Da EaD no Cederj ao doutorado na Unicamp

Criado há 21 anos com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino superior público, gratuito e de qualidade na modalidade Educação a Distância (EaD), o Consórcio Cederj vem ajudando, desde então, a concretizar o sonho de muitos jovens que, de outro modo, não teriam condições de cursar uma universidade pública. É o caso do itaperunense Ítalo Esposti, um legítimo “filho” do Cederj que hoje integra a equipe de pesquisadores do Centro de Química Medicinal da Unicamp. Ele foi um dos pesquisadores que contribuíram para a produção de insumos de um novo protocolo de teste da Covid-19, que permitiu diminuir o custo do procedimento.

Ítalo se formou em Ciências Biológicas/Licenciatura pela UENF através do Consórcio Cederj. Em seguida, fez mestrado em Biologia Celular e Estrutural na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Atualmente, ele é doutorando em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob orientação do professor Mário Henrique Bengtson.

Com a pandemia, o ensino remoto emergencial se tornou presente no dia a dia de milhões de estudantes, o que exigiu adaptações abruptas ao novo contexto. Para além do cenário pandêmico, existem alunos que já vivenciavam a modalidade remota, mas através da EaD, como Ítalo, que a ASCOM/UENF entrevistou para abordar o tema (veja abaixo). O objetivo é destacar, através deste relato, a acessibilidade proporcionada pelo ensino a distância.

O Consórcio Cederj, que reúne universidades e institutos de ensino superior (IES) com o objetivo de levar educação superior pública de qualidade para todo o estado do Rio de  Janeiro utilizando a modalidade EaD, oferece cursos de graduação distribuídos em 35 polos regionais. Além da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), integram o Consórcio as seguintes instituições: Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Além de Licenciatura em Ciências Biológicas, a UENF oferece, através do Consórcio Cederj, os cursos de Licenciatura em Pedagogia e Química. O processo seletivo para o Vestibular do Consórcio Cederj já está em andamento. Saiba mais aqui.

Ítalo Esposti Poly
Foto: Divulgação CQMED- Roberta Ruelo

ASCOM – Por que você escolheu o curso de Biologia?

Ítalo – Sempre tive interesse pela biologia e ciências da vida, principalmente a parte relacionada à saúde, por isso o curso de Ciências Biológicas me chamou muito a atenção.

ASCOM – Por que você optou pela modalidade de ensino EAD (Educação a Distância)? E por que escolheu uma instituição de ensino do Consórcio Cederj?

Ítalo – Quando entrei na graduação, eu já trabalhava e precisava me manter trabalhando, sem contar que na minha cidade (Itaperuna – RJ) não havia uma instituição de ensino superior gratuita com o curso que eu desejava. Então, dentro das minhas possibilidades e necessidades, o Cederj foi a solução. Ensino superior gratuito e de qualidade, com polo na minha cidade e na modalidade que me permitia continuar trabalhando.

ASCOM – Quais dificuldades você enfrentaria para acessar o ensino superior se não o cursasse na modalidade EAD?

Ítalo – Eu teria que parar de trabalhar e mudar de cidade, ou então pagar o curso em uma instituição privada. Nenhuma dessas opções era uma realidade para mim na época.

ASCOM – Como foi sua experiência com o ensino EAD através do Consórcio Cederj? Detalhe sua vivência.

Ítalo – Foi bem difícil e trabalhoso. Meu ensino médio não foi dos melhores, infelizmente. Entrei na graduação com conhecimento básico bem defasado e ainda tive que me adaptar a um modelo de ensino ao qual eu não estava acostumado. Precisei correr atrás para aprender as matérias que não tinha visto e também para me adaptar ao novo sistema. Levou um tempo, mas, depois que consegui me adaptar ao ritmo da EaD do Cederj, as coisas começaram a ficar mais fluidas. Hoje, eu já vejo como um grande diferencial. O Cederj proporcionava um suporte incrível, e eu tive tutores presenciais maravilhosos, que inclusive sempre me incentivaram muito a seguir a carreira científica. Eu ia em praticamente todas as tutorias, mesmo as não obrigatórias, quando meus horários permitiam. O material didático era muito útil e todas as ferramentas da plataforma também. Isso foi um diferencial.

ASCOM – Você acredita que a modalidade de ensino de hoje (ensino remoto emergencial), no contexto da pandemia, oferece a mesma experiência que você vivenciou durante a sua formação? Se não, quais as diferenças?

Ítalo – Não, e isso eu sempre comento. Atualmente, participo do Programa de Estágio em Docência da Unicamp, lecionando Imunologia para os alunos da graduação. É muito claro que o ensino remoto emergencial está defasado, apesar de estar melhorando. É diferente quando um curso em sistema presencial, de forma súbita, precisa ser revertido em EaD. Não há tempo para a qualificação dos professores e outros profissionais envolvidos, existe pouco domínio das ferramentas disponíveis. Para os alunos, falta um convívio social com os colegas, o que é uma forte desmotivação, e a adaptação é lenta. Uma coisa é o aluno optar pelo EaD, outra coisa é ter que fazer ensino remoto quando já cursava o presencial, por conta de uma situação como a pandemia que estamos vivendo.

ASCOM – Como foi seu processo de Iniciação Científica? Como você transitou da Licenciatura na modalidade EAD para o doutorado na Unicamp?

Ítalo – Infelizmente, a parte de Iniciação Científica no Cederj ainda era quase inexistente na época em que cursei. A UENF estava sempre de portas abertas e nos recebia muito bem quando a gente apresentava interesse em fazer Iniciação Científica em algum laboratório, porém era complicado o deslocamento até Campos dos Goytacazes. Tive alguns amigos que fizeram e gostaram muito. Nós fizemos um grupo de estudos de artigos científicos, que ocorria uma vez por semana, tudo organizado por nós mesmos, com ajuda dos tutores presenciais, porém era bem inicial.

Minha iniciação na vida acadêmico-científica começou de verdade quando iniciei o estágio no Laboratório de ImunoVirologia Molecular da Universidade Federal de Viçosa (UFV), onde eu já conseguia ir uma ou duas vezes por semana,. Aprendi muito nesse período! Logo depois fui aprovado no processo seletivo e ingressei no mestrado nesse mesmo laboratório. Foi um tempo maravilhoso que passei na UFV, cercado de pessoas ótimas, que faziam ciência de qualidade, e onde meu interesse por vírus e pela parte da saúde só aumentou. Quando eu terminei o mestrado, decidi vir para a Unicamp, pois tinha passado em um processo seletivo como técnico. Vim para o Centro de Química Medicinal (CQMED), onde comecei a trabalhar com o que chamamos de “target based drug discovery” ou, em tradução livre, descoberta do medicamento com base no alvo.

Depois também ingressei no doutorado, no Programa de Genética e Biologia Molecular. Durante a pandemia, surgiu uma intensa demanda por insumos para testagem da Covid, sobretudo as enzimas, que são os componentes-chave dos testes. Como nós já possuíamos uma plataforma para a produção de enzimas em larga escala e para desenvolvimentos de ensaios, pensamos que poderíamos colaborar com a pandemia desenvolvendo aqui uma metodologia para a produção desses reagentes (enzimas) que são amplamente utilizados em testes para Covid- 19 e outras doenças.

ASCOM – Conte-nos sobre a rotina do pesquisador.

Ítalo – Nós, pesquisadores, no geral, temos uma rotina bem agitada. Fazer ciência é muito mais que estar na bancada fazendo experimentos e misturando líquidos coloridos como normalmente é mostrado na TV. Ciência é perseverança e muito estudo. Quando surgiu a pandemia, as coisas ficaram ainda mais difíceis. Como se não bastasse a limitação de recursos para ensino e pesquisa, existia ainda o problema de não poder trabalhar normalmente. Hoje, estamos bem adaptados a um sistema que reveza entre Home Office e tempo no laboratório, mas ainda assim fica tudo muito corrido e condensado.

Eu, particularmente, penso muito no retorno que eu devo à sociedade por conta do investimento feito em mim em forma de qualificação. Isso também faz parte da minha rotina na parte de projetos de extensão, divulgação científica e projetos que têm aplicação direta na sociedade, como esse da produção de reagentes para testagem da Covid-19.

ASCOM – Como você imagina a sua vida caso não houvesse o EAD, através do Consórcio Cederj, na sua trajetória? Acredita que teria chegado ao doutorado na Unicamp?

Ítalo – Como disse acima, o consórcio Cederj era uma das poucas opções que eu tinha alcançáveis na época. Eu não consigo pensar em outra maneira de ter conseguido concluir minha graduação e de ter despertado meu interesse pela pesquisa que não fosse através do Cederj.

O laboratório em que Ítalo atua, na Unicamp – Foto: Divulgação CQMED- Roberta Ruelo

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