UENF discute saúde mental no meio acadêmico

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Campos dos Goytacazes (RJ), segunda-feira, 30 de setembro de 2019

UENF discute saúde mental no meio acadêmico

O Simpósio será realizado no Centro de Convenções

O mês do setembro amarelo acabou, mas o tema da saúde mental não pode ser esquecido. O Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda de acordo com a entidade, 86% dos brasileiros sofrem de algum transtorno mental, como ansiedade e depressão.

E, sendo a adolescência um período crucial para o desenvolvimento e manutenção de hábitos sociais e emocionais importantes para o bem-estar mental, o adolescente fica mais vulnerável ao adoecimento psíquico. Pensando nessa questão, a UENF vai realizar de 01 a 03/10/2019, de terça a quinta-feira, a segunda edição do Simpósio de Saúde Mental na Universidade. O evento tem como público-alvo alunos, professores e técnicos universitários, além de interessados no tema saúde mental.

O Simpósio vai acontecer no Centro de Convenções da UENF e contará com a participação de professores e pesquisadores da área, além de assistentes sociais e psicólogos de diversas instituições de Campos dos Goytacazes (UENF/UFF/IFF/FMC) que trabalham com acolhimento e tratamento na Universidade.

Integrante da mesa de abertura do Simpósio, a professora e psicóloga Valesca do Rosário Campista apontou os fatores que levam ao adoecimento psíquico dentro da universidade. Professora e orientadora de estágio em Psicanálise no curso de graduação em Psicologia da Universidade Estácio de Sá, ela enumera como motivos causadores do adoecimento: as incertezas que cercam os estudantes em relação ao curso escolhido e seu sucesso nele; o medo de que, após o diploma, a tão sonhada mudança de vida não aconteça; a demanda de provas, trabalhos, prazos; e o grande volume de conteúdo didático.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, braço da OMS nas Américas, as consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes se estendem à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades. Valesca observa essa carência no meio universitário.

– Na nossa clínica escola (Estácio), observo a necessidade de um projeto específico para a saúde mental da comunidade acadêmica. Temos relatos de pressão, estresse, medo do fracasso, dúvidas e incertezas quanto à escolha profissional e à capacidade para conseguir um emprego no final do curso. Recebemos também muitos docentes, que se sentem desvalorizados, algumas vezes ameaçados pelos alunos, com salário aquém do que seria justo para uma profissão que requer qualificação constante. Acho que a saúde mental na atualidade está muito comprometida, o capitalismo selvagem produz avassalamento a cada dia e dita as regras da educação, deixando a comunidade acadêmica à mercê da política que nos últimos tempos mais desvaloriza os educadores do que incentiva – explica a professora.

Outro fator que pode agravar o quadro de adoecimento é a posição do governo Bolsonaro em relegar a educação a um patamar de desvalorização e incertezas. O Ministério da Educação (MEC) divulgou no início deste mês que, em 2020, a Capes, principal instituição de apoio à pesquisa no país, só terá metade do orçamento de 2019. Além disso, 5.613 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado já foram cortadas. Com dezenove anos de experiência acadêmica e coordenadora do curso de Psicologia da Estácio de Sá, Valesca acredita que este fato afeta a todos.

– A possibilidade de perda de direitos garantidos, a redução no número de vagas para os interessados em entrar na universidade e a dúvida sobre as condições estruturais da instituição de ensino para continuar desenvolvendo suas atividades com qualidade deixam a todos (inclui-se aí a comunidade acadêmica e social) inseguros e com medo do que possa acontecer – disse.

A psicóloga também falou sobre a saúde mental dos professores e como são afetados pela rotina de trabalho na academia.

– Além de dar aulas, os docentes têm que ter projeto de pesquisa e extensão. Eles devem inserir os alunos nestes projetos, mas nem sempre os alunos estão interessados nas pesquisas específicas de cada professor. Os docentes precisam publicar artigos em revistas conceituadas e, quanto mais artigos produzidos, maior o reconhecimento científico por parte do MEC e da instituição de ensino superior. Todavia, com isso se perde muito em qualidade e o estresse passa a ser o regulador das relações de trabalho. O prazer em produzir os resultados da pesquisa no tempo necessário e não no tempo estipulado acaba por provocar angústia e mal-estar – finalizou.

O segundo dia do evento terá mesas redondas com os temas “Angustia, dor e adoecimento na academia”, “Produção acadêmica e saúde mental” e “Saúde mental e extensão universitária”. As inscrições para o II Simpósio de Saúde Mental na Universidade são gratuitas para ouvintes e podem ser feitas no site do evento até a quarta-feira, 02/10. Apenas quem for apresentar trabalhos nos Grupos Temáticos deve pagar a inscrição.

Texto: Gabriel Torres – estagiário de jornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)

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