Projeto da UENF atua na prevenção da ansiedade

A pandemia de COVID-19 não trouxe apenas problemas físicos, mas também mentais. Segundo a OMS, em 2020 prevalência global de ansiedade e depressão aumentou 25%, o que levou muitos países a incluírem a saúde mental e o apoio psicossocial em seus planos de resposta à pandemia. O Brasil é o país mais ansioso do mundo: cerca de 10% da população apresenta um quadro de ansiedade.

O projeto de extensão da UENF “Alternância – Orientações alternativas na prevenção de transtorno de ansiedade”, coordenado pela professora Olga Lima Tavares, foi criado com o objetivo de aprofundar os fundamentos bioquímicos da ansiedade e oferecer orientações multidisciplinares de alternativas preventivas ou complementares ao tratamento da ansiedade em Campos dos Goytacazes.

Criado em 2019, o projeto consta de palestras, realização de atividades em escolas e ambientes de convivência da terceira idade. Durante a pandemia, o projeto teve que ser adaptado, tendo sido realizadas lives interativas sobre o tema.

“Organizamos eventos na UENF e em escolas de ensino médio, com exercícios  e alimentação para mostrar que existem medidas alternativas para o controle da ansiedade. Temos intenção de realizar em novas escolas, repetir na UENF e levar às casas de repouso da terceira idade. Estamos abertos para quem se interessa pelo projeto. Ajustamos o diálogo e degustação para as diferentes faixas etárias”, diz Olga.

Segundo a professora, muitas pessoas reconhecem a importância da mudança de hábitos para a saúde mental, mas não sabem por onde começar. O projeto tem a participação de profissionais como professores de Bioquímica, nutricionistas e professores de Educação Física. Eles atuam propondo programas alternativos para a alimentação e atividades saudáveis que ajudam a combater o estresse e a minimizar o desenvolvimento da ansiedade e depressão.

O que motivou a criação do projeto, segundo a professora, foi sua paixão pela Bioquímica desde o ensino médio. “Busco conhecer tudo em nível molecular. Durante algum tempo dei aulas na UERJ de Bioquímica para alunos de Psicologia. Para motivá-los, eu buscava conhecer a bioquímica dos sentimentos. Fui me apaixonando pelo tema. Esta é minha paixão, um “Hobby” científico. Os ansiolíticos visam compensar a falta destes compostos que têm a produção finamente controlada pelo organismo. Se o organismo sintetiza, ele precisa ter precursores que são ingeridos. Daí nasceu o projeto”, conta.

Segundo Olga, a ansiedade é uma reação natural do corpo quando em proporções normais. Neste caso, é saudável, pois impulsiona o indivíduo a realizar projetos, prosperar e planejar o futuro. “No entanto, o excesso de ansiedade pode se tornar patológico de diversas formas, como transtorno depressivo, transtornos de personalidade, transtornos mentais, transtorno alimentar, transtorno de pânico, transtorno obsessivo compulsivo, entre outros”, explica.

Ela observa que, do ponto de vista biológico, a ansiedade é um mecanismo cerebral relacionado a eventos que estimulam e ativam sistemas cerebrais associados ao sistema de luta e fuga. O processo ativa neurotransmissores que participam na modulação e regulação dos comportamentos defensivos. Dentre os neurotransmissores, estão as aminas biogênicas (noradrelanina, serotonina e dopamina), aminoácidos, peptídeos e esteroides, aminoácidos (Ácido Gama Aminobutírico – GABA, glicina), peptídeos (fator de liberação de corticotropina, corticotropina, colecistocinina) e esteróides (corticosterona).

Para Olga, o estilo de vida atual pode estar por trás do aumento dos transtornos de ansiedade, como excesso de informação, insegurança pessoal e profissional, competitividade, excesso de responsabilidades e cobranças. Também contribuem para o adoecimento da população fatores socioeconômicos e ambientais, como incerteza, insegurança, desesperança, falta de infraestrutura, pobreza, violência, desigualdade social, desemprego e o estilo de vida.

Professora Olga

O grande número de ansiosos e depressivos no Brasil pode ser explicado, na sua opinião,  por vários fatores, entre eles o modo de vida e as dificuldades socioeconômicas. Ela cita, por exemplo, a longa jornada de trabalho, o excesso de tempo gasto em conduções muitas vezes inadequadas, além da dupla jornada feminina, já que grande parte das mulheres brasileiras precisa trabalhar fora e ainda dar conta sozinha dos serviços domésticos. Outro fator importante é o uso excessivo de celulares e o costume de dormir com a TV ligada.

“Além disso, o custo de vida é incompatível com a maioria dos salários, trazendo preocupações diversas. A ilusão do mundo perfeito apresentado nas redes sociais e inatingível pela maior parte da população também contribui, assim como os péssimos hábitos alimentares. Enfim, são vários fatores. Ainda bem que trazemos um humor e alegrias típicas do povo brasileiro, caso contrário, a situação seria ainda mais crítica”, afirma.

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