Projeto da UENF sobre alfabetização e letramento literário amplia suas ações

Inicialmente desenvolvido em Donana, agora o projeto também foi implementado na Escola de Aprendizagem Inclusiva, que funciona na Cidade da Criança

O projeto de extensão “Alfabetização e Letramento Literário na escola: ver e perceber o mundo através da literatura de autores campistas” está colhendo os bons resultados desde sua implantação no segundo semestre de 2023. Inicialmente aplicado em uma escola no bairro de Donana, em sua nova fase o projeto já se encontra implementado na Escola de Aprendizagem Inclusiva, que funciona na Cidade da Criança, administrada pela Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia do município de Campos dos Goytacazes-RJ.

Promovendo a inclusão através da leitura, o projeto parte do pressuposto de que a formação cidadã está ligada ao reconhecimento do indivíduo enquanto sujeito participante em pleno domínio de sua identidade e do contexto sociocultural em que vive. Segundo o coordenador do projeto, professor Sérgio Arruda, do Centro de Ciências do Homem da UENF (CCH), o objetivo é promover o pertencimento e reafirmar a identidade dos alunos através das histórias e da cultura de Campos dos Goytacazes — histórias que eles escutam em casa, mas que nem sempre são privilegiadas na escola.

— O projeto valoriza a literatura local, no segmento infantojuvenil, como ponto de partida para uma tomada de conhecimento da cidade, de sua história, seus valores, cultura e sua identidade. Os alunos respondem muito bem à proposta, pois percebem nos textos parte de suas vivências e de seus territórios, seus personagens e enredos, a mais das vezes esquecidos pelas práticas curriculares enraizadas nas escolas — diz Arruda.

A professora e doutoranda Caroline Delgado, que também participa do projeto, destaca que a ideia surgiu diante da necessidade de atender às demandas das escolas públicas de Campos no quesito fundamental, que é a inclusão e formas de autorreconhecimento como sujeitos que fazem parte deste contexto ao qual querem pertencer. Outra questão que a professora destaca é o descompasso que o período da pandemia trouxe.

— Como professores, estamos lá na base das escolas públicas aqui de Campos e percebemos que a pandemia trouxe uma defasagem grave para muitas crianças e adolescentes — afirma Caroline, que é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem da UENF e atua como voluntária do projeto, liderando a equipe.

Tendo a equipe trabalhado já durante um semestre, percebeu, por exemplo, entre os alunos do 5º e 6º ano dificuldades muito acentuadas de alfabetização, sem competência para ler e escrever e interpretar textos simples.

— Foi a partir destas demandas que surgiu a ideia do projeto, que é entender como este aluno se percebe dentro de sala de aula com todas essas dificuldades. É nesses termos que pensamos no projeto pelo viés da educação inclusiva, olhando para o aluno dentro das suas individualidades e suas necessidades específicas — afirmou Caroline.

Nesta nova fase, na Escola de Aprendizagem Inclusiva, o projeto vai prosseguir atendendo a crianças típicas e atípicas, com laudo ou sem laudo. Segundo a professora, a proposta é de uma educação decolonial (pluralidade de vozes e caminhos, em oposição à visão colonial), observando a realidade do alunado de Campos.

Ela explica que, muitas vezes, os alunos chegam à escola ouvindo outras histórias, de autores que não são brasileiros, dentro da literatura infantojuvenil por exemplo, falando de um cenário que é desconhecido por eles, com personagens que não são familiares.

— Quando se fala do Ururau da Lapa, da Mana Chica, das histórias de Campos, por exemplo, damos protagonismo ao aluno, porque ele sempre tem uma história, uma lenda, um “causo” para contar que ouviu em casa com seus familiares. Este acervo literário também evoca o dado importantíssimo que é a variedade linguística que marca o falar da comunidade de Campos, em geral desprestigiado — conclui Caroline.

O projeto de extensão tem ainda a participação dos bolsistas Dennis Benício Herculano Cesário de Barros e Victor da Penha Miranda, ambos já mestres pela UENF, com licenciatura anterior na área de Letras. Conta ainda com a participação da aluna de Pedagogia da UENF, Érica Trindade da Silva, que fará uma pesquisa monográfica no campo da inclusão, além de Solony Aguiar Pereira da Silva, egressa também do curso de Pedagogia da UENF. A equipe se completa com o trabalho musical de Marcelo Vicente Costa Ribeiro de Souza, formado no ensino médio.

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