Aluno da professora Cristina Maria Magalhães de Souza, falecida em 2020, o pesquisador Inácio Pestana resolveu prestar uma homenagem à professora Cristal — como ela era carinhosamente chamada na UENF — enviando sua história par a a Revista Nature. “Queria colocar o nome dela na Nature, que é uma revista super prestigiada, para que fosse uma homenagem à altura da profissional e da pessoa que ela era”, conta Inácio, que foi procurado por uma jornalista da revista e teve sua história publicada no último dia 25/04.
“Eu fui aluno da professora Cristal por 10 anos (graduação, mestrado e doutorado), além de ter feito estágio de pós-doutorado com ela por 2 anos. Ela me guiou em toda minha carreira científica, me ensinou o método científico e biogeoquímica, que era a área de especialidade dela. Além de ser uma excelente profissional, ela também era uma pessoa incrível que tratava muito bem seus alunos, com carinho e atenção”, diz Inácio, que atua na área de Biogeoquímica e Contaminação Ambiental e acaba de receber a bolsa Jovem Pesquisador Fluminense da Faperj para realizar pesquisas na UENF.
A professora Cristal ingressou na UENF em 1995. Ela era integrante da equipe do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB), onde atuou como coordenadora do curso de Ciências Biológicas, na licenciatura e no bacharelado, e também como membro do Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais.
Veja AQUI a publicação na Nature e, abaixo, o texto em português.
Aprendendo com a perda
Embora seja difícil lidar com os impactos burocráticos da perda de um orientador (papelada, financiamento e desenvolvimento de carreira), às vezes o maior desafio é emocional. Inácio Pestana começou a trabalhar com sua orientadora, a cientista ambiental Cristina Maria Magalhães de Souza, como estudante de graduação na Universidade Estadual do Norte Fluminense no Rio de Janeiro, Brasil. Depois de se formar em biologia, ele decidiu fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado estudando contaminação por metais pesados no meio ambiente, tudo sob sua orientação.
“Quando comecei meu pós-doutorado, ela descobriu o câncer”, conta Pestana. “Eu era o mais velho do meu grupo de pesquisa e o único que já havia concluído um doutorado, então eu orientei seus alunos de forma não oficial.”
Durante um ano e meio, Pestana foi o orientador não oficial dos outros alunos do laboratório de Souza, até ela falecer em setembro de 2020. Depois, ele perguntou a sua Universidade e aos membros do seu programa de pós-graduação se poderia tornar-se o orientador oficial dos alunos do grupo. “Foi muito, muito difícil para mim, porque se eu decidisse vivenciar minha dor, eu poderia desmoronar e não conseguiria fazer o trabalho que eu precisava fazer para honrar seu legado”, diz ele. “Mas eu queria fazer isso. Não era um fardo.”
Quando Pestana soube da morte da sua orientadora, o seu primeiro instinto foi lidar com as tarefas burocráticas. “Muitas pessoas na universidade estavam me ligando não para falar sobre minha dor, mas para lidar com burocracia”, lembra ele. “No começo, não lidei bem com isso emocionalmente, mas quando o dia acabou, chorei muito e não sou uma pessoa que chora facilmente.”
Ele permaneceu no mesmo espaço do laboratório e acabou se mudando para o escritório dela. “Com o passar do tempo, a tristeza foi embora e tudo o que restou foram as coisas boas que ela fez por mim”, diz ele. Pestana descreve Souza como alguém que tratava seus alunos como iguais, os afastava das más práticas científicas e os elogiava até nos menores sucessos. “Ela via não só um aluno a sua frente, mas também uma pessoa”, diz Pestana.
Agora, ele leva essas lições adiante como pesquisador e orientador na universidade. “Percebi que poderia lidar com todas as tarefas acadêmicas e as questões emocionais com as quais estava lidando porque ela me preparou enquanto estava viva para o que eu experienciaria como um pesquisador”.