Mostra de Extensão discute divulgação científica e saberes tradicionais

Em seu terceiro dia de atividades, a XIII Mostra de Extensão UENF/UFF/IFF e V UFRRJ realizou uma mesa-redonda sobre o tema “Transversalidades na Extensão & Divulgação Científica”. O tema foi debatido por Fernando Malta (conhecido como Fencas) e Julia Jaccoud, que atuam em podcasts de divulgação científica. A mediação ficou a cargo dos professores Bruno Jardim (IFF) e Aline Intorne (IFRJ).

Formada em Licenciatura em Matemática pela USP, Julia Jaccoud é a criadora do canal de divulgação científica “A Matemaníaca”, do YouTube, que tem por objetivo popularizar a matemática. Já Fencas é formado em Relações Internacionais, com especialização em Gestão Ambiental e mestrado-profissionalizante em Engenharia Urbana e Ambiental, além de host do SciCast Podcast (Portal Deviante) — um dos maiores podcasts de divulgação cientifica do Brasil.

Fencas e Júlia falaram sobre suas experiências na área de divulgação científica, bem como os principais desafios para levar a informação aos mais variados públicos. Fencas ressaltou que uma das maiores dificuldades, no caso dos podcasts, é explicar conceitos de ciências exatas sem utilizar imagens, mas somente a voz. É preciso, segundo ele, encontrar meios de tornar a narrativa atraente. Uma das estratégias utilizadas é contar a “história por trás da história”, ou seja, os processos que levaram às descobertas.

Júlia afirmou que o maior desafio ao fazer podcasts de matemática é superar a ideia dominante de que matemática é difícil. “É socialmente aceito que a gente não gosta de matemática. Mesmo com todos os esforços que você faça pra falar de matemática, da maneira mais inspiradora possível, as pessoas ainda têm um bloqueio social muito grande”, disse, acrescentando que aqueles que demonstram gostar de matemática muitas vezes são vistos como pessoas diferentes.

Para ambos, um dos papéis da divulgação científica é fazer com que as pessoas continuem questionando o mundo, e se maravilhando com as respostas, como faziam quando crianças. Nesse sentido, a escola tem um papel fundamental.

“É muito triste ver que a gente afastou muito a matemática das pessoas, ao nível de elas não saberem nem fazer uma pergunta em relação a esse assunto, que é tão curioso, que diverte tanto quando ele chega a essas pessoas. Então hoje olhando a divulgação da matemática em relação às outras ciências, eu vejo que a gente tem muito a aprender ainda. A gente tem menos espaço de mídia, precisa cavoucar esse espaço. A gente precisa aprender a andar com as outras ciências pra falar dessa matemática de uma maneira mais acessível. A divulgação da matemática ainda engatinha perto de divulgações de outras ciências e isso se deve ao que a escola continua perpetuando em cima de um ensino que só valoriza saber a resposta do vestibular”, disse Júlia.

Saberes Tradicionais – A última mesa-redonda do dia foi sobre o tema “Saberes Tradicionais” e contou com a participação do professor José Roberto Linhares de Mattos (UFF) e a produtora cultural e mestre em Planejamento de Desenvolvimento Auda Piani. A mediação ficou a cargo da professora Elis Miranda (UFF).

José Roberto apresentou o trabalho acadêmico “Povos Tradicionais”, uma coleção formada por três volumes: “Interfaces Educativas e Cotidianas: Africanidades”, “Interfaces Educativas e Cotidianas: Povos Indígenas” e “Interfaces Educativas e Cotidianas: Campestres”. Organizada por José Roberto Linhares e outros pesquisadores, a coleção foi publicada este ano pela Editora do Instituto Federal do Amapá. Os livros podem ser baixados gratuitamente no site da Editora.

“Como estamos no centenário do nascimento do Paulo Freire, eu gostaria de dizer que não devemos só anunciar, mas também denunciar. Os povos tradicionais, que já vinham passando por momentos difíceis, desde o governo Temer, estão tendo suas situações ainda mais complicadas pelo atual governo. O descaso com os indígenas, por exemplo, na pandemia, causou cerca de 60 mil contaminações e mais de 1.200 mortes. Temos ainda a ameaça do marco temporal, que quer retirar as terras daqueles que as protegem e resguardam o futuro de todos nós, porque são os indígenas que resguardam a floresta, não somos nós. E a floresta não é só para eles, todos nós precisamos dela. É preciso resistir lutando. Ir para as ruas, ir para Brasília, como os indígenas estão fazendo. E todos nós devemos ajudar os indígenas nessa luta”, afirmou o professor.

Auda apresentou o seu projeto de extensão “Entre panelas, memórias e sentidos”, desenvolvido na Universidade Federal do Pará (UFPA), que busca resgatar os saberes tradicionais relativos à culinária local. “Eu busco os processos culinários, incluindo visitas às comunidades quilombolas, registrando essas experiências do dia a dia, vivenciando, fazendo rodas de conversa, e tenho visitado vários locais, vários tipos de produção de alimentos, para saber como se dá essa coleta, as técnicas, como se transfere esse saber. E isso vem demonstrando cada vez mais a importância e a necessidade de reconhecimento desse saber na nossa sociedade”, disse.

Assista as mesas-redondas AQUI.

Encerramento – Nesta quinta-feira, 07/10/21, às 15h, será realizada a palestra de encerramento da Mostra de Extensão, sobre o tema “Mudanças Climáticas – Conclusões do Relatório IPCC”. O palestrante será o economista Sérgio Besserman.

Ganhador do Prêmio BNDES de Economia em 1987, Besserman ocupou o cargo de presidente do IBGE durante o governo Fernando Henrique Cardoso, tendo comandado a realização do Censo 2000. Ele é ambientalista e membro do conselho diretor da WWF Brasil e trabalha no tema Mudanças Climáticas desde 1992. Atua como professor de economia brasileira na PUC-Rio, comentarista de sustentabilidade na Globo News e da cidade na Rádio CBN.

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