Professor fala sobre vacinas contra coronavírus na abertura da Semana Acadêmica

Ao proferir a Conferência de Abertura Unificada da Semana Acadêmica da UENF, na tarde da última terça-feira, 03/10/20, o professor do Centro de Biociências e Biotecnologia da UENF (CBB), Milton Kanashiro, disse que o Brasil detém tecnologia para a produção de vacinas contra a Covid-19, mas faltam recursos.

“Temos vários grupos trabalhando nisso, mas estão ainda na fase pré-clínica. A quantidade de recursos que foram injetados nas vacinas que hoje já estão na fase de análise clínica 3 é enorme. Esta fase é a mais cara de todas”, disse.

Ele explicou que o estudo de vacinas passa primeiro pela fase pré-clínica, quando é testado em animais. Na fase clínica 1, são testadas as reações aceitáveis e a segurança da vacina. Já na fase clínica 2, centenas de pessoas ajudam os cientistas a testarem a imunogenicidade e dosagem do produto, entre outras coisas. A fase 3, dedicada à eficácia e segurança da vacina, mobiliza milhares de pessoas.

Milton Kanashiro

Somente após passar com sucesso por estas três fases é que a vacina pode ser registrada na Anvisa. Segundo Kanashiro, dentre as 200 vacinas que estão sendo produzidas contra o novo coronavírus em todo o mundo, 45 já se encontram na fase de análise clínica 3. Destas, cinco estão em estudo no Brasil.

“Cada etapa é importante e está sendo cumprida, apesar do tempo reduzido. O que está sendo acelerado é o intervalo entre uma e outra etapa”, disse. Segundo ele, ainda não se sabe qual o tempo de imunidade a ser propiciado pelas vacinas. “Existe a expectativa de que, com a vacina, possa se repetir o que acontece com a contaminação natural. Existe uma proteção imunológica de 8 a 10 meses”, afirmou.

Uma das vacinas em estudo no Brasil, já na fase 3, é a produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac e o Instituto Butantan. Ele explicou que esta vacina trabalha com uma proposta bastante tradicional, que utiliza o próprio agente viral cultivado em laboratório. “A vacina é produzida com o vírus inativado, portanto incapaz de se replicar. As estruturas virais são reconhecidas pelo sistema imunológico, gerando uma resposta”, explicou o professor, que relatou também outras vacinas em estudo no Brasil, utilizando como vetor o adenovirus, como é o caso da vacina feita pela Astrazeneca.

Segundo Kanashiro, o ideal é que se chegue a uma imunização de pelo menos 60% a 70% da população, o que só será alcançado com a vacina. O que se tem hoje no Brasil, segundo ele, é uma imunização na faixa de 40% a 50% da população, o que tem restringido a contaminação. No entanto, as medidas de prevenção, especialmente o uso da máscara, são fundamentais para manter este quadro até que a vacina esteja acessível a todos.

“Obviamente, a vacina não vai estar disponível a toda a população logo no início do ano que vem. Haverá um grupo prioritário, que são os profissionais de saúde e o grupo de risco da doença. Se possível, é importante que seja feito um teste rápido nas pessoas para detectar quem já tem anticorpos, pois quem já foi contaminado não precisa ter prioridade neste momento”, disse.

A Semana Acadêmica da UENF se estende até sexta-feira, 06/11/20. O evento é organizado pelos alunos de graduação da universidade e, neste ano, em decorrência da pandemia do novo coronavírus, será feito de forma online, pelo Google Meet. A conferência de abertura foi realizada através da Página da UENF no Facebook.

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