Curso aborda câncer de intestino

O biólogo e nutricionista Luiz Fernando Miranda falou sobre o tema na Semana do Produtor Rural

Segundo o INCA, o câncer é o principal problema de saúde pública no mundo. Uma em cada cinco pessoas terá essa doença durante a vida. Na maioria dos países, corresponde a uma das principais causas de morte prematura, antes dos 70 anos. Mas o que a ciência tem mostrado sobre os efeitos dos alimentos, aditivos e contaminantes no surgimento do câncer de intestino? Esse e outros questionamentos foram abordados no curso: “Câncer de intestino em humanos: como a alimentação atual pode aumentar os riscos ou ajudar na prevenção”, que aconteceu durante a Semana do Produtor Rural da UENF.

O palestrante, que é biólogo, nutricionista e doutor pela UENF, Luiz Fernando Miranda, mostrou as hipóteses que ajudam a explicar o grande crescimento deste tipo de câncer nos últimos anos e a sua relação com o sobrepeso e obesidade, problemas que, se continuarem crescendo, poderão colapsar o sistema de saúde nas próximas décadas. Luiz Fernando conversou com a ASCOM. Confira a entrevista:

ASCOM – O que é o câncer?

LUIZ FERNANDO – O câncer (tumor maligno) contempla mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas que têm em comum o crescimento e multiplicação de células que podem atingir tecidos adjacentes ou órgãos à distância.

ASCOM – Como acontece o câncer de cólon e reto?

LUIZ FERNANDO – É uma doença heterogênea, mas que se desenvolve predominante a partir de mutações genéticas em lesões benignas como os pólipos, por exemplo.

ASCOM – Quais são os principais fatores associados à ocorrência de câncer mais cedo?

LUIZ FERNANDO – Aumento da poluição, defensivos agrícolas, comida ultraprocessada, estresse, medicamentos, genética, tabaco, sedentarismo e álcool. Além disso, doenças inflamatórias intestinais crônicas aumentam a chance de câncer no cólon e reto.

ASCOM – E quais são os problemas intestinais que elevam o risco de câncer de intestino?

LUIZ FERNANDO – Doença de Crohn, Doença Celíaca, Reto Colite Ulcerativa e Síndrome do Intestino Irritável (distúrbio funcional sem anormalidade estrutural). Estudos mostram que até 21% dos pacientes com doença inflamatória intestinal desenvolvem câncer de cólon dentro de dez anos após o diagnóstico da doença.

ASCOM – Estudos apontam que 704 mil novos casos de câncer poderão acontecer entre 2023 e 2025. Quais são os tipos mais frequentes?

LUIZ FERNANDO – Câncer de pele não melanoma, seguido de mama feminino, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago.

ASCOM – Por que os embutidos e defumados são tão prejudiciais?

LUIZ FERNANDO – Porque têm ou são indutoras de formação de nitrosaminas, que são substâncias carcinogênicas. Carnes queimadas em contato com fuligem de carvão também contêm compostos cancerígenos.

ASCOM – A obesidade aumenta a chance de câncer. Quais os alimentos e bebidas devem ser evitados para prevenir a obesidade?

LUIZ FERNANDO – Alimentos e bebidas ultraprocessados, cujas formulações costumam ser muito energéticas e prejudiciais para a flora intestinal. Elas contêm ingredientes modificados industrialmente como, por exemplo, gordura hidrogenada. Os aditivos presentes como aromatizantes, conservantes e espessantes servem para melhorar a consistência, estender o tempo de prateleira dos alimentos e torná-los mais atrativos e palatáveis. Exemplos: refrigerantes, bebidas lácteas, néctar, misturas em pó, salgadinhos, doces, algumas barras de cereal, sorvetes, pães, margarinas, alguns cereais matinais, tortas, pizzas pré-preparadas, nuggets, salsichas, hambúrgueres e macarrão instantâneo.

ASCOM – Mais de 2 bilhões de pessoas ingerem álcool no mundo. O uso de álcool é prejudicial, mesmo em pouca quantidade?

LUIZ FERNANDO – Uma a cada 20 mortes é causada pela ingestão de álcool, totalizando 3 milhões por ano e ¾ são homens. Toda bebida alcoólica, em qualquer quantidade, é muito prejudicial ao organismo. O álcool está mais relacionado ao surgimento de câncer de boca, esôfago, estômago, fígado e intestino.   

ASCOM – Então, quais alimentos devem ser consumidos no dia a dia?

LUIZ FERNANDO – O alimento in natura, ou seja, aquele ao qual temos acesso da maneira como ele vem da natureza, que é minimamente processado (cortado, moído, aquecido, refrigerado, etc.). O termo inclui partes comestíveis de plantas (sementes, frutas, folhas e raízes) ou de animais (músculos, ovos e leite). Também inclui cogumelos e algas.

ASCOM – E quais alimentos são ativos na prevenção do câncer?

LUIZ FERNANDO – Vegetais coloridos e orgânicos, sobretudo os de cor roxa ou meio azulada, vermelha, amarela ou alaranjada. São eles: açaí, morango, amora, mirtilo, acerola, jabuticaba, uva, repolho roxo, alface roxa, berinjela, cebola roxa, entre outros, são extremamente benéficos e devem ser consumidos diariamente.

ASCOM – São muitos os tipos de cânceres. Como fazer a prevenção mais assertiva?

LUIZ FERNANDO – Ter alimentação saudável, não fumar, evitar álcool, não ser sedentário, evitar estresse, se expor menos ao sol e usar protetor solar, fazer exames médicos rotineiramente, principalmente àqueles com histórico de câncer na família.

ASCOM – E quais são os exames que devem ser realizados para a prevenção do câncer de intestino?

LUIZ FERNANDO – O médico vai definir quais os exames deverão ser feitos com base na existência de sintomas ou em casos de exame de prevenção, como a colonoscopia, que já pode ser feita a partir dos 45 anos de idade e é eficiente para detectar os cânceres de intestino de maior incidência: cólon e reto. Outro dispositivo que também é utilizado para exame é a capsula endoscópia, que o paciente deglute e a mesma registra imagens, permitindo avaliação de regiões intestinais de mais limitado acesso, por exemplo. Infelizmente este exame ainda é pouco acessível à população.

ASCOM – Para finalizar, qual conselho você daria a todas as pessoas?

LUIZ FERNANDO – Fiquem mais atentos aos casos de câncer em suas famílias. Muitos desconhecem ou dão pouca importância. Se você tem ou teve pai e/ou mãe afetados pela doença, principalmente, ter hábitos saudáveis já citados aqui é praticamente obrigatório. 

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