‘Podemos ter outro ebola escondido na Amazônia’

Professor Marcos Pedlowski, um dos autores de artigo na Science  sobre a Amazônia, fala sobre as consequências da degradação da floresta

O desmatamento e a degradação das florestas tropicais podem estar por trás do surgimento de vírus potencialmente capazes de gerar pandemias, como é o caso da Covid-19. É o que acredita o professor Marcos Pedlowski (UENF), um dos autores do primeiro estudo a conseguir mensurar a degradação na Amazônia Brasileira. O estudo, que envolve pesquisadores americanos e brasileiros, foi publicado no mês passado, na Science (https://science.sciencemag.org/content/369/6509/1378/tab-pdf)

“Podemos ter outro ebola escondido na Amazônia”, diz o pesquisador nesta entrevista concedida à ASCOM/UENF, defendendo a tese de que o ebola surgiu do desmatamento das florestas da África Central.

No artigo, os pesquisadores afirmam que a degradação ambiental na Amazônia brasileira supera o desmatamento. De 1992 a 2014, a área desmatada teria sido de 308 mil quilômetros quadrados e  a área degradada, de 337 mil quilômetros quadrados. O estudo se baseou em tecnologias aplicadas às imagens de satélites.

A extração seletiva, que remove árvores específicas para obtenção de madeira sem derrubar toda a floresta, é uma forma de degradação florestal detectada. Imagem de David Skole.

Segundo Pedlowski, o desmatamento é muito mais abordado do que a degradação porque é mais fácil de ser medido. Enquanto o desmatamento é a retirada de áreas contínuas para um uso inteiramente novo, como pastagem, a degradação ocorre por atividades como queimadas e extração seletiva de madeira. Sob o dossel florestal (estrato superior das florestas), muitas vezes a floresta não está intacta, mas as imagens de satélite podem não captar o problema.

O artigo mostra que, durante o período de 1992 a 2014, as políticas brasileiras contribuíram para a redução do desmatamento. Mas, de 2006 a 2010, a taxa média anual de degradação florestal por extração e queima era quase igual às taxas de desmatamento, e em 2014 as taxas de degradação haviam excedido as taxas de desmatamento.

Nesta entrevista, Pedlowski dá mais detalhes sobre a pesquisa, abordando ainda a política nacional para o meio ambiente e as consequências que a degradação da Amazônia pode trazer para a população de todo o planeta. Dentre elas, alterações no clima global e a geração de pandemias.

Imagem da europeanspaceagency em Visualhunt / CC BY-SA

ASCOM/UENF – Ouvimos muitos discursos contra o desmatamento da Amazônia, mas as pesquisas estão apontando um problema maior ainda, que é a sua degradação. A degradação e o desmatamento são coexistentes?

Pedlowski –  Tanto o desmatamento quanto a degradação são alterações da integridade ecológica dos biomas. No entanto, a degradação é uma alteração mais difícil de ser visualizada pelas técnicas tradicionais, baseadas na análise de imagens de satélites. A comunidade científica já discutia outras formas de alteração. Nossa equipe vem trabalhando com a questão da degradação há pelo menos 22 anos, desde que cheguei na UENF. Então, a degradação pode ser tão importante quanto  o desmatamento, só que ela é mais complicada para medir. Neste trabalho, nós detectamos e medimos diferentes formas de degradação. Não é tão fácil nem a detecção de imagens nem a identificação do  impacto da degradação. Existem dois elementos principais para a degradação florestal: a retirada de madeira e a penetração de fogo. Existe também o chamado efeito de borda. Toda vez que uma área é desmatada, isso prejudica o contato floresta a floresta. Ali é o que chamamos de borda. Existe uma sinergia; o desmatamento e a degradação não são processos que correm necessariamente juntos, mas em alguns aspectos ocorre uma sinergia, principalmente naquela degradação próxima da área desmatada.

ASCOM/UENF – A questão ambiental vai além da proteção à fauna e à flora, afetando também o ser humano. Fale um pouco sobre as consequências da degradação ambiental das florestas para a vida humana.

Pedlowski – A degradação produz alterações ecológicas que podem ser percebidas ou entendidas como menos importantes que o desmatamento. Desmatamento é a  alteração do bioma numa determinada área acima da taxa de 90% do que é arbitrado pela FAO. Tudo que vai acima disso é desmatamento e tudo que vem abaixo é degradação. Então você pode ter diferentes níveis de degradação. Mesmo uma área fracamente desmatada pode ter  alterações importantes na fauna, flora, no estoque de água etc. E o mais importante é que a degradação pode produzir a liberação de vírus e bactérias que estão estocados nos sistemas florestais. É por isso que alguns sanitaristas preveem que uma próxima grande pandemia por algum vírus até agora desconhecido ocorrerá justamente na Amazônia brasileira. Então a degradação tem alterações importantes do ponto de vista da fauna, da flora, dos serviços ambientais e tem também esse aspecto mais dramático que é a liberação de vetores que podem causar doenças sanitárias. Hoje temos arboviroses cujos vírus, até há algum tempo atrás, antes de termos essas grandes áreas desmatadas, estavam exatamente presos dentro da vegetação. Temos grandes surtos de febre amarela, malária e leishmaniose por conta disso. Pois, em condições normais, esses vetores estariam ali estocados, num equilíbrio entre presa e predador.  Ao se desmatar, esses vírus são liberados mais rapidamente, mas também ao se degradar aumenta-se a chance de liberação de doenças que viviam ali paradas, estocadas desde muito tempo. A degradação pode não despertar tanta atenção, e até hoje os governos se valeram do fato de que a degradação é mais difícil de ser medida. Esse artigo que publicamos na Science é a primeira estimativa da degradação na Amazônia brasileira. Acredito que outros grupos em breve também vão apresentar dados sobre degradação de biomas. É importante observar que os valores que apresentamos,  de 330 mil quilômetros quadrados de degradação, estão subestimados, ou seja, a medida foi extremamente conservadora. Os governos brasileiros vêm falando de 80 % da Amazônia preservada. Com esse trabalho, nós informamos que o máximo que temos de conservação integral  na Amazônia hoje é 70%. Uma diferença significativa, que aponta para o fato de que temos o potencial pra alcançar uma coisa que alguns teóricos falam  que é um ponto de não retorno  da sustentação ecológica da Amazônia, que poderia abrir espaço para a transformação da floresta numa grande savana, num grande cerrado. Esse sim seria um grande problema, e muito dramático, porque afetaria o clima global como um todo.

Os pesquisadores usaram imagens de satélite para mapear áreas de floresta intacta, terras desmatadas e florestas degradadas em toda a Amazônia brasileira. Imagem de Jay Samek.

ASCOM/UENF – Então, podemos dizer que a forma como a sociedade vem interferindo no meio ambiente potencializa o risco de doenças?

Pedlowski – Com certeza. Temos um grande exemplo de distúrbio que resultou na liberação de um vírus mortal, que  é o ebola na região central da África. Isso tem a ver com desmatamentos também. Então, quando nós falamos que há uma possibilidade de que haja a liberação de algum vírus mortal a partir dessas áreas de degradação intensa, áreas que até hoje estavam fora do alcance da alteração causada pela penetração da franja capitalista, é que pode ter também algum ebola estocado na Floresta Amazônica. Se tem lá na região central da África, por que não teria aqui?  Essa é uma primeira questão. A outra questão, que precisa ficar clara, é que a alteração florestal tem outro aspecto. Ela serve para alimentar grandes fazendas, principalmente na China, para quem o Brasil vende grande parte de sua soja. Não é para alimentação humana, mas para a alimentação de animais,  como porcos, vacas etc. Muito se fala, por exemplo, que a pandemia da Covid 19 começou no mercado de Wuhan por causa do consumo de morcegos, mas essa não é a grande possibilidade para o surgimento desse vírus. Se ele efetivamente surgiu em Wuhan,  foi porque naquela região existem grandes fazendas de  animais. Só em uma delas há cerca de 200 mil cabeças de vaca. E essas grandes fazendas corporativas, das quais não se fala muito, foram construídas em áreas que tinham florestas que eram habitadas por diferentes espécies de morcegos. Então, ao se desmatar essas áreas e fazer essas grandes fazendas, trouxeram os morcegos para a convivência dentro dos estábulos e armazéns com esse grande número de animais. E aí a mistura da interação de fezes de morcegos com fezes de porcos, bovinos, é onde está um caldo de cultura perfeito para o surgimento de grandes pandemias. A Covid-19 é apenas uma das grandes pandemias que estão sendo geradas nas grandes fazendas corporativas. A geração de pandemias está nas duas pontas: quando se altera os biomas florestais, principalmente nas florestas tropicais, e nessas grandes fazendas de animais para consumo utilizando as áreas desmatadas. Então quando a pessoa fala: meu modo de vida está levando ao surgimento das pandemias? Com certeza sim, e, eu lamento dizer, a Covid-19 não vai ser a primeira e não será a ultima pandemia com a qual nós vamos ter que conviver devido a esse modo de vida que, por um lado, desmata, e por outro, acumula uma quantidade impressionante de animais para servirem depois para uma dieta que, inclusive, não é pra matar a fome de ninguém, mas para dar vazão a um modo de consumo. Uma dieta baseada em superproteínas não tem nada a ver com fome. Tem a ver com o modo de vida que é gerado pelas grandes corporações que operam no setor de alimentos.

Marcos Pedlowski, professor da UENF, é um dos autores do artigo publicado na Science

ASCOM/UENF – Você considera que a narrativa que foi construída contra o desmatamento, que é um problema que já se conhece há muito tempo, acabou de certa forma encobrindo o problema, que pode ser até maior, que é a degradação ambiental?

Pedlowski –  A ciência nem sempre caminha na velocidade do problema que ela tenta estudar. Os melhores satélites para obtenção de imagens da Terra foram lançados na década de 1970, a série Landsat. Ou seja, não tem 50 anos. De lá para cá, foram criadas tecnologias como o geoprocessamento, que rastreia tudo rapidamente, mas o problema tem evoluído mais rápido que a ciência.  A ciência está sempre naquela situação de estar correndo atrás do problema. Então eu diria que agora já se tem ferramental técnico, formas de se detectar a degradação. Como eu já disse,  esse artigo é um corolário do trabalho de duas décadas. E nós não paramos; nesse exato momento  há mais medidas sendo feitas, do período de 2015 a 2018,  e provavelmente a gente vai encontrar mais problemas. A degradação diminuiu porque o desmatamento aumentou? Não necessariamente. Nas primeiras análises que temos para o período 2014-2018, a melhor estimativa é que não aumentou, mas  se manteve estacionada. Só que o desmatamento aumentou. Então nós temos que a degradação é um problema persistente, só que também ela está se afastando do que a gente considera historicamente de área tradicional de preocupação, que é a próxima do desmatamento. Estão sendo abertos caminhos, não que isso ocorra simultaneamente, mas está sendo feita uma operação de remoção de madeira e que vai facilitar depois que alguém chegue lá  provavelmente e queime. Nós detectamos dois tipos de degradação: uma que a gente chama de dependente do desmatamento  e a outra independente do desmatamento. Não apenas a degradação está acontecendo em função do desmatamento, mas está acontecendo independentemente dele. Como eu disse, tem sido mais fácil medir o desmatamento, por isso se prestou mais atenção nele e não na  degradação. Pode ser que num certo momento nós passemos a ter a velocidade para mensurar a degradação, que é tão rápida quanto o desmatamento. A gente demonstrou que nem tudo que é dito que é floresta, porque não é desmatamento, é floresta ainda, ou é uma floresta intacta. Então muitas vezes o satélite passa, você tem a impressão que ali está intacto, depois aplica uns programas de detecção automática da degradação, vai lá e encontra uma área altamente degradada. Então tem sido interessante para os governos manter a narrativa apenas do desmatamento. O fato de este artigo ter saído na Science é importante, pois, além de ser a principal revista de ciência do mundo, sabemos que todos os artigos passam por um crivo extremamente apertado, como passamos. Dos artigos da Science,  95% são rejeitados  na apresentação.  Tivemos que fazer três rodadas de avaliação, porque a revista viu que tinha um potencial novo para a ciência, pois a Science tem essa pretensão, mas tínhamos que demonstrar  que os números que estávamos apresentando para a degradação se sustentavam. E nós demonstramos com todas as discussões, foram três cartas com seis páginas. As cartas de respostas para as dúvidas eram maiores que o texto do artigo. Então estou bastante confiante que nós apresentamos a melhor estimativa conservadora para a degradação da Amazônia brasileira. E eu não tenho medo de dizer: no mínimo a alteração da Amazônia hoje é de 30%. Isso era até 2014. Como de 2014 para cá já se alterou um tanto, eu não ficarei surpreso se quando medirmos venhamos a ter em torno de 60% do que podemos chamar de intacto. E isso, por si só, já será desastroso para as mudanças climáticas.  A degradação não é um problema menor que os demais problemas que estamos vivenciando na Amazônia, muito pelo contrário, ela é tão ou mais importante que o desmatamento, essa é a verdade.

ASCOM/UENF – Você estuda a Amazônia desde 1991. Como você avalia todo o ataque desferido pelo governo ao INPE, com o objetivo de desqualificar seus trabalhos?

Pedlowski – Todo o ataque que está sendo feito contra o INPE, na tentativa de negar a qualidade da ciência que os seus pesquisadores produzem, é um tiro no pé. Isto porque pessoas como eu e outros cientistas que têm as mesmas bases de dado do INPE, que são as imagens do Landsat e outros satélites, apesar de estarmos em universidades públicas e esse ataque também estar sendo lançado às universidades, nós e parceiros americanos temos as imagens de Landsat de graça. O Planet o governo da Noruega acaba de disponibilizar universalmente aos pesquisadores que fazem estudo sobre alterações nas florestas tropicais. Isso quer dizer que, ao enfraquecer o INPE, o governo está deixando de ter um grupo de pesquisadores que tem um compromisso com o estado nacional fortíssimo. A estrutura do INPE foi alterada para quebrar toda a sua autonomia, o que é péssimo para qualquer instituição cientifica. Sua estrutura foi militarizada, o orçamento foi zerado, e a esperança é que o INPE pare de fazer ciência. Só que a ciência que o INPE ajudou a gerar  não pode ser parada. Essa capacidade tecnológica e os modelos que ele gerou foram adotados inclusive pela NASA. Vamos ter que fazer um trabalho redobrado pra que o INPE retome o que está sendo corroído agora por esses ataques, mas é uma besteira porque a expertise já está disseminada. Você pode sabotar o INPE, mas não pode mais parar  o processo de compreensão cientifica que o INPE ajudou a construir. Continuarão existindo pesquisadores que bebem da fonte que ele ajudou a criar. Nós continuaremos a trabalhar na degradação. Esse artigo da Science não é o canto do cisne, é apenas uma etapa de uma produção de conhecimento que continua.

Ao analisar as propriedades espectrais de cada imagem de satélite, a equipe conseguiu calcular a porcentagem de vegetação verde em cada pixel, revelando uma degradação florestal que geralmente é extremamente difícil de detectar. Imagem de Jay Samek.

ASCOM/UENF – Sabendo que 30% da Amazônia está degradada, ainda há tempo para que os órgãos de controle deem atenção a isso? Quais as alternativas para isso seja solucionado?

Pedlowski – Essa postura atual do governo Bolsonaro, que tirou todas as formas de controle ambiental, ainda vai criar muitos problemas para o Brasil. Vejo, por exemplo, a suspensão dos acordos do Mercosul com a União Europeia, mas poderá haver uma serie de punições em virtude desse desmonte ambiental que vem sendo realizado. Então primeira questão: queira o governo Bolsonaro ou não, no governo Bolsonaro ou depois dele,  o Brasil vai ter que voltar para o grupo de países que têm compromisso com o controle das mudanças climáticas. Já está demonstrado por uma série de estudos que manter a floresta intacta é economicamente mais vantajoso para o Brasil. Recentemente, tivemos uma tentativa de desmanche de uma série de proteções para as restingas,  pelo Ministério do Meio Ambiente, pra acabar com licenciamentos. Essa é mais uma tentativa de retornar à década de 70 do século 20, o que é outro equivoco. O Brasil será forçado, cedo ou tarde, talvez mais cedo do que tarde, por órgãos multilaterais, a abandonar essa política de ataque ao meio ambiente, não porque sejam bonzinhos, mas porque o grau de danos que estão sendo cometidos  nos sistemas ambientais brasileiros compromete também os demais países. Existe um interesse multilateral envolvido. Então primeiro o Brasil vai ter que chegar junto das políticas ambientais da maioria das democracias, coisa que não estamos fazendo nesse momento. A segunda coisa é que teremos que voltar a valorizar uma forma de uso da biodiversidade da Amazônia que não seja essa situação perdedora de transformar tudo  para virar pasto, que é o que esta acontecendo: 70% da floresta derrubada na Amazônia e Pantanal é para pasto. Hoje saiu um estudo mostrando que o gado brasileiro é o que menos gera dinheiro para o país. Infelizmente somos tomados por uma lógica do século 16. Temos que voltar para o século 21 e adotar uma serie de políticas que favoreçam formas de preservação ecológica e de melhor aproveitamento da biodiversidade. Isso em todos os biomas, porque quando você retira a proteção de manguezais pra facilitar a construção de resorts, isso não é econômico, não gera nada. Quem fizer um resort na costa brasileira paradisíaca nesse momento  sabe que esse resort pode vir a durar 10, 20 anos. Daqui a 10, 20 anos pode ocorrer erosão costeira, invasão do mar, ou seja, é tudo ganho de curtíssimo prazo. Temos que voltar a ter políticas que pensem a médio e longo prazo. Nesse momento toda essa destruição que está sendo causada na Amazônia é ganho de curtíssimo prazo, não tem projeto de desenvolvimento associado a isso, apenas geração de divisas, e uma geração de divisas deficitária. Se a gente colocar na ponta do lápis o quanto a gente está ganhando e quanto está perdendo… Por exemplo, com a transformação da Amazônia  em pasto, estamos perdendo. O agronegócio é a ancora da balança comercial brasileira, mas é uma ancora muito precária, porque vai chegar uma hora em que ninguém mais vai querer comprar esses produtos. Teremos toda uma Amazônia desmatada e degradada e ninguém querendo comprar essas comodities nossas. Vai ser um paradoxo muito grande e uma crise econômica ainda maior aqui dentro.

Os incêndios no sub-bosque são uma forma de degradação florestal indireta, que tende a ocorrer independentemente do desmatamento. Esses incêndios podem ser provocados acidentalmente ou por queimadas rotineiras de pastagens, embora também possam ser causados ​​por grilagem de terras. Os incêndios florestais no Brasil têm aumentado em frequência e severidade nos últimos anos, associados a condições mais quentes e secas devido às mudanças climáticas. Imagem de David Skole.

ASCOM/UENF – Diante da forma como o governo federal vem lidando com a questão da Amazônia, podemos afirmar que a degradação é um grande desafio não só ambiental como social?

Pedlowski – Primeiro temos que voltar à questão do que o presidente disse: que a Amazônia é uma floresta úmida e por isso não queima. É importante dizer que na Amazônia existem diversas formações, umas mais aptas a pegarem fogo do que outras.  Mas, mesmo as florestas mais densas são, sim, capazes de pegar fogo por causa da ocorrência de degradação. Ainda que ocorra o fogo acidental, ou natural, a grande pressão é dos fogos criminosos, que são iniciados em grandes fazendas. Então não existe essa ideia de a Amazônia não pegar fogo; ela pega fogo sim. Temos a narrativa de que há 80% de floresta preservada na Amazônia,  e esse trabalho que fizemos demonstra que existem frentes de degradação via fogo na Amazônia. Ou seja, a penetração de fogo em áreas florestadas é significativa o suficiente para causar degradação. Mas o Fernando Gabeira escreveu este final de semana que provavelmente nem o presidente acredita no que fala.  Cedo ou tarde nós teremos que nos confrontar com a necessidade de preservar o meio ambiente.  Nesse exato momento não é uma prioridade em nenhum nível de governo, muito menos no governo federal. Os problemas começam dentro do próprio Ministério do Meio Ambiente,  onde há um negacionista do clima, uma pessoa que acredita que, acabando com todas as proteções, haverá um tipo de facilidade econômica para o Brasil. Essa é a situação que nós temos pela frente nesse momento. E ela é muito prejudicial para o País. Só que, cedo ou tarde, quando os grandes investidores, as grandes redes de supermercado  europeias, mesmo chinesas, pararem de  comprar no Brasil, ai provavelmente diante do imenso prejuízo, teremos alguma questão colocada seriamente para o Brasil. Será uma questão econômica e política. Então todo esse estrago que está sendo feito nesse momento provavelmente será concluído por uma grande ação vinda de fora e também de dentro para impor um modelo que não seja tão degradador e destruidor do meio ambiente. Essa é a minha expectativa.

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