
A luz que incide sobre o campus Leonel Brizola, na UENF, é mais um complemento para abrilhantar os trabalhos submetidos durante o XVII Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFICT) e o X Congresso Fluminense de Pós-Graduação (CONPG) — que conta, ainda, nesta quarta-feira, 09/07/25, com um delicioso Café da Roça, o segundo dia de Conferência e diversas apresentações orais e com banners, além da sessão “Minha tese em três minutos”.
O tema deste ano é “ÁGUA: universalização, gestão e ação”. Aberto na última segunda (AQUI), o evento ocorre durante toda a semana no Centro de Convenções Oscar Niemeyer, da UENF, com atividades científicas e culturais.
Maior evento científico do interior do Estado do Rio de Janeiro, o CONFICT/CONPG recebe 19 avaliadores do CNPq — de várias regiões do país. O Congresso conta, neste ano de 2025, com 2160 participantes inscritos e 1271 trabalhos submetidos.
Veja programação completa do evento AQUI.
Ainda para este ano, o autor da melhor pesquisa de Iniciação Científica (IC) vai ganhar um intercâmbio de 30 dias em Coimbra, Portugal. Já o melhor trabalho de pós-graduação vai receber uma viagem para participação em um congresso científico nacional.

Qualidade da água e manutenção da vida
Na última terça-feira, 08/07/25, com o tema “Contaminantes no meio do caminho: qualidade das águas no Brasil”, a professora do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas, Cassiana Montagner, foi a primeira conferencista do Congresso.
Com o Centro de Convenções lotado, a palestrante deu um panorama geral a respeito do tratamento da água potável, os cuidados e direcionamentos para que, principalmente, um cidadão comum possa estar atento sobre qualidade da água que utiliza diariamente. Segundo afirmou, a água que chega na torneira das casas reflete diretamente a qualidade do manancial da qual ela veio. A professora observou que a água potável enquadra-se num padrão de qualidade do Ministério da Saúde, mas não elimina todos os contaminantes.
— As Estações de Tratamento de Água que temos em todo o país foram preparadas para tratar água há algumas décadas atrás, quando não tínhamos tantos contaminantes. Hoje em dia sabemos que este tratamento remove muitas das substâncias da água, tornando-a potável. A água potável é um produto de mercado. Ela tem um padrão de qualidade que é a Portaria nº 888 do Ministério da Saúde. Enquadrada nesta portaria, a empresa pode vender essa água como água potável mas todos aqueles outros contaminantes que não estão presentes nesta portaria, portanto, não são monitorados. Acabam estando presentes nas nossas águas tratadas se o manancial estiver sofrendo de impacto desse tipo de contaminação — explicou.
A pesquisadora Cassiana ainda defendeu que se protegermos os mananciais, estaremos garantindo uma água de melhor qualidade da água para as residências.
— Por isso sempre acho que todos nós, como cidadãos, precisamos saber minimamente de onde vem a água que chega na nossa casa — disse.
Entre diversos estudos e trabalhos citados, legislações pertinentes ao assunto e resultados efetivos, a professora também levou a pergunta sobre “como a presença dos microplásticos está contribuindo para uma ‘salada’ de contaminação a que já estamos expostos”.
— Até agora, o que temos de dados dos trabalhos dos primeiros três ou quatro anos, nos mostra que quando temos mais microplástico não necessariamente temos mais fármacos ou agrotóxicos, por exemplo. Que o comportamento destes contaminantes [na água] acaba sendo diferente, mas ambos estão presentes principalmente quando a fonte majoritária é o esgoto doméstico — alertou.

Agrotóxico caindo do céu
Uma pesquisa da professora Cassiana Montagner, que ganhou repercussão nacional, mostrou que agrotóxico pode estar caindo do céu, através da chuva. Estudos apontam o fato ocorrido na capital paulista e nas cidades de Campinas e Brotas, no estado de São Paulo. O estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) encontrou substâncias tóxicas na chuva nestas três regiões do estado de São Paulo.
A pesquisa foi publicada na revista científica Chemosphere, em janeiro deste ano. Segundo a publicação, os agrotóxicos aplicados nas lavouras se dissipam na atmosfera e podem se condensar nas gotas das chuvas. O estudo acende um sinal vermelho para possíveis riscos à vida aquática, por motivo de contaminação da água doce.
Dados alarmantes
Segundo dados apresentados pela professora Cassiana, uma em cada nove pessoas em todo o mundo usa água potável de fontes inseguras. Além disso, 2,4 bilhões de pessoas vivem sem qualquer forma de saneamento.
— A falta de saneamento, hoje, tem sido uma das formas mais significativas de poluição de água, dada a complexidade do saneamento e tudo o que vem junto com ele — explicou a pesquisadora.
Em países em desenvolvimento, 90% do esgoto é lançado sem tratamento diretamente nos corpos d’ água. De acordo com a professora Cassiana, o Brasil não é diferente.
— Nós lançamos 50% dos nossos esgotos brutos nos corpos d’água e daqueles 50% que são coletados, quase 40% deles ainda passam por tratamento do tipo gradeamento — tirar garrafa pet e sofá, como digo pros meus alunos — e o restante ainda acaba entrando nos corpos d’água. Isso significa que dois milhões de toneladas de esgoto e outros afluentes são drenados para a água em todo o mundo — pontuou.
Já a indústria despeja cerca de 300 a 400 megatoneladas de resíduos nos corpos d’água todos os anos.
7 A poluição de fonte não natural da agricultura e áreas urbanas muitas vezes aumenta muito a carga de poluente total, juntamente com a poluição de fonte industrial pontual. No fim, estima-se que uma redução de cerca de ⅓ da biodiversidade global seja consequência da degradação dos ecossistemas de água doce. Principalmente devido à poluição dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos — reforçou a pesquisadora.
(Jornalista: Thábata Ferreira – Fotos: Cassiane Falcão)
