Um dos mais expressivos patrimônios históricos e culturais da região está a salvo. Construído no século XVII, o conjunto arquitetônico da Fazenda Campos Novos, situado no distrito de Tamoios, em Cabo Frio, já não corre mais o risco de desabar, como ocorria até julho do ano passado, quando foram iniciadas as obras de restauração. Na última sexta-feira, 29/11/24, em cerimônia realizada na capela da Igreja Santo Inácio, foi feita a entrega oficial da primeira parte da obra de restauração da Fazenda, que deverá abrigar o Núcleo de Pesquisa e Pós-Graduação, o Museu Interativo – Brasil Além dos 500 e o Centro de Referência dos Povos Tradicionais e Matrizes Africanas.
A verba para a restauração é fruto do Projeto de Lei Nº 5275, de autoria do deputado estadual André Ceciliano, que destinou R$ 30 milhões para dois projetos de restauração — a Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, e o Solar do Colégio, em Campos dos Goytacazes —, cabendo à UENF a gestão dos recursos. O dinheiro é proveniente do Fundo Especial da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Na primeira etapa da obra, foram investidos cerca de R$ 4,2 milhões.
A reitora da UENF, Rosana Rodrigues, lembrou que, quando a UENF foi chamada a participar do processo, chegou a ser criticada, uma vez que o trabalho de restauração de bens tombados não é a missão principal da universidade. Rosana frisou, no entanto, que a tarefa está dentro do escopo de ações de uma universidade que caminha lado a lado com as comunidades.
— A UENF não se acovardou. É uma honra estar à frente da Reitoria de uma Universidade que participa de um processo coletivo com órgãos governamentais, instituições privadas e também com as comunidades tradicionais. Para estas comunidades, hoje estamos começando a recontar a história desse lugar, sem nenhum apagamento histórico, trazendo de volta o protagonismo das pessoas que habitam esse território. Sozinhos não vamos a lugar nenhum. Esperamos poder contar com vocês nessa trajetória que terá continuidade — disse.
A reitora da UENF salientou que a inauguração da etapa inicial das obras tem um simbolismo muito grande. Lembrou que a situação em que se encontrava a Fazenda Campos Novos causou consternação a todos que participaram do processo. Segundo afirmou, a fazenda era o retrato do abandono não só do prédio, mas de uma história.
— Então foi muito profundo isso para nós. Quando a UENF aceitou receber a verba para a restauração também se orientou para esta direção, a de trabalhar com as comunidades. Quero fazer menção ao prefeito José Bonifácio, que propôs a cessão desse espaço para a UENF por um período de dez anos para que nós pudéssemos assim acelerar todas as decisões em relação a este patrimônio. Isso demonstra um gestor público muito comprometido com a sua comunidade, o seu território — disse.
Rosana ressaltou que a obra em si não termina agora, mas está na verdade começando. Segundo ela, a obra só se dará por terminada quando for feita a entrega definitiva do Centro de Referência dos Povos Tradicionais e Matrizes Africanas, quando o prédio estiver completamente funcional e funcionando e se tornar um polo para pesquisas em todas as áreas do conhecimento.
O ex-reitor da UENF, Raul Palacio — à frente da Universidade quando todo o processo foi iniciado — definiu o trabalho feito em Campos Novos com três palavras: coletividade, inclusão e amor. Raul fez questão de mencionar a participação decisiva do ex-prefeito José Bonifácio (falecido em 17/07/23) para que a obra se concretizasse. Também observou que a Universidade não trouxe nenhum projeto pronto, mas fez questão de discutir tudo que seria feito com a comunidade local.
— Tudo começou quando ele decidiu desapropriar a fazenda e passá-la para a sociedade. Ele queria que toda aquela tristeza que a fazenda tinha dado à população em relação à escravidão fosse revertida em um local para a sociedade, e é isso que estamos fazendo. O Zé foi o incentivador e aglutinador máximo de todo esse processo e continua incentivando, mesmo não estando presente. É importante dizer que a inclusão da coletividade se dá quando a figura máxima do município e as instituições acreditam na coletividade. Nada teria acontecido se a Prefeitura não tivesse se dedicado para que isso acontecesse — afirmou Raul, que destacou também a ajuda crucial do deputado André Ceciliano.
Realizada na capela do solar, a cerimônia teve início com o pronunciamento do diretor cultural do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), Marcelo Dias. Ele lembrou que em 2016, quando atuou como presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB-RJ, numa audiência com a participação de mais de 150 quilombolas da região de Cabo Frio e do Espírito Santo, uma das reivindicações, registrada no relatório da Comissão, foi que a Fazenda Campos Novos se transformasse no Centro de Referência da Herança Africana Quilombola e das Comunidades de Matriz Africana.
— Recentemente o deputado André Ceciliano fez uma emenda de 30 milhões encaminhada à UENF para que a fazenda se transformasse no Museu de Darwin. Quando eu soube fui até o deputado, que é meu amigo, fui deputado com ele, e lembrei que tínhamos uma reivindicação para o Centro de Referência. Ele então me passou o telefone do saudoso prefeito José Bonifácio, que disse que iria criar uma comissão para que fosse criado não só o museu como também o centro de referência. E eu tive a felicidade de participar dessa comissão com integrantes da UENF e do movimento negro. Quero saudar a UENF e a Prefeitura de Cabo Frio por terem cumprido essa promessa — disse.
Também presente à solenidade, a superintendente do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Ana Cristina Carvalho, disse que esta primeira etapa foi fundamental, emergencial, assegurando a estabilidade do prédio para que as outras etapas possam ser realizadas. Ela também ressaltou a importância da parceria entre a Prefeitura, Iphan, Inepac e UENF para que as coisas acontecessem.
— Sabemos que o Inepac muitas vezes acaba sendo mal visto. O tombamento construiu ao longo do tempo uma imagem muito negativa, e meu trabalho é desconstruir essa imagem. O tombamento é fundamental para a preservação do patrimônio. Queremos ser vistos como parceiros, tanto as prefeituras como as instituições de ensino e os proprietários — disse.
A superintendente estadual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Patrícia Regina Correia, ressaltou o bom trabalho realizado pela empresa Sarasá, que vai permitir colocar em uso um bem tão importante não só para a ciência — com a criação do Museu Interativo — como para a comunidade quilombola, com o Centro de Referência dos Povos Tradicionais.
— Nós, que somos gestores do patrimônio, ainda que tenhamos o duro papel de falar “não” muitas vezes, quando vemos que esse “não” foi produtivo, que foi para um bom caminho, a gente fica satisfeito. Sabemos que essa fazenda, que é do século XVII, vai se perpetuar ainda por muitos e muitos séculos porque à frente desse trabalho que foi feito com tanta responsabilidade pela empresa, havia órgãos como o Iphan e o Inepac — disse.
Pela Prefeitura de Cabo Frio, esteve presente o assessor especial Wilson Miranda. Em seu pronunciamento, ele ressaltou o trabalho das inúmeras pessoas que lutaram há décadas pelo tombamento da Fazenda Campos Novos, na intenção de tentar salvar esta parte importante do patrimônio histórico do município.
Também participou da cerimônia a viúva do prefeito José Bonifácio, Ana Lúcia Valadão, que lembrou do desejo do marido de poder restaurar e dar novo uso à Fazenda.
— Todo gesto é um gesto político, e um gesto político é um gesto de escolha, é um gesto de desejo. O Zé está aqui politicamente presente. Se eu puder representar o que ele desejou pessoalmente e coletivamente eu quero dizer que estou muito feliz porque o desejo do Zé está aqui — afirmou Ana.
Em 17/12/21, após a aprovação do projeto de lei que destinou à UENF os recursos necessários para a restauração da Fazenda Campos Novos, o prefeito José Bonifácio afirmou:
“Sem o deputado André Ceciliano não teríamos essa possibilidade real de restauração completa. Quero agradecer demais também à UENF, em nome do reitor Raul Palacio, que foi um grande parceiro que abraçou essa causa. Fico muito feliz que vamos recuperar este patrimônio, que me deixava noites sem dormir com medo daquilo cair. Deus vai permitir que a gente tenha tempo de restaurar toda a estrutura. Ganha Cabo Frio, ganha a Região dos Lagos, e ganha a arquitetura deste local que marcou um período importante do Império no Brasil e tem muita história para contar. Recuperar este patrimônio é também não se deixar perder boa parte da história” (Site da Prefeitura de Cabo Frio).
Histórico e Projeto de restauração
A cerimônia contou ainda com uma apresentação do projeto de restauração pela empresa Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, vencedora da licitação na modalidade concorrência para a execução da obra. A apresentação foi realizada pelo coordenador da empresa, Antônio Sarasá; e pela coordenadora de Projetos Culturais, Gabriela Cardinot.
De acordo com a Sarasá, a Fazenda Campos Novos está localizada em uma área próxima a seis comunidades remanescentes quilombolas: Maria Romana, Preto Forro, Botafogo e Caveira, Maria Joaquina, Rasa, Baía Formosa. A área cedida à UENF possui 18.000 metros quadrados. A Fazenda inteira totaliza 1.920.000 metros quadrados.
A construção da sede da Fazenda data de 1690 — 76 anos após o estabelecimento da região de povoamento Santa Helena do Cabo Frio. Com a expulsão dos jesuítas, primeiros donos da Fazenda Campos Novos, em 1579, seus bens são sequestrados. Em 1778, a Fazenda foi arrematada pelo negociante Manoel Pereira Gonçalves.
Após um período de intenso e violento conflito de terras, que vai de 1950 a 1980, a Fazenda é desapropriada pelo município no ano de 1990. Em 2000, chegou a ser feito um projeto para transformar parte das terras em um aterro sanitário, mas não foi à frente e, em 2003, o Inepac realiza o tombamento provisório do conjunto arquitetônico.
Em 2014 são realizadas obras emergenciais no edifício sede da Fazenda Campos Novos. Em 2015 o conjunto arquitetônico é inscrito no Livro do Tombo Histórico e no Livro Tombo de Belas Artes do Iphan. Em 2017, é inscrito no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Em 2021, é firmado o Termo de Cessão da Prefeitura de Cabo Frio para a UENF.
A proposta de ocupação para o Edifício Sede da Fazenda Campos Novos abrange um Núcleo de Pesquisa em Pós-Graduação, com salas de aula, salas de estudo, sala multiuso, ambiente de estar e permanência, administração e armazenamento. Inclui ainda o Museu Interativo Brasil Além dos 500, com salas de exposição interativas, ambiente de estar coletivo, recepção e acervo, bem como o Centro de Referência dos Povos Tradicionais e Matrizes Africanas, que terá biblioteca, sala de estudos, salas de exposições, sala multiuso para pesquisa, reuniões e aulas. O projeto prevê ainda a construção de um prédio anexo para os equipamentos de apoio, contendo auditório, sanitários, vestiários e refeitório.
Segundo o site da Prefeitura, a Fazenda Campos Novos foi de fundamental importância na formação da cidade entre os séculos XVII e XVIII. Tratava-se do principal complexo agrícola de toda a região do litoral fluminense, abrangendo “uma área de rara riqueza ambiental, pré-histórica e histórica. O prédio da fazenda é uma das poucas construções jesuíticas ainda de pé no território brasileiro”.
O conjunto arquitetônico é formado por uma casa-grande, a igreja de Santo Inácio e um cemitério. D. Pedro II, Princesa Isabel e Conde D’eu, Príncipe Maximiliano, Saint-Hilaire, John Luccock, entre outras personalidades, hospedaram-se na Fazenda Campos Novos. Em 1832 ela recebeu a visita do maior naturalista de todos os tempos: Charles Darwin, durante sua viagem ao norte fluminense, de 08 a 24 de abril daquele ano.
Veja outros depoimentos que marcaram o momento:
*Rosana Rodrigues, Reitora da UENF
A experiência da UENF agindo em prol da educação e cultura em Cabo Frio tem sido um grande desafio e privilégio, segundo a reitora da Universidade:
— A Universidade foi chamada para participar deste processo de restauração e conservação de um patrimônio histórico de grande relevância não só para o município de Cabo Frio, mas para todo o estado do Rio de Janeiro. E ela então se apresentou para encarar este desafio. Estamos na primeira etapa que corresponde à fase emergencial de uma obra que viabiliza a existência e a continuidade deste patrimônio que é a Fazenda Campos Novos. Para nós é motivo de muito orgulho, coletivamente, termos trabalhado com tantos institutos, tantas instituições, tantas pessoas, para trazer à vida, novamente, um prédio tão relevante para os povos tradicionais aqui da região.
Rosana também falou sobre a expectativa da segunda parte da obra:
— Temos a expectativa agora de iniciar a segunda etapa da obra, que aí sim tornará esse espaço um espaço interativo. Com muitos cursos, lançamento do Centro de Referência dos Povos Tradicionais e Matrizes Africanas, a participação da nossa Escola de Extensão, viabilizando vários treinamentos, capacitações e trocas de saberes entre a Universidade e a comunidade local, principalmente — disse.
*Raul Palácio, ex-reitor da UENF
Os trabalhos para dar início às obras de reforma da Fazenda Campos Novos aconteceram no momento em que o professor Raul Palácio exercia o cargo de reitor da UENF.
Num breve histórico desta jornada, Raul situa que o ex-prefeito de Cabo Frio José Bonifácio tinha uma relação próxima com a UENF.
— A própria filha de Zé estudou na universidade, então ele já conhecia a UENF há muito tempo. Sua relação com a universidade vem de longa data. Buscamos, após ele ter entrado na Prefeitura de Cabo Frio novamente, restabelecer esta relação para que pudéssemos ter o desenvolvimento da universidade na Região dos Lagos — explicou Raul.
Durante as visitas que a equipe do professor Raul fez a Cabo Frio, José Bonifácio colocou a situação da Fazenda Campos Novos.
— Agora está tudo bonito, mas ela estava literalmente caindo. E o pensamento dele era que a Fazenda fosse recuperada. Estamos falando do período da pandemia. Um período muito difícil em que a gente pensava nos seres humanos, em melhorar a situação da saúde, mas não poderíamos pensar só nisso. E fizemos o compromisso com o Zé Bonifácio de recuperar a Fazenda Campos Novos. De início só duas pessoas acreditaram no compromisso da gente. O Zé sempre foi um incentivador e a Bia que trabalhava junto dele. Começamos a somar pessoas. E essa Fazenda está hoje deste jeito porque teve um grupo de trabalho por trás que sempre se dedicou para que isso acontecesse. Então, para além de tudo, este é um trabalho inclusivo, coletivo sendo realizado — disse.
De acordo com Raul, a primeira pessoa que foi incorporada ao grupo de trabalho foi o então deputado estadual André Ceciliano.
— A gente precisava de recurso e ele estava fazendo algumas atividades no município. Conversamos, e Ceciliano prontamente entendeu o projeto e conseguimos o recurso da primeira etapa. Depois veio a fase mais difícil: como uma universidade pública consegue estabelecer um projeto de recuperação de um patrimônio? Porque isso não existe e nunca existiu. E começar do zero. Conseguir o recurso, fazer o projeto, conseguir licitar, fazer todo esse processo. Aí veio o professor Giovane (diretor de Cultura da UENF), que trouxe uns amigos do Iphan e apareceu o projeto. Era um projeto que já tinha sido feito pelo Iphan há um tempo. Mas para executá-lo, precisávamos fazer um levantamento do prédio e aí entra uma outra parte da equipe — relatou.
Raul explicou que, durante este levantamento, foram encontrados morcegos, ratos, mosquitos, todo o tipo de animal, além de um prédio muito deteriorado, caindo.
— Depois disso, a gente teve a sorte de ter entrado uma empresa como a Sarasá que fez uma obra magnífica. E durante esse processo foram incorporados também o Iphan, o Inepac e o Imupac (Instituto Municipal do Patrimônio Cultural de Cabo Frio-RJ). Mas sempre tivemos um grupo de trabalho que tinha um objetivo: colocar a Fazenda Campos Novos pronta para ser utilizada para a sociedade — disse.
*Giovane do Nascimento, diretor de Cultura da UENF
Diretor de Cultura da UENF, Giovane do Nascimento destaca o significado afetivo do local para as comunidades ao redor da Fazenda Campos Novos.
— Esse é um momento muito importante para nós porque, na verdade, a Fazenda Campos Novos tem um significado afetivo muito grande para as comunidades ao redor. E, sobretudo, pela quantidade de quilombos presentes nessa região, além das famílias muito ligadas à agricultura familiar. É um espaço que é atravessado por muitas temáticas interessantes, desde os sambaquis, até as visitações de Saint-Hilaire, Charles Darwin, D. Pedro II. Da importância de Sebastião Lan, que foi uma pessoa fundamental para o Movimento Sem Terra — disse.
Ele lembrou inclusive que muitos dos moradores locais enterraram seus parentes na Fazenda Campos Novos, em Tamoios.
— É importantíssimo esse papel que a Universidade está cumprindo e principalmente pela forma como cumpriu. Que foi de uma interlocução constante com os órgãos como Iphan, Inepac, Imupac, com representantes da sociedade civil, dos quilombolas, entre diversas outras representações — pontua.
*Antônio Sarasá, coordenador do Estúdio Sarasá Conservação e Restauração
Segundo o coordenador do Estúdio Sarasá Conservação e Restauração, Antônio Sarasá, o grande desafio da obra de restauro do prédio da Fazendo Campos Novos foi o cuidado no processo de estudar o edifício, entendê-lo. Depois foram feitas as primeiras consolidações e o entendimento de onde estava a degradação.
— A gente quase que atuou como Zeus aplacando a fúria do Kronos. Porque a morte está decretada nos edifícios. E a nossa missão de conservação e restauração é exatamente isso: é dar mais um tempo a esses produtos naturais que vêm pro mundo cultural — disse.
Sobre a parceria para a conservação da Fazenda Campos Novos, ele destacou:
— A UENF é o sol deste processo e a gente foi orbitando junto como todas as estrelas. Deu super certo justamente por ter todas estas influências como o Inepac, Iphan e a gerência da UENF dando esta liberdade e essa transgressão, inclusive, de entender esse edifício como vida. A abertura com a UENF foi muito importante na coletividade e no resultado — disse.
*Gabriela Cardinot, coordenadora de Projetos Culturais do Estúdio Sarasá
— Quando a gente chegou aqui, o prédio estava em condição de arruinamento. Partes do telhado estavam já despencadas, algumas partes de madeira interna também estavam muito deterioradas, apodrecimento, umidade, sem piso, sem assoalho, a presença de cupim em quase todo o madeiramento, o guarda corpo caído. A gente precisou entender, primeiro, como o prédio era e como ele se comportava, analisar as técnicas construtivas dele. E essas técnicas tradicionais encontradas necessitavam de uma intervenção específica. Um tratamento especial compatível com elas — explicou.
Gabriela explica que uma das surpresas deste processo de restauro foram as pinturas artísticas encontradas nas paredes da capela.
— Ao longo do processo de execução de serviço de restauro, a gente identificou uma camada mais antiga, mais detalhada desta pintura artística. Assim como ela, a gente encontrou outras também. A igreja tem várias camadas de pinturas artísticas, de tempos diferentes. Ficamos muito felizes com essas descobertas, além do douramento do altar, que são camadinhas de folhas de ouro em alguns elementos decorativos — contou.
*Patrícia Wanzeller, superintendente do Iphan RJ
Órgão fiscalizador e também parceiro no processo de restauração da Fazenda Campos Novos, o Iphan esteve com representações durante a inauguração da primeira etapa da obra da Fazenda, como da superintendente do Iphan RJ, Patrícia Wanzeller.
Patrícia explica que o prédio localizado em Tamoios é um bem tombado do Iphan e, por isso, o Instituto entrou como órgão fiscalizador da obra mas, também, como parceiro para que ela chegasse ao final da maneira que é contemplada e como era inicialmente no original do edifício.
— Todas as vezes que na cultura as parcerias acontecem, elas são coroadas com sucesso, sobretudo, quando é com a universidade. Porque não é só a questão do patrimônio, mas é a produção de um conhecimento de restauro que é produzido a partir de uma obra de proteção ou de restauro. Então a gente entrega para a sociedade novamente um bem do século XVII mas também, a partir dessa junção Iphan, Prefeitura e Universidade, entregamos conhecimento para os jovens da região —ressalta.
*Ivo Barreto, arquiteto do Iphan
Ivo Barreto foi responsável pelo tombamento, pelo Iphan, da Fazenda Campos Novos.
— Depois deste tombamento, quando surgiu a possibilidade de verba para sua restauração, a UENF me contatou para que eu a auxiliasse nesse processo, a partir de outras experiências minhas de trabalho, uma delas na Casa da Flor [localizada em São Pedro da Aldeia (RJ)]. A gente criou um Comitê Gestor de Obras e dentro deste comitê íamos decidindo as questões da obra — explicou.
Dentro da situação da Fazenda Campos Novos, Ivo ponderou que conhecia o estado de conservação e sabia o que dava para fazer.
– Eu achava que cabia uma obra emergencial e nós tínhamos um projeto dentro do Iphan feito. A gente disponibilizaria este projeto e, a partir daí, a coisa andou. A Prefeitura entrou orçando, revisando o projeto, para depois a licitação ser feita pela UENF. Fornecemos os modelos de edital, conversamos e foi um pontapé importante para ver tudo caminhar — contou.
Jornalistas: Fúlvia D’Alessandri e Thábata Ferreira
Fotos: Maria Clara Freitas