Ao ministrar na tarde desta quarta-feira, 09/03/22, a Aula Magna do ano de 2022 na UENF, o professor Aldo José Zarbin, da Universidade Federal do Paraná, disse que o fortalecimento da ciência brasileira é um dos principais ingredientes para a reconstrução do Brasil. Segundo ele, o Brasil precisa retomar os investimentos em ciência e tecnologia, que tiveram um incremento muito forte de 2013 a 2015, mas que ultimamente vêm diminuindo gradativamente. “Este país precisa ser reconstruído e isto é impossível sem um olhar muito carinhoso para a ciência, tecnologia, educação e universidade pública”, disse. A Aula Magna foi transmitida pelo Canal UENF TV no Youtube.
Zarbin iniciou a palestra demonstrando o quanto os países ditos de primeiro mundo já compreenderam a relação direta entre o fortalecimento da ciência, tecnologia e educação e o desenvolvimento socioeconômico. Lembrou que a China, que na década de 1960 era um país eminentemente agrícola ou “quase feudal”, em pouco tempo se transformou numa potência econômica ao decidir investir maciçamente em ciência e tecnologia. Citou uma matéria da Nature intitulada “Como a ciência criou uma superpotência”, na qual a revista relata, entre outras coisas, que na década de 1980 a China, além de outras iniciativas, começou a incentivar as crianças a gostarem de ciência.
“Isso não é novidade; é o que acontece em todos os países desenvolvidos”, disse, mostrando uma reportagem de 2019 segundo a qual a Alemanha se comprometia, naquele ano, a investir 160 bilhões de euros nas universidades e pesquisa. Lembrou ainda que Joe Biden, ao assumir a presidência dos Estados Unidos, colocou como prioridade o aumento do orçamento para a ciência e tecnologia. “Existem inúmeros trabalhos mostrando a relação direta entre ciência/tecnologia e desenvolvimento socioeconômico”, disse.
Segundo Zarbin, apesar dos cortes orçamentários, o Brasil ainda ocupa o 13ª lugar no ranking dos países que mais produzem conhecimento científico no mundo. “De 2013 a 2018, a produção científica brasileira cresceu 30%, que é o dobro da média mundial. Se os investimentos continuassem, rapidamente teríamos subido desta posição, passando alguns países importantes”, afirmou.
Zarbin ressaltou que 95% da produção científica brasileira vem de universidades e institutos de pesquisa públicos, sendo 95% desta produção está vinculada a programas de pós-graduação e iniciação científica. Segundo o professor, das 50 maiores instituições de pesquisa brasileiras, 36 são universidades federais, sete são universidades estaduais e um é instituto federal. Dentre estas 50 instituições, consta apenas uma universidade privada. Ele observou que a maioria da população brasileira não sabe desta importante função das universidades públicas, que é, além de formar recursos humanos, produzir ciência e tecnologia.
“Além disso, a universidade pública é responsável por praticamente todo conhecimento novo. Ela está presente em todos os grandes projetos tecnológicos do país. Petrobras, pré-sal, soja no cerrado, Embraer, Pró-Álcool etc — tudo isso teve ou tem a participação de universidades públicas. As universidades públicas são o vetor fundamental no caminho imprescindível para a diminuição da desigualdade social no Brasil. Não se consegue pensar em crescimento econômico, soberania nacional, em como sair de uma crise sem a universidade pública”, disse.
Dentre os problemas que afligem as universidades, além da diminuição da verba para pesquisa, ele citou o congelamento, desde 2013, das bolsas de pós-graduação, acumulando perdas inflacionárias de 66%. “Como se quer uma ciência cada vez mais forte sem estimular quem está fazendo isso?. Além de ser baixo o valor, o número de bolsas está diminuindo cada vez mais. A pós-graduação brasileira é um dos maiores orgulhos que o país deveria ter, pois é um sistema que funciona muito bem e é muito bem avaliado. Foi construído com muito esforço para criar um sistema igualitário, é maravilhoso, mas infelizmente estamos no limbo”, disse.
Veja a palestra completa no canal UENF TV no Youtube.