O professor Paulo Eduardo Artaxo Netto, do Instituto de Física da USP, proferiu na tarde da última terça-feira, 13/10/20, a Conferência de Abertura do XII Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica (CONFICT) e V Congresso Fluminense de Pós-Graduação, intitulada “As emergências climáticas, de saúde e de biodiversidade: Como sairemos delas?”. A mediação ficou a cargo da professora Maria Cristina Gaglianone, assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e coordenadora institucional do Programa de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica da UENF.
O professor iniciou a conferência afirmando que, para alcançar um desenvolvimento sustentável, a sociedade precisa vencer as três grandes crises da atualidade: a crise da saúde, da emergência climática e da perda de biodiversidade. Segundo Artaxo, estas três crises estão conectadas por alguns aspectos, dentre eles a superexploração da natureza. “Uma situação perigosa não só para esta como para as futuras gerações”, disse. Por outro lado, tais crises evidenciam uma visão de curto prazo do sistema econômico e político. “Precisamos pensar o planeta a longo prazo”.
“Além disso, existe uma falta de governança global para lidar com essas crises. Por exemplo, em relação à COVID-19, cada país teve uma estratégia diferente. No Brasil, cada Estado e município também. Problemas globais não podem ser resolvidos dessa forma. Precisamos de um sistema de governança global que possa lidar com essas crises, que vão se aprofundar no futuro”, disse.
Segundo Artaxo, essas três crises têm um ponto em comum: a necessidade de que as decisões tomem por base a ciência. “É preciso acabar com essa situação de alguns países aceitarem a ciência só quando ela vai na direção de seus interesses. Quando vai contra, a ciência é rechaçada”, afirmou.
Outro ponto em comum das três crises, segundo o professor, são os efeitos socioeconômicos por elas provocados. Ele citou, por exemplo, o desmatamento da Floresta Amazônica, que, além dos problemas já conhecidos, pode contribuir para o surgimento de novas pandemias. “Na Floresta temos vários vírus, então, se continuarmos a desmatar a Amazônia, é só uma questão de tempo para que esses vírus migrem para a sociedade. Mas, para isso, é preciso vontade política para implantar decisões baseadas na ciência”, disse.
Segundo Artaxo, os problemas ambientais já aumentaram a temperatura global, em média, em um grau, chegando a dois graus em alguns locais do planeta. Ele observou que, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem nos níveis atuais (42 bilhões de toneladas por ano), a temperatura do planeta pode subir até seis graus. “Regiões semiáridas vão virar áridas. Teremos migrações em massa, muito maiores do que as que vemos hoje”, afirmou, acrescentando que a “receita” para mudar tudo isso já foi dada pelo IPCC, sendo o Acordo de Paris o instrumento legal. “Se todos os países cumprirem, mesmo assim, a temperatura ainda vai subir três graus”‘, observou.
“A medida mais importante para solucionar essas três crises é mudar o atual modelo de desenvolvimento econômico. As desigualdades de renda são muito grandes, o que coloca a população mais pobre nua situação mais vulnerável. Temos que entender que crescimento econômico o tempo todo não existe num planeta com recursos naturais limitados. Precisamos consumir menos porque o planeta já não está aguentando”, disse o professor.
Reunindo a UENF, o IFF e a UFF, o XII CONFICT e V CONPG prossegue até sexta-feira, 16/10/20, com o tema “Ciência para o desenvolvimento sustentável”. O evento está sendo realizado virtualmente, através do Facebook da UENF. Nesta quarta, 14/10/20, às 16h30, será realizada palestra com o professor Rômulo Orrico Filho (UFRJ), sobre o tema “Mobilidade urbana sustentável: um desafio para o desenvolvimento?”, seguida de atividades culturais. Veja a programação completa e outras informações no site do evento.