Palestra sobre desigualdade de gênero na ciência marcou encerramento do XV CONFICT/VIII CONPG

Letícia de Oliveira (à direita) ministrou a palestra de encerramento do evento, mediada pela pró-reitora de Assuntos Comunitários da UENF, Clícia Grativol (esquerda)

A desigualdade de gênero no mercado de trabalho e na ciência é um fato comprovado por dados em todo o mundo. Mesmo sendo ativas na ciência, as mulheres não conseguem chegar aos cargos de decisão, por exemplo. Para debater esse assunto, a presidente da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão da Faperj, a professora e neurocientista Letícia de Oliveira, ministrou a palestra “O viés implícito e as desigualdades de gênero na ciência”, no XV Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFIT) e VIII Congresso Fluminense de Pós-Graduação (CONPG). 

Letícia enfatizou que muitos direitos foram conquistados graças à luta das mulheres. O voto feminino só foi possível a partir de 1932. Também não faz muito tempo, em 1962, a mulher casada passou a ter o direito de abrir uma conta em banco e escolher a profissão sem a autorização do marido. A falta de virgindade deixou de ser motivo para a anulação do casamento em 2002. Em 2015, a mulher conseguiu o direito de registrar o filho no cartório, já que essa era uma prerrogativa do pai.  

Em um relatório que avaliou igualdade salarial, acesso à saúde, à educação e empoderamento político, o Fórum Econômico Mundial apontou que a igualdade de gênero no planeta irá demorar 132 anos.

— Eu acho isso muito tempo. Se a gente não fizer um empenho ativo para que essas mudanças aconteçam irá demorar muito tempo — declarou a palestrante.  

Dados recentes, de 2016 a 2019, mostram que as mulheres são muito mais sobrecarregadas com o trabalho doméstico e com os filhos do que os homens. Apesar de estarem na ciência, as mulheres têm baixa representação em posição de destaque e liderança.  

— Na UENF, por exemplo, nunca houve uma mulher reitora. Estamos na ciência, mas temos dificuldade de chegar em posição de destaque. Fatores como a maternidade, a sobrecarga, a perimenopausa e a menopausa explicam o assédio sofrido por mulheres na Academia. E ainda, menos de 3% de docentes na pós-graduação são mulheres pretas. Doutores na pós-graduação são em maioria homens brancos. Precisamos fazer uma força ativa para mudar esse quadro dentro da ciência — alertou.   

Neurocientista engajada, Letícia questionou: Por que são poucas mulheres nesses espaços? Para ela, uma das explicações é a questão do “O viés implícito e as desigualdades de gênero na ciência”, que é uma informação ativada automaticamente sem que percebamos e que pode moldar, guiar nossas impressões, julgamentos, sentimentos e reações.  

— Muitas vezes essa percepção não é consciente. O nosso cérebro captura os sentidos, temos visão, audição, a gente percebe o mundo e essa percepção modula o nosso comportamento. O que a gente não sabe é que o cérebro constrói ativamente a realidade, ele não só percebe. Quando eu não conheço uma determinada pessoa eu posso atribuir qualidades a ela porque ela faz parte de um determinado grupo, são os esteriótipos construídos socialmente que a gente acaba por criar e reproduzir esses padrões. Estamos reproduzindo, sem perceber, os padrões sociais que fazem que tenhamos ações discriminatórias sem que nós percebamos — explicou.  

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