Segundo Alcimar das Chagas Ribeiro, a abertura de novas fronteiras de exploração de petróleo é imprescindível para que o Brasil não volte a ser dependente de importações do produto

Ressalvada a necessidade de garantir a preservação ambiental na Amazônia, a exploração de petróleo na margem equatorial do Brasil é imprescindível para que o país não volte a ser dependente de importação nesta área. A opinião é do economista Alcimar das Chagas Ribeiro, professor do Laboratório de Engenharia de Produção da UENF (LEPROD) e coordenador do Núcleo de Pesquisa Econômica do Estado do Rio de Janeiro (NUPERJ).
Alcimar se apoia nos indicadores da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que apontam uma duração média de 25 anos para a vida útil das bacias petrolíferas brasileiras. Neste contexto, a Bacia de Campos encontra-se atualmente em sua fase de declínio, enquanto a Bacia de Santos — que produz hoje 80% do petróleo brasileiro — atingiu seu pico produtivo em 2024, devendo começar a declinar gradativamente nos próximos anos.
— Os ciclos de produção de petróleo no Brasil têm durado em torno de 13 anos do ponto de sua evolução até o nível mais alto de pico e mais 13 anos, em média, até o ponto de declínio. É neste ponto que ocorre a fuga dos investidores, dado o amadurecimento dos campos — afirma.
Embora a Petrobras tenha descoberto recentemente petróleo na camada do Pré-Sal da Bacia de Campos, Alcimar acha muito difícil que possa ocorrer uma revitalização da exploração no local.
— Pode até ser que a Petrobras descubra outros poços do Pré-Sal, mas é tudo muito incerto ainda. O que temos de concreto é que a qualidade do petróleo ali extraído já não é mais a mesma. Os custos estão ficando cada vez mais altos e os investidores se afastam — diz.

Para Alcimar é urgente a abertura de novas fronteiras para exploração e produção de petróleo, sendo a Foz do Amazonas estratégica para que o país não retorne à condição de dependência de importação de petróleo e aniquile de vez a frágil estrutura industrial brasileira.
— Evidente que a responsabilidade com o meio ambiental e com a gestão fiscal devem ser tratadas como elementos vitais desse processo. Isso confirma o conceito fundamental de finitude dos recursos naturais e que a riqueza gerada tem que garantir a condição geracional no que diz respeito ao bem-estar da sociedade brasileira — afirma o economista.
Um dos problemas históricos apontados por Alcimar é o mau uso dos recursos dos royalties do petróleo. É importante, segundo o economista, que a sociedade se organize para cobrar do poder público que os royalties sejam utilizados para investimentos e não para despesas de custeio, uma vez que são recursos muito voláteis.
Ele considera importante o Brasil produzir mais energia limpa, porém é preciso que haja investimento na estrutura não só de captação como também de distribuição.
— Este ano, a produção de energia solar foi paralisada diversas vezes porque a oferta foi muito grande e o país não tem capacidade de estocar essa energia — observa.
Veja AQUI artigo de Alcimar abordando este tema com mais detalhes.
Petrobrás: ‘estamos seguindo rigorosamente requisitos legais e técnicos estabelecidos pelos órgãos ambientais’

A exploração da Margem Equatorial está mobilizando a maior estrutura de resposta a emergências já preparada para um projeto exploratório. É o que afirma o coordenador operacional de projetos exploratórios das margem sul, equatorial e outros países da Petrobras, Cezar Gomes Carneiro.
Ele ressalta que o interesse da empresa pela Margem Equatorial remonta à década de 1970, quando foram realizadas perfurações em águas rasas. A região tem mostrado grande potencial nos últimos anos, com uma elevada produção de petróleo na Guiana e no Suriname. Estima-se que os dois países, juntos, tenham cerca de 14 bilhões de barris de petróleo em reservas.
Nesta entrevista concedida à ASCOM/UENF, Carneiro fala das ações em prol da preservação ambiental e dos investimentos que serão feitos. Segundo ele, o Plano de Negócios 2025-29 prevê investimentos de cerca de US$ 3,1 bilhões na Margem Equatorial até 2029, com a perfuração de até 15 poços exploratórios.
Veja a entrevista:
ASCOM/UENF – Como, quando e por que surgiu o interesse na exploração de petróleo na foz do Amazonas?
CÉZAR – A Petrobras tem como direcionador estratégico a busca por oportunidades exploratórias em novas fronteiras, tanto no Brasil quanto no exterior, com foco na diversificação de seu portfólio e no desafio da reposição de suas reservas de petróleo e gás, garantindo que o Brasil mantenha a autossuficiência na produção de petróleo, fundamental para a soberania energética do país.
Especificamente em relação à Margem Equatorial, o interesse remonta à década de 1970, com perfurações em águas rasas. Recentemente, a região da Margem Equatorial, ao largo da costa de países como Guiana, Guiana Francesa e Suriname, tem mostrado grande potencial na exploração de petróleo e gás. Guiana e Suriname, em particular, tem se destacado com descobertas significativas e estima-se que os 2 países tenham cerca de 14 bilhões de barris de petróleo em reservas.
ASCOM/UENF – Quais os benefícios econômicos que esta exploração poderá trazer para o país?
CÉZAR – O resultado do poço exploratório, junto aos demais estudos de geologia e geofísica, servirá para auxiliar a identificação de possíveis acumulações de óleo e/ou gás natural na área da concessão, bem como permitirá expandir o conhecimento para as demais bacias sedimentares da região. Se encontrados resultados promissores, a empresa realizará uma avaliação desta descoberta para poder definir quantos poços serão necessários, estimativa de produção e estudos de viabilidade econômica.
Caso a análise indique que a descoberta possui potencial comercial, a companhia poderá concluir a Fase Exploratória e fazer a Declaração de Comercialidade, adentrando, então, a fase de Produção, em que a área passaria a ser um campo produtor, e o contrato possui prazo definido de 27 anos.
Assim, existe o potencial para gerar empregos diretos e indiretos, arrecadação de royalties e tributos, desenvolvimento de infraestrutura e fortalecimento da cadeia de petróleo e gás local e nacional a logo prazo.
ASCOM/UENF – Quais os riscos ambientais que este tipo de exploração pode trazer e o que será feito para evitá-los?
CÉZAR – A Petrobras segue rigorosamente todos os requisitos legais e técnicos estabelecidos pelos órgãos ambientais. No caso do bloco FZA-M-59, localizado a 175 km da costa do Amapá e a 540 km da foz do Rio Amazonas, foram realizados estudos ambientais detalhados, incluindo modelagens de dispersão de óleo aprovadas pelo Ibama, que foram todos aprovados pelo órgão ambiental. Para os riscos identificados, cujas probabilidades de ocorrência são remotíssimas, foram propostas medidas de prevenção e mitigação, como é usual em qualquer atividade. A companhia mobilizou a maior estrutura de resposta a emergências já preparada para um projeto exploratório, incluindo seis embarcações para contenção de óleo, três aeronaves e mais seis embarcações dedicadas à proteção da fauna, 02 Centros de Atendimento à Fauna (Belém e Oiapoque), e mais de 100 profissionais especializados.
ASCOM/UENF – Quando começam os testes e o que será feito inicialmente?
CÉZAR – A Petrobras recebeu em 20/10/2015 a licença de operação do Ibama para a perfuração de um poço exploratório no bloco FZA-M-059, localizado em águas profundas do Amapá, a 500 km da foz do rio Amazonas e a 175 km da costa, na Margem Equatorial brasileira.
O poço Morpho já se encontra em perfuração e, por meio desta pesquisa exploratória, com a duração estimada de cinco meses, a companhia busca obter mais informações geológicas e avaliar se há petróleo e gás na área em escala econômica. Não há produção de petróleo nessa fase.
ASCOM / UENF – Qual a estimativa da quantidade de petróleo existente no local?
CÉZAR – O resultado do poço exploratório, junto aos demais estudos de geologia e geofísica, servirá para auxiliar a identificação de possíveis acumulações de óleo e/ou gás natural na área da concessão, bem como permitirá expandir o conhecimento para as demais bacias sedimentares da região. Se encontrados resultados promissores, a empresa realizará uma avaliação desta descoberta para poder definir quantos poços serão necessários, estimativa de produção e estudos de viabilidade econômica.
ASCOM / UENF – Qual a profundidade e o tamanho aproximado das jazidas?
CÉZAR – A atividade de perfuração do Poço Morpho será realizada em um ponto em que o fundo do mar está a uma profundidade de 2.880 metros, a 175 km da costa do Amapá e a 540 km da foz do Rio Amazonas. O poço Morpho terá uma profundidade final estimada de aproximadamente 7 mil metros.
ASCOM / UENF – Quanto a Petrobras pretende investir no empreendimento?
CÉZAR – O Plano de Negócios 2025-29 prevê investimentos de cerca de US$ 3,1 bilhões na Margem Equatorial até 2029, com a perfuração de até 15 poços exploratórios.
ASCOM / UENF – Quais as peculiaridades destas reservas, comparativamente às demais jazidas já exploradas no país.
CÉZAR – A Petrobras entende que a exploração da Margem Equatorial abrirá uma nova fronteira de extração de petróleo e gás natural, a qual será elemento fundamental no processo de transição e diversificação energética justa.
Atenta aos compromissos de responsabilidade socioambiental, a companhia reforça que analisa cautelosa e diligentemente todo o contexto de onde pretende operar e reconhece os desafios da região. Para isso, emprega esforços no atendimento aos rigorosos critérios do processo de licenciamento ambiental e possui amplo plano de relacionamento com as partes interessadas, tais como universidades, sociedade civil, associações comerciais e secretarias estaduais, dentre outras.
Ainda, sua atuação se pauta fortemente em ações de prevenção, bem como treinamento constante de sua equipe.
ASCOM/UENF – Como conciliar a exploração de novas reservas de petróleo com o discurso ambiental e a transição energética?
CÉZAR – A Petrobras reconhece a necessidade de conciliar a transição energética com a exploração responsável e eficiente em custo e em emissões de petróleo e gás. A exploração responsável é essencial para financiar uma transição energética justa e inclusiva, além de proporcionar a segurança energética com menores emissões. A Petrobras está comprometida em equilibrar a expansão da produção com a redução das emissões de carbono, alinhando suas ações ao planejamento energético nacional e às metas estabelecidas pelo Acordo de Paris.
Veja matéria sobre o tema, ouvindo o pesquisador ambiental da UENF Carlos Eduardo de Rezende, publicada em 19/09/25, AQUI.
(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri – ASCOM/UENF)



