UENF ajuda a salvar animais acolhidos pelo Projeto Gramacho

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Se o abandono de animais já era um problema antes da Covid-19, a situação ficou ainda mais grave com a pandemia. Sem dinheiro para as necessidades básicas, muitas pessoas optam por deixar seus animais nas ruas, principalmente quando eles são vítimas de atropelamento ou adquirem doenças que requerem atendimento especializado. No Centro Cirúrgico do Hospital Veterinário da UENF, muitos destes animais vêm ganhando uma nova chance de vida.

Desde novembro, o Hospital vem sendo um dos parceiros do Projeto Gramacho, criado pela atriz Betty Gofman com o objetivo de acolher animais abandonados na cidade do Rio de Janeiro. Quando o projeto não consegue a ajuda necessária na capital, os animais são trazidos para o Hospital Veterinário da UENF, em Campos dos Goytacazes. Desde o início da parceria, cerca de 60 animais já foram atendidos na Universidade.

Cachorro trazido pelo projeto Gramacho sendo examinado no Hospital Veterinário da UENF

— Temos feito cirurgias, geralmente complexas, quando a Betty não consegue realizá-las com as parcerias que já tem com as clínicas do Rio. São cirurgias que, muitas vezes, só a UENF faz no Estado e no Brasil, além de exames de tomografia — diz o professor André Lacerda, responsável pelas cirurgias.

O atendimento vem sendo feito no âmbito do projeto de extensão “Tratamento e capacitação de graduandos, residentes e médicos veterinários em cirurgias utilizando técnicas minimamente invasivas (videolaparascopia, Notes, Single Port e microcirurgia) em animais de companhia do NF”, coordenado por André Lacerda, que tem como um de seus objetivos levar tecnologia de ponta para a população carente. Segundo André, a maioria dos animais trazidos pelo projeto Gramacho tem apresentado traumatismos.

— Fizemos várias cirurgias de fraturas vertebrais, algumas hérnias de disco e fraturas de ossos longos das mais diversas. Atendemos também animais com colangiohepatite, enterite, pancreatite e pneumonia, entre outras doenças — relata o professor.

Segundo ele, a maior dificuldade tem sido o transporte. Geralmente, os animais são trazidos para o Hospital Veterinário da UENF por motoristas de taxi ou uber contratados por Betty. O número de atendimentos vem aumentando a cada dia, estando atualmente numa média de três animais por semana.

A diretora do Hospital Veterinário da UENF, professora Fernanda Antunes, ressalta que a ajuda do Hospital da UENF tem sido fundamental para o bem-estar dos animais acolhidos pelo projeto Gramacho, uma vez que eles têm todo o suporte num só lugar, como exames laboratoriais, radiografias, ultrassonografia, e tomografia, entre outros.

Ela observa que é crescente o apelo da sociedade para se buscar o bem-estar animal e a Universidade também vem, a cada dia, se inserindo nesse contexto.

Gatinho já recuperado, tratado no Hospital Veterinário da UENF

— O bem-estar animal vai além de controlar a dor ou curar doenças. Há a questão dos maus-tratos, do abandono, cachorros que passam o dia todo acorrentados debaixo de sol e chuva, gatos trancafiados em espaços apertados etc — diz, lembrando que o curso de Medicina Veterinária oferece uma disciplina sobre bem-estar animal, inserida como optativa.

Para Fernanda, a parceria com o projeto Gramacho, além de dar visibilidade à UENF, também está ajudando os residentes e estagiários do Hospital a ganhar mais experiência na área de ortopedia.

— No dia a dia, não recebemos muitos casos deste tipo. Já somos referência em muitas áreas, como cirurgia cardíaca, microcirurgia, videolaparascopia e poderemos ser referência também em ortopedia — afirma.

Devido à pandemia, no momento apenas o setor de cirurgia do Hospital Veterinário está funcionando, porque foi caracterizado como emergencial. Segundo Fernanda, os animais que passam por cirurgia são encaminhados por médicos veterinários. Quando necessário, são acionados os setores de exames de ultrassonografia, radiologia e laboratório de patologia clínica. Este último é o mais presente, fazendo as avaliações laboratoriais antes e depois das cirurgias, para acompanhamento. Com isso, permite-se também uma interação entre residentes e setores na discussão dos casos atendidos.

Muito agradecida à UENF, a atriz Betty Gofman conta que todos os animais operados na Universidade voltaram a andar.

— A UENF está abraçando a nossa causa e isso é espetacular, pois a gente sabe que ela é uma das melhores do País. Estou encantada — diz.

Para ela, o professor André Lacerda tem sido muito mais do que um veterinário parceiro do projeto, mas um grande apoiador e amigo nas horas mais difíceis.

Betty Gofman com Bebel, uma cadelinha encontrada nas ruas em situação precária, que perdeu o movimento das patas traseiras. “Minha paixão”, diz a atriz.

— Quando estou cansada, desgastada emocionalmente com tudo que vejo, ele me fala coisas tão lindas que me fazem respirar e me dão forças pra continuar. Ele é um daqueles professores especiais que fazem os alunos se apaixonarem pela profissão e entenderem de fato por que escolheram ser veterinários — diz.

Segundo a atriz, a pandemia fez com que aumentasse ainda mais o abandono de animais. E, nesse contexto, tornou-se ainda mais importante que os médicos veterinários doem parte de seu tempo para minorar o sofrimento dos bichos.

— Eu faço isso com o teatro: saio na rua convidando quem nunca assistiu a uma peça, e fico muito feliz em fazer isso. Imagino que, para um veterinário, também deve ser gratificante salvar a vida de um bichinho. A gente se sente um pouquinho Deus, sente que Ele está um pouquinho dentro da gente. E nós, que fazemos esse trabalho de resgate, precisamos muito dessa ajuda — afirma.

Ela conta que seu amor pelos animais começou desde criança, quando ficava triste e chorava muito ao ver animais abandonados. Um dia, já adulta, estava passando pela rua e viu uma cadela poodle abandonada. Ficou com muita pena, mas não pôde levá-la para casa. No entanto, não conseguia esquecer o animal, até que, depois de um tempo, soube que ele tinha falecido. Ficou arrasada.

— Foi aí que resolvi não deixar mais os animais nas ruas. Virou uma rotina na minha vida, uma coisa natural. Não foi uma escolha. Acho que há algumas coisas na nossa vida para as quais já nascemos com aquela missão. Hoje faço isso o tempo todo, virou uma atividade que ocupa grande parte do meu dia — diz.

O projeto começou quando Betty conheceu Jô, uma mulher que vivia próximo ao lixão de Gramacho e que, apesar de ter uma vida muito difícil e precária, resgatava vários animais de rua. A atriz ficou maravilhada com o amor de Jô pelos bichos e percebeu que precisava, antes de qualquer coisa, ajudá-la.

— A casa não tinha forro, reboco, quando chovia alagava tudo, não tinha saneamento básico. Então, ajudei em muitos aspectos, reformei a casa e construí 10 canis. É lá que a gente coloca os animais e tenta tirá-los o mais rápido possível, através de adoções, para ir abrindo vagas. Fizemos uma parceria maravilhosa e temos sido acolhidas e amparadas por muitos anjos, assim como a UENF — diz.