Para reduzir os impactos da duplicação da BR-101, ameaçando o mico-leão-dourado e demais espécies da fauna, a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro se uniu à Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Arteris Fluminense na construção de um viaduto vegetado. A estrutura está localizada na altura do quilômetro 218 da BR-101, em Silva Jardim. No último mês de agosto, foram feitos os primeiros registros de animais atravessando o corredor.
O viaduto vegetado funciona como um corredor ecológico, permitindo a movimentação dos animais de um lado a outro da rodovia. Além disso, aumenta a conectividade entre habitats e populações de espécies e atua na redução do número dos atropelamentos de animais.
Na Universidade, o trabalho teve a concepção do professor e pesquisador Carlos Ruiz Miranda, do Laboratório de Ciências Ambientais, do Centro de Biociências e Biotecnologia (LCA/CBB). Além disso, o projeto conta com a atuação de Priscila Lucas, bióloga e pesquisadora de pós-doutorado no LCA, que coordena as atividades de monitoramento.
De acordo com Ruiz, o trabalho para construção das estruturas para a fauna começou em 2006, pela intervenção da AMLD com apoio da UENF.
“A Associação Mico-Leão-Dourado fez um abaixo assinado, num congresso de unidades de conservação. Apoiamos essa ação e, após isso, as assinaturas foram encaminhadas ao ICMBio. Participei na idealização do projeto, direcionando a necessidade de ter exatamente esse tipo de estrutura, apontando os métodos de monitoramento e sua eficácia”, ponderou.
Priscila atua no projeto desde 2018 e desenvolveu o Termo de Referência, junto com professor Carlos Ruiz. Atualmente, coordena a equipe de campo e atividades de monitoramento do viaduto, que é de responsabilidade da AMLD.
“O Termo de Referência é um documento importante do licenciamento ambiental, com as diretrizes de como o monitoramento de fauna deve ser, avaliando a eficácia do viaduto vegetado na redução do efeito barreira para o mico-leão, a preguiça-de-coleira e o atropelamento de fauna na rodovia. Fazemos o monitoramento específico do mico-leão-dourado e da preguiça-de-coleira, ambas espécies ameaçadas de extinção”, pontuou.

Segundo Ruiz, de todos os tipos de mecanismos de passagem de fauna, os viadutos vegetados são os que têm se mostrado mais eficazes, especialmente para rodovias com a estrutura da BR-101.
“As passagens inferiores e outras suspensas superiores poderiam não ter a eficácia necessária, especialmente para o mico-leão. As pessoas têm que lembrar que passagens de fauna, além de proteger os animais de atropelamentos, permitem a movimentação necessária para ter populações viáveis a longo prazo. Além disso, também protegem as pessoas, pois acidentes com animais causam mortes humanas, danos e perdas econômicas”, completou.
Para Priscila, a participação do projeto é uma realização pessoal e profissional.
“É uma grande realização fazer parte desta conquista para o mico-leão-dourado e demais espécies da nossa biodiversidade na Mata Atlântica. É um trabalho extremamente gratificante e desafiador. O viaduto vegetado foi o primeiro a ser construído no Brasil em uma rodovia federal. Por ser o primeiro, há muita expectativa em torno da estrutura e da eficácia para reconectar populações isoladas de micos e outras espécies”, finalizou.