Setor de Cirurgias Complexas do Hospvet/UENF é referência internacional

Hospital recebe animais de várias partes do Brasil e até do exterior, sendo o único no mundo a realizar a ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea) em animais

Popularizada durante a pandemia de COVID-19, a ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea) também pode ser realizada em animais. E o Brasil é o único país do mundo a utilizar esta tecnologia em gatos e cachorros. O procedimento vem sendo realizado desde 2005 pelo setor de Cirurgias Complexas do Hospital Veterinário da UENF (Hospvet/UENF). 

— Eu comecei a trabalhar com a ECMO em 2000, antes de vir para a UENF. Quando vim para cá, em 2005, trouxe a técnica para o Hospital da UENF e, desde então, ela é utilizada. Somos o único grupo do mundo que faz este tipo de procedimento em animais — conta o professor André Lacerda, coordenador do setor de Cirurgias Complexas do Hospvet/UENF. 

Lacerda conta que aprendeu a técnica no doutorado na UFRJ, época em que ela estava começando a ser utilizada em humanos. Segundo ele, a técnica é basicamente a mesma para os animais, havendo apenas algumas adaptações. O que dificulta o uso da técnica em animais, segundo Lacerda, é o alto custo. 

De acordo com o professor, um equipamento de ECMO está custando em torno de R$ 30 mil. E ele é descartável. Para humanos, uma diária de ECMO em um hospital que faça esta técnica está custando de R$ 100 mil a R$ 250 mil. Na UENF, as cirurgias de ECMO normalmente são feitas com verba de fomento à pesquisa, já que o custo é muito elevado. 

— Quando temos fomento à pesquisa, compramos os equipamentos e fazemos a ECMO, na verdade, de graça. Já tivemos condições melhores. Com a crise financeira do Estado, a verba de pesquisa diminuiu muito. Então se for fazer sem fomento a pessoa tem que arcar com o valor do equipamento. E não é muito normal alguém pagar isso para um animal — explica.  

A ECMO pode ser utilizada em casos de pneumonia, edema pulmonar, traumas pulmonares devido a atropelamentos, quedas, entre outros. A técnica consiste em instalar um pulmão artificial, que vai substituir o pulmão doente até que este se cure. 

O Setor de Cirurgias Complexas do Hospvet/UENF recebe animais de várias partes do Brasil e até do exterior. Segundo Lacerda, pelo menos três cirurgias são realizadas por semana no Setor. Algumas cirurgias não são feitas em nenhuma outra parte do país ou até mesmo da América Latina. 

Enquanto as cirurgias normais do hospital são realizadas pelos médicos veterinários residentes, sob orientação dos professores, as cirurgias de alta complexidade são feitas por André Lacerda, com a ajuda dos mestrandos e doutorandos. 

— Numa clínica normal, seriam cirurgias ocasionais. Mas como a gente recebe de várias partes do país, então fazemos bastante — diz. 

Pioneirismo na Ortopedia Animal

O Setor se destaca também pelo pioneirismo em algumas cirurgias ortopédicas, como é o caso da TPLO (nivelamento do platô tibial, para ruptura do ligamento cruzado do joelho), da prótese de quadril e da técnica Evolig, que consiste em um ligamento sintético. 

Uma cirurgia de alta complexidade que tem grande demanda no Hospital é para uma doença chamada Shunt Porta Sistêmico em cães e gatos. Trata-se de uma má formação congênita dos vasos hepáticos, que pode levar o animal à insuficiência renal e óbito em torno de um ano a um ano e meio. Com a cirurgia, é possível corrigir o problema. 

— Não é uma doença comum e pouca gente faz essa cirurgia no Brasil. Por isso acaba havendo uma grande rotina no Hospital, porque a demanda é grande. Não seria assim se fosse mais distribuído — afirma Lacerda. 

Também são feitas muitas cirurgias respiratórias, como é o caso da paralisia de laringe. O Hospital da UENF é o único no Estado do Rio a realizar  este tipo de cirurgia. 

Benefícios para a área humana

Segundo Lacerda, é normal que as pesquisas na área veterinária também ajudem a área humana. Muitos médicos de humanos são orientados pelo professor da UENF em pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. 

— Há algum tempo uma orientanda minha, a Paula Cabral, desenvolveu um protótipo de um equipamento de termometria para identificação de margem tumoral. O equipamento está sendo testado na Santa Casa, e a Paula está lá agora fazendo um estudo pré-clínico — conta. 

Outra técnica que começou a ser desenvolvida no Hospital Veterinário da UENF e depois passou a ser utilizada em humanos foi a cirurgia transvaginal. Desenvolvida em 2007, a técnica, segundo Lacerda, revolucionou o mundo da cirurgia.  

— Ela foi desenvolvida pelo cirurgião de humanos Ricardo Zarróm quando era meu orientando de pós-doutorado na UENF. Ele foi o primeiro médico do mundo a fazer esse tipo de cirurgia, que depois se popularizou. Hoje ele é chefe do setor de cirurgia bariátrica da Universidade de Berlim, sendo conhecido em toda a Europa — diz.

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