luta feminina que norteou a criação, pela ONU, do Dia Internacional da Mulher, comemorado hoje, 08/03.

Cláudia sofreu na pele a discriminação por ter escolhido uma área profissional mais restrita ao universo masculino. Ela conta que em 1987, quando foi para a Universidade Federal Rural (UFRRJ) cursar Engenharia Agronômica, havia apenas oito mulheres para 72 homens no curso.

— Em um estágio que fiz na Emater, cheguei com o técnico em uma propriedade e o agricultor me mandou ir para a cozinha conversar com sua esposa. O técnico tentou explicar que eu era estagiária, fazia agronomia… Mas não adiantou, fui parar na cozinha! Quando me formei, pediram indicação de um agrônomo, e o professor me indicou, mas quando liguei uma “mulher” atendeu e falou que só trabalhava com agrônomos homens — conta.

O projeto contemplado pelo CNPq intitula-se “Contribuindo para um agricultura mais sustentável: obtenção de cultivares de pimentões, minipimentões e pimentas resistentes à antracnose”. Ela explica que a bolsa DT é uma das raras oportunidades para pesquisadores que não são docentes concorrerem com seus projetos para a obtenção de financiamento público para suas pesquisas.

— Para nós, técnicos, é mais difícil concorrer à bolsa de produtividade igual a dos professores pelo CNPq. Então, essa é uma oportunidade para o reconhecimento do nosso trabalho, uma vez que é disponibilizado um valor mensal para o bolsista e, dependendo do nível em que formos enquadrados (DT 1A, 1B, 1C, 1D e 2), há uma taxa de bancada para execução do projeto, o que pode ajudar muito nas pesquisas do laboratório no qual o técnico está alocado — explica.

Segundo Cláudia, o projeto contempla ações para obtenção de novas cultivares, bem como atividades de extensão para a sua divulgação. O objetivo é lançar as primeiras cultivares resistentes à antracnose de pimentão e/ou minipimentão, um das principais doenças que acometem frutos na pré e pós-colheita.

— No entanto, não adianta apenas lançar a cultivar e registrar no Ministério da Agricultura para que ela seja utilizada pelos agricultores. Há a necessidade de divulgação dessa cultivar, e aí entra a parte de extensão, que inclui desde divulgação em mídias sociais até a realização de um Dia de Campo em regiões do estado que cultivem pimentão e/ou pimentas — explica.

Formada pela UFRRJ, Cláudia está na UENF desde sua fundação, em 1993. No início, esteve vinculada à chefia do CCTA, ficando posteriormenre vinculada ao então Laboratório de Recursos Genéticos e Banco de Germoplasma, hoje extinto. No concurso de 2000, ela passou a ocupar o cargo de técnica em nível superior do LMGV, onde atua até hoje. Na UENF, ela fez mestrado em Produção Vegetal e doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas.

Cláudia traz uma história de muita luta para chegar onde chegou. Ela conta que nasceu de uma parteira numa fazenda no pico da Serra de Santo Aleixo, em Magé-RJ, onde na ocasião não havia energia elétrica. Lavrador, seu pai decidiu se mudar para a cidade para que as filhas pudessem estudar, passando a trabalhar como pedreiro em Rio das Ostras (RJ).

— Aos sete anos trabalhei na casa do patrão do meu pai como babá durante as férias (4 meses) e, quando meu pai foi me buscar no início de março para eu iniciar a terceira série, a minha patroa falou que era para me deixar lá, pois o máximo que eu seria na vida era empregada doméstica — conta Cláudia, que foi a primeira da família a cursar o ensino superior.

Cláudia também conta ter sido vítima de preconceito por ser mãe solo. Uma vizinha chegou a sugerir que ela usasse uma aliança na mão esquerda e inventasse que o seu marido trabalhava embarcado. Para ela, absurdos como estes podem ter sido superados, mas não de todo. Ela acredita que as mulheres ainda são vítimas de muitos preconceitos.

— Mas, com profissionalismo, respeito com os colegas é possível irmos vencendo essas barreiras. Na UENF eu trabalhei com 13 funcionários homens subordinados a mim e a maioria me tratava com muito respeito e consideração. Temos que ter consciência do nosso valor e de que não merecemos menos respeito que qualquer pessoa/profissional seja ele de que gênero for — diz.

Com mais de 70 artigos científicos publicados, Cláudia agradece o incentivo que sempre recebeu da professora Rosana Rodrigues, com quem trabalha no LMGV.

— Acho importante ressaltar isso, pois muitos técnicos não recebem esse apoio — diz.

A professora Rosana destaca a importância da conquista da bolsa DT por Cláudia, lembrando que apenas 27% dessas bolsas foram concedidas a mulheres em 2022, segundo levantamento do Movimento Parent In Science.

— O 8 de março é marcado pela homenagem às mulheres. É um dia de comemoração, mas também um dia de lembrarmos a necessidade de continuarmos a luta por condições mais equânimes de trabalho e de vida. Trata-se de oportunidades iguais. A história da Cláudia Sudré é um exemplo em todos os sentidos: dos obstáculos e dificuldades enfrentados pelas mulheres e da força e determinação necessárias para a superação desses desafios. É preciso garantir a criação de ambientes favoráveis e saudáveis, além de oportunidades para o crescimento profissional e pessoal de forma equânime. Parabéns à dra. Cláudia e a todas as mulheres!” — disse Rosana.

Para o reitor da UENF, Raul Palacio, a história de Cláudia é um exemplo da garra, compromisso, dedicação e amor com que as mulheres trilham seus caminhos de vida.

— Num mundo ainda machista, o papel da mulher é fundamental em todos os aspectos da vida. Por isso, no dia em que escolhemos para referenciar as nossas companheiras de vida, trabalho e família, a palavras de ordem são: respeito e amor. Que neste e em todos os dias todas sejam tratadas com o respeito e amor que todas merecem — afirmou.

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