
O Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da UENF realiza nesta quarta-feira, 26/11/25, uma defesa de tese inusitada. A doutoranda Elizabeth García Mantilla vai estar defendendo sua tese de doutorado de forma remota, diretamente da aldeia Kykatêjê, localizada na Terra Indígena Mãe Maria, sudeste do Pará, onde vive o povo Gavião.
Intitulada “Trabalho fantasma: as obrigações do cuidado na aldeia Kykatêjê sob a gestão empresarial da Vale S.A.”, a pesquisa teve a orientação da professora Simonne Teixeira, do Laboratório de Estudo do Espaço Antrópico (LEEA) do Centro de Ciências do Homem (CCH).
A decisão de realizar a defesa de tese na própria aldeia onde foi desenvolvida a pesquisa é uma forma de Elizabeth agradecer ao povo Gavião, bem como estreitar os laços entre o povo e a Universidade. Segundo a pesquisadora, foram mais de quatro anos de relacionamento com os indígenas da aldeia Kykatêjê, nos quais foram desenvolvidos laços de afeto e convivência.
— Acho necessário apresentar minha pesquisa no território e ao lado do povo Gavião, reconhecendo tanto a importância do lugar de fala, uma fala que é deles, mas que como pesquisadora eu analiso, quanto a divulgação da minha pesquisa — diz.
Ela considera importante que os indígenas possam assistir e analisar is resultados de todo o processo, antes da versão final do documento.
— É uma forma de retornar o respeito que recebi durante todo esse tempo, em eles escutaram as minhas perguntas e demandas e responderam, e agora sou eu que vai responder. Quero ter o cuidado de fazer a banca dentro do território, que não é fácil, mas que aproxima a pesquisa e a deixa para eles — afirma Elizabeth, que é colombiana e veio para o Brasil através de uma bolsa da OEA.
Colombiana, ela conta que veio ao Brasil através de uma bolsa da OEA e aprendeu o idioma português em contato com o povo Gavião, ao participar do projeto de pesquisa e extensão Procad-Amazonia — do qual o Programa de Políticas Sociais da UENF faz parte.
Em sua pesquisa, Elizabeth analisa as transformações das relações de cuidado na aldeia Gavião Kỳikatêjê, a partir da política empresarial mobilizada pela mineradora Vale S.A. A pesquisa investiga como as obrigações contratuais impostas pela empresa convertem atividades de cuidado e reciprocidade em “trabalhos fantasmas”, essenciais para o funcionamento da empresa, porém invisíveis e não remunerados.
— A pesquisa pretende aportar à compreensão do trabalho indígena como parte do esforço de ampliação científica realizado nos estudos sobre a precarização do trabalho, assim como nos debates sobre os trabalhos do cuidado e trabalhos não remunerados, questionando as aplicações das políticas empresariais na Amazônia brasileira — afirma.
A defesa de tese ocorrerá a partir dàs 14h, na Sala Multimídia, com entrada aberta aos interessados.



