NUPERJ apresenta modelagem econômica para o estado em seminário nesta quinta-feira

Como resolver os problemas econômicos do Estado do Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, diminuir a desigualdade social? O Núcleo de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (NUPERJ), que desde o início deste ano passou a ser um projeto de exensão da UENF, vem trabalhado nesse sentido. E nesta quinta-feira, 17/11/22, a partir das 8h, no auditório do P5, o Núcleo vai apresentar seus objetivos e metas à comunidade interna, com o objetivo de envolver pesquisadores de todos os centros da Universidade.

Criado em 2019 pelo professor Alcimar das Chagas Ribeiro, do Laboratório de Engenharia de Produção (LEPROD), o NUPERJ surgiu para suprir uma lacuna em relação à sistematização de dados econômicos regionais.  

— Temos os órgãos oficiais que disponibilizam indicadores, mas a sistematização regional disso não é muito comum. Os economistas estão muito mais preocupados com a macroeconomia, e o Estado do Rio perde espaço com isso. Isso motivou trabalhos anteriores, como um blog, o site Coneflu, até chegar no NUPERJ. A ideia era ampliar a discussão e envolver também outros pesquisadores, trazendo essa discussão para dentro da Universidade — disse. 

Além de levantar os indicadores da economia do Estado do Rio de Janeiro, o NUPERJ produz mensalmente um relatório técnico abordando a conjuntura econômica estadual. São trabalhados temas específicos, como produção industrial, atividade do comércio, serviços, empregos e gestão orçamentária. 

— Nosso diferencial é exatamente esse. Porque os esforços nesse sentido acabam se concentrando na capital e região metropolitana. Nós ampliamos a discussão, abrangendo as seis mesorregiões: norte, noroeste, baixada, centro, sul e metropolitana — afirma Alcimar. 

Alcimar das Chagas Ribeiro, coordenador do NUPERJ

Segundo ele, no entanto, ainda há algumas dificuldades para obter dados regionais, além da limitação de pessoal para atuar no projeto.  

Os trabalhos permitiram iniciar o desenvolvimento de um novo índice, o Indicador de Dinâmica Econômica. Segundo Alcimar, o objetivo do índice é atender à economia local. Ele ressalta que existe toda uma discussão entre os economistas a respeito dos atuais indicadores, que não refletem as dinâmicas econômicas regionais.  

— Os indicadores que existem, como o PNUD, PIB, IDH entre outros, mascaram muito as realidades locais. Por exemplo, Campos e São João da Barra têm PIBs exagerados por conta da produção de petróleo, mas que não representam a dinâmica econômica desses municípios. São João da Barra tem nove mil empregos por conta do Porto, mas essas pessoas não moram lá. Quissamã tem um PIB per capita, por exemplo, do tamanho de PIBs da Europa — explica.  

O novo indicador utiliza dados como o investimento público (o que o governo está investido no local), o ICMS (que representa a dinâmica dos negócios, tudo que compra e vende), o emprego e renda no comércio e o número de pessoas que recebem benefícios sociais.

— Essa população é vulnerável. Então a diferença dela para 100% da população representa aqueles que efetivamente atuam na dinâmica econômica local — disse. 

Os dados utilizados pelo NUPERJ são levantados por órgãos como Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho, Banco Central, Ministério do Desenvolvimento Econômico e Industrial, Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Tribunal de Contas do Estado (TCE), e portal da Transparência federal. 

— Nossa linha é entender a dinâmica do município, até porque o desenvolvimento vem depois. Você precisa primeiro reconhecer seu município para aí, sim, ver os pontos que precisa melhorar — diz Alcimar. 

Durante o seminário será apresentada a modelagem de um programa de desenvolvimento territorial local. Uma das questões abordadas é a dependência dos royalties do petróleo.

— A Bacia de Campos já tem 40 anos e está em fase de declínio. Por mais que se discuta a sua reativação, não há garantias de que isso vá acontecer. Muitos falam de uma alternativa ao petróleo. Não é uma alternativa ao petróleo que precisamos, mas uma alternativa econômica para que o estado possa se reerguer — afirma. 

Com relação à agropecuária, há uma crítica ao que vem sendo tradicionalmente trabalhado no Estado. Para Alcimar, a ideia de transferência de tecnologia já demonstrou que, na prática, não funciona. 

— O histórico mostra que não adianta transferir conhecimento para quem não está preparado para receber. Assim como não adianta passar dinheiro se o produtor não souber qual a melhor maneira de utilizar esses recursos — diz. 

Na modelagem do NUPERJ, a visão de transferência de tecnologia, microeconômica, é subsituída por uma visão mesoeconômica, baseada na reestruturação produtiva feita na Europa pelos distritos industriais nas décadas de 1960 e 1970. O foco é retirado da visão microeconômica do pequeno produtor para a visão mesoeconômica do território. 

— A visão microeconômica não tem competência para evoluir sozinha. No visão mesoeconômica de território, temos a cooperação entre os diversos produtores, com uma governança por trás, planejando, orientando, dizendo como deve funcionar. Aí entram as prefeituras, as universidades e outras instituições — explica. 

Além disso, o benefício transferido pelos governos deve ser substituído pelo planejamento do investimento que venha capacitar, melhorar as condições desses produtores, definindo padrões de produtos, de produção, bem como incentivando a estruturação e planejamento de cadeias produtivas, ao invés de incentivar a produção para a venda de comodities, como ocorre atualmente. 

— É a agroindústria. Na produção de maracujá, por exemplo, você pensa em uma fábrica que processe o fruto e gere trabalho, pois a preocupação é com a redução da desigualdade social. Você cumpre esse papel quando cria alternativas para os diversos padrões educacionais. Precisa inserir a produção nos diversos nichos, a partir de cadeias que integrem conhecimentos de diferentes padrões — explica Alcimar. 

O projeto NUPERJ tem o apoio da FAPERJ e conta com participação dos professores da UENF José Arica (LEPROD/CCT), Éder Dutra (LTA/CCTA) e Paulo Nagipe (LCQUI/CCT), além da economista e professora da UFRJ Lia Hasencler (UFRJ), tendo como parceiro também o Comitê da Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul, sob coordenação do dr. João Gomes, da UENF. Atuam no projeto ainda nove bolsistas de extensão, alunos de diversos cursos de graduação da UENF.

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