
Uma área de estudo relativamente recente e com grande potencial na agricultura, silvicultura e conservação — a embriogênese somática de plantas — vem colocando a UENF em evidência no mundo. Em artigo publicado este mês na revista Plant Cell, Tissue and Organ Culture da editora Springer Nature (https://link.springer.com/article/10.1007/s11240-025-03172-6 ), o professor Vanildo Silveira, do Laboratório de Biotecnologia do Centro de Biociências e Biotecnologia da UENF (LBTBB), figura entre os 10 principais autores com maior número de publicações nos últimos 55 anos, ocupando o 5º lugar no ranking, com um total de 42 publicações e média de 27,4 citações.
Intitulado “Mapeando cinquenta e cinco anos de pesquisa em embriogênese somática: uma análise bibliométrica de tendências, colaborações globais e avanços importantes em mais de nove mil artigos”, o artigo é assinado pelos pesquisadores costarriquenhos Pastor Júnior Pérez-Molina, Paula Carvajal-Campos e Víctor M. Jiménez.
Figuram no ranking outros dois pesquisadores brasileiros: Miguel Pedro Guerra, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que ocupa o terceiro lugar, com 45 publicações e média de 17,5 citações; e Jonny Everson Scherwinski-Pereira, da Embrapa, em décimo lugar, com 35 publicações e média de 14,8 citações.
Pesquisas na UENF abrangem cana-de-açúcar, mamoeiro e maracujazeiro
Trabalhando desde a década de 1990 com embriogênese somática de plantas — quando atuava como bolsista de Iniciação Científica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) —, Vanildo explica que os trabalhos de pesquisa em seu laboratório abrangem basicamente duas frentes: desenvolver protocolos de embriogênese somática para algumas espécies — cana-de-açúcar, mamoeiro e maracujazeiro — e estudar por que a técnica funciona para alguns grupos de células e outros não.
— Uma de nossas linhas de pesquisa é identificar os marcadores moleculares, principalmente proteicos, dessa competência embriogênica. Queremos saber por que um grupo de células resulta num embrião somático e numa planta completa e por que outro grupo, que veio do mesmo tecido, não produz o embrião somático — explica.

Segundo Vanildo, a lógica é tentar identificar marcadores moleculares para que seja possível editar qualquer tipo de célula com genes específicos, obtendo sempre culturas com capacidade embriogênica ou, pelo menos, maximizar a resposta embriogênica em determinados materiais que hoje ainda são difíceis.
De acordo com o professor, a embriogênese somática é uma espécie de clonagem de plantas. A técnica permite que, a partir de uma única célula somática (célula não reprodutiva), seja possível criar uma planta inteira, gerando um clone da planta. A embriogênese somática permite criar embriões que conseguem germinar sem a participação dos gametas, ou seja, sem a necessidade da reprodução natural.
— É uma técnica bastante promissora para a clonagem de plantas em larga escala. As pesquisas em embriogênese somática tiveram um grande boom a partir de 2013, quando foi criada uma nova técnica de edição gênica, a CRISPR — que permite a edição do genoma de forma precisa e eficiente. Para isso você precisa de uma técnica para regenerar aquela célula numa planta completa — conta Vanildo.
Segundo o professor, uma das aplicações da embriogênese somática é servir como plataforma para a regeneração de plantas após edição gênica. Essa combinação permite modificar genes de interesse e, em seguida, regenerar plantas completas com a característica desejada.
— Por exemplo: imagine que numa pesquisa seja achado um milho pipoca que tem um estouro melhor. A partir desse conhecimento, é possível usar técnicas de edição gênica para alterar regiões regulatórias de genes ou inativar genes limitantes, de modo a melhorar essa característica e, consequentemente, produzir um milho pipoca com maior qualidade. Neste exemplo, a embriogênese somática é crucial para gerar a planta editada. Isso abre uma perspectiva enorme, mas não é tão simples, daí a necessidade de pesquisa — afirma.
Pesquisa analisou mais de 9 mil artigos em todo o mundo
O artigo publicado na Plant Cell, Tissue and Organ Culture apresenta uma análise bibliométrica e de mineração de texto nos últimos 55 anos (1970-1924). Foram examinados 9.230 artigos, revelando, segundo os autores, um aumento substancial nas publicações nos últimos tempos, com mais de 81% dos artigos publicados após 1995. Estados Unidos, Índia e China emergem como os principais contribuintes, produzindo coletivamente 31,8% da produção total.
O artigo traz também os 10 principais artigos científicos com maior número de citações em embriogênese somática nos últimos 55 anos e na última década. De acordo com os autores, a embriogênese somática é uma ferramenta fundamental na biotecnologia vegetal, pois permite a regeneração de plantas a partir de células somáticas. Desde sua descoberta na década de 1950, as pesquisas cresceram consideravelmente, impulsionadas por avanços na cultura de tecidos e biologia molecular.
A embriogênese somática em plantas foi descrita pela primeira vez na década de 1950 por Reinert (1958, 1959) e Steward et. al. (1958). Eles demonstraram que as células somáticas da cenoura poderiam formar embriões somáticos in vitro (em laboratório). Na década de 1970, protocolos foram desenvolvidos para outras espécies, ampliando a aplicabilidade da embriogênese somática a diversas culturas agrícolas e florestais. Desde então, o número de espécies propagadas com sucesso por essa via aumentou, assim como a compreensão dos fatores que afetam o processo.
(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri – Fotos: Thábata Ferreira – ASCOM/UENF)

