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O Fevereiro Laranja é o mês dedicado à conscientização para a prevenção, diagnóstico precoce e combate efetivo à leucemia, um nome genérico que congrega vários tipos de cânceres que afetam as células sanguíneas e da medula óssea.
Recentemente, a American Cancer Society estimou que aproximadamente 60 mil novos casos e cerca de 24 mil óbitos são registrados nos Estados Unidos anualmente, sendo a leucemia mieloide aguda (LMA) a mais prevalente, respondendo por cerca de 34% dos casos, seguida da leucemia linfocítica crônica (LLC, 31%), leucemia linfoblástica aguda (LLA, 11%), leucemia mieloide crônica (LMC, 15%), e 8% correspondendo a tipos mais raros da doença.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que no Brasil a cada ano são diagnosticados cerca de 4 mil novos casos e mais de 6 mil óbitos, o que parece sugerir um déficit no monitoramento da doença no país, algo preocupante posto que o diagnóstico precoce seguido do tratamento adequado é imprescindível para ampliar as chances de cura.
Como todo tipo de câncer, as leucemias podem ter causas diversas que usualmente envolvem tanto fatores hereditários quanto ambientais.
Todavia, as leucemias figuram entre os tipos de cânceres mais associados à exposição a agentes químicos e/ou radiações ionizantes, componentes de risco aos quais estão expostos inúmeros trabalhadores da agroindústria, da indústria química, bem como de laboratórios de pesquisa básica, tecnológica e de análises clínicas, dentre outros.
Pesquisas na UENF voltadas ao assunto
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O professor do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual do Centro de Biociências e Biotecnologia da UENF (LBCT/CBB) Arnoldo Rocha Façanha explica que seu grupo tem pesquisado os mecanismos de ação de fitofármacos com propriedades antitumorais. Apesar de a pesquisa ainda não abordar especificamente leucemias, em 2019 foi iniciado o patenteamento de um novo complexo sintetizado em colaboração com o professor Adolfo Horn (na época LCQUI-UENF, hoje na UFSC), a partir de moléculas de ácido indol-3-acético (fitohormônio regulador de crescimento de plantas) associadas a um núcleo duplo de cobre, que demonstraram ter atividade antiproliferativa sobre células de leucemia de uma linhagem modelo denominada THP-1.
Além disso, entre os principais alvos moleculares destes estudos se destaca a V-ATPase, uma enzima translocadora de prótons que tem sido considerada um novo alvo terapêutico, com vários estudos ao redor do mundo relatando que a inibição farmacológica de V-ATPases produz efeitos antiproliferativos e antimetastáticos sobre vários tipos de tumores sólidos.
Também existem dados promissores sobre malignidades hematológicas, como no combate à leucemia linfoblástica aguda de células T (LLA-T) (Zhang et al., 2015, https://doi.org/10.18632/oncotarget.6180).
E, mais recentemente, para o tratamento da leucemia mais prevalente (LMA), como relatado por um grupo de pesquisadores noruegueses e espanhóis (Bartaula-Brevik et al., 2023, https://doi.org/10.3390/jcm12175546).
Neste último trabalho, pacientes com LMA secundária, um subconjunto heterogêneo com prognóstico geralmente adverso e terapia citotóxica prévia, neoplasia mieloproliferativa ou síndrome mielodisplásica, foram caracterizados por um forte efeito antiproliferativo da inibição da V-ATPase. E, ainda, por um perfil específico de expressão de mRNA de proteínas do interactoma da V-ATPase, um padrão que também identificaram em outros tipos de células tumorais.
O professor Arnoldo Rocha defende que, neste Fevereiro Laranja, é preciso enfatizar a importância estratégica de um suporte contínuo e efetivo à pesquisa básica e à formação de novos pesquisadores capacitados a desenvolver estudos de ponta e tecnologias inovadoras capazes de responder ao enorme desafio imposto pela contaminação ambiental e práticas laborais crescentemente impactadas por agentes carcinogênicos (substâncias ou agentes que podem causar câncer).
UENF desenvolve estudos sobre biologia celular para entender os mecanismos de morte de células
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O professor Milton Kanashiro, do Centro de Biociências e Biotecnologia da UENF, também pró-reitor de Assuntos Comunitários da universidade, falou sobre uma das linhas de pesquisas que desenvolve junto a seu grupo. O objetivo é selecionar novas moléculas com atividade citotóxica seletiva contra células cancerígenas. A célula de leucemia é uma delas.
Ele explica que, nesta linha de pesquisa, o grupo utiliza o cultivo in vitro de células cancerígenas para a seleção inicial das novas moléculas.
— Nesta etapa utilizamos várias técnicas de biologia celular e bioquímicas para entender os mecanismos que levam à morte destas células. As moléculas que apresentam alta atividade citotóxica são selecionadas e são testadas in vivo em modelos murinos que reproduzem nódulos de cânceres humanos — explica o professor.
Kanashiro pontua, ainda, que neste modelo utiliza-se camundongos imunodeficientes que permitem o crescimento de nódulos de cânceres humanos.
— Os animais portando nódulos de cânceres humanos são tratados com as moléculas que foram previamente selecionadas in vitro. Durante o período de tratamento avaliamos a evolução dos nódulos, se aumentam ou diminuem de tamanho e também avaliamos os possíveis efeitos colaterais dos tratamentos nos animais experimentais — diz.
As pesquisas realizadas pelo grupo do professor Milton Kanashiro têm resultado em algumas moléculas com atividades citotóxicas relevantes. Eles fizeram a solicitação do registro de patente destas moléculas ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e uma das solicitações já teve a patente concedida.
Na continuidade deste projeto, há novas moléculas em estudos e sua equipe está acrescentando as células-tronco tumorais para o estudo in vitro destas moléculas.
— As células-tronco tumorais têm sido alvo de muitos estudos na área do câncer, pois uma das principais hipóteses na geração de cânceres resistentes aos quimioterápicos e a recidiva de tumores após a remissão do câncer está associada às células-tronco tumorais. Assim, entender a biologia destas células, bem como descobrir compostos que possam alvejá-las podem resultar em grandes avanços no tratamento do câncer — relata o professor.
(Jornalista: Thábata Ferreira – ASCOM/UENF)