Pesquisa da UENF monitora habitat de roedor ameaçado de extinção

Trinomys eliasi, conhecido como rato-de-espinho

Dentre os animais em risco de extinção, os roedores ocupam uma parcela significativa, com cerca de 332 espécies sob algum nível de ameaça. Uma das dificuldades em enfrentar o problema é a escassez de informações básicas sobre estes animais. Pensando nisso, o grupo de pesquisa liderado pela professora Caryne Braga, do Laboratório de Ciências Ambientais da UENF (LCA), vem se dedicando ao estudo do modo de vida destes animais. 

Na mira das pesquisas, está a espécie Trinomys eliasi, endêmica do Rio de Janeiro, conhecida popularmente como rato-de-espinho. Os pesquisadores encontraram uma toca com dois indivíduos adultos desta espécie dentro da Reserva Biológica União, em Rio das Ostras. O monitoramento dos animais vem ajudando a entender o modo de vida da espécie. 

A partir do projeto “Nidificação, socialidade e padrão de atividade de Trinomys eliasi”, foram instaladas câmeras em frente às tocas, que são ativadas por movimento. Então, sempre que um indivíduo entra ou sai da toca, são filmados os comportamentos que acontecem em frente às câmeras. Além disso, também foram feitas campanhas de captura e recaptura destes animais.  

— Uma das tocas monitorada por oito meses apresenta uma galeria de mais de dois metros e, por meio das câmeras, pudemos observar mais de dois indivíduos adultos na mesma toca — afirma. 

Segundo Caryne, estão sendo recolhidas muitas informações sobre a história natural da espécie que eram completamente desconhecidas, desde seu horário de atividade, alimentação, área de movimento, até pistas sobre sua organização social. Tais informações  são importantes para se pensar em medidas de conservação. 

A professora Caryne Braga (à direita) ao lado dos integrantes de seu grupo de pesquisa na Reserva Biológica União

— O conhecimento sobre os ninhos de roedores que habitam a América do Sul limita-se a comentários ocasionais de alguns autores. Os poucos estudos sobre o comportamento de nidificação foram realizados majoritariamente em laboratórios, por isso podem não ser representativos do comportamento no habitat selvagem — diz. 

De acordo com ela, os animais capturados são marcados com um brinco que tem uma numeração individual. Depois eles são examinados com o intuito de medi-los, verificar o sexo, ver se estão em fase reprodutiva etc. Antes de serem soltos, os animais são vestidos com um colete com um carretel de linha. 

— No dia seguinte, voltamos para seguir a linha. Com isso, conseguimos descobrir o quanto o animal anda e também novas tocas para monitorar — conta Caryne, acrescentando que o próprio animal consegue tirar o colete em pouco tempo e, assim, o artefato não causa nenhum prejuízo à sua vida. 

Segundo a professora, esses roedores não têm uma anatomia característica de espécies que cavam, então provavelmente eles se aproveitam de tocas construídas por outros animais. No entanto, mesmo que eles não cavem as tocas, cuidam destas, recolhendo material vegetal e levando para dentro, provavelmente para a construção do ninho. 

O Trinomys eliasi ocorre na região de Maricá, Baixada Fluminense e Norte Fluminense, ocupando planícies arenosas costeiras e ambientes florestais com vegetação alta e densa. A população encontra-se em declínio, com indícios de que estejam isoladas entre si. Poucas populações ocorrem dentro de áreas protegidas e a maioria em fragmentos de mata próximos a áreas urbanas. 

Trinomys eliasi com brinco numerado

O Brasil apresenta uma das maiores diversidades de roedores do mundo, com um total de 263 espécies conhecidas. No entanto, existe uma grande deficiência de dados sobre a maior parte destas espécies. Estudos mostram que a Mata Atlântica é o segundo bioma brasileiro mais rico em espécies de roedores, possuindo um elevado número de espécies ameaçadas. 

— Os roedores ocorrem em quase todos os biomas e têm grande importância no funcionamento dos ecossistemas. Além de importantes presas para diversas espécies de carnívoros, atuam como dispersores de sementes e fungos e são importantes reservatórios de zoonoses, ou seja, um objeto de estudo crucial para prever futuras pandemias — afirma a professora.  

Segundo a professora, atualmente uma aluna de mestrado está desenvolvendo o projeto diretamente com os resultados da espécie. Mas as atividades de campo resultam em dados também sobre outras espécies que são registradas nas câmaras ou que são capturadas pelas mesmas armadilhas. Os dados resultantes dos trabalhos de campo estão sendo utilizados em pesquisas de iniciação científica, mestrado e doutorado. 

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