Consulta Pública aponta necessidade de diretrizes para uso de IA na UENF

Embora a Inteligência Artificial (IA) seja bastante difundida dentro da UENF — tanto nas atividades administrativas quanto acadêmicas —, seu uso requer diretrizes claras. É o que aponta o Relatório Analítico da Consulta Pública — Diretrizes para Uso de Inteligência Artificial na UENF, realizada em novembro entre docentes e técnicos-administrativos da UENF.

Coordenada pelo professor João Almeida, do Laboratório de Fisiologia e Bioquímica de Microorganismos (LFBM) — que também ocupa o cargo de assessor da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX) — a pesquisa ouviu 166 servidores, sendo 69 docentes e 97 técnicos-administrativos.

Pesquisador em Bioética e vice-presidente da Seção Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Bioética, João Almeida coordena um grupo de pesquisa que investiga os impactos da tecnologia na sociedade e é autor de um livro submetido recentemente à Editora UENF (EDUENF) sobre o uso da IA na redação científica.

O relatório revela que 90% dos respondentes concordam com a necessidade de diretrizes claras para o uso de IA na UENF, demonstrando um consenso institucional  quanto à necessidade de regulamentação do uso desta tecnologia no trabalho.

No âmbito acadêmico, a pesquisa apontou a necessidade de diretrizes que impeçam a substituição integral do trabalho intelectual humano por IA, especialmente em avaliações, TCCs, dissertações e teses. Além disso, espera-se que haja normas quanto à transparência e rastreabilidade, garantindo que todo trabalho acadêmico declare explicitamente o uso de IA, informando a ferramenta utilizada e as etapas em que foi aplicada.

Professor João Almeida

A pesquisa apontou também, entre outras questões, a necessidade de capacitação — com promoção de cursos, treinamentos e oficinas sobre o uso ético e crítico da IA —, bem como de melhoria da infraestrutura institucional — com previsão de aquisição e disponibilização de ferramentas de IA seguras e auditadas, plataformas institucionais e sistemas de monitoramento.

— Nosso objetivo foi compreender a percepção, experiências e necessidades dos docentes e técnicos-administrativos quanto ao uso da Inteligência Artificial (IA) na Universidade, como parte do esforço institucional da UENF em promover políticas democráticas e responsáveis sobre o uso de IA, ouvindo a valorizando as contribuições desses segmentos — afirma João Almeida.

De acordo com a pesquisa, 54,6% dos respondentes utilizam a IA com frequência regular (diária ou semanal), o que, segundo João, indica uma difusão significativa da tecnologia na Universidade. Ao contrário, 38% afirmaram que usam raramente ou nunca a Inteligência Artificial no seu trabalho.

“Isso revela uma heterogeneidade no nível de apropriação. Este distanciamento sugere a necessidade de difundir informações e realizar treinamentos, a fim de proporcionar um maior nível de conhecimento sobre essas tecnologias emergentes”, afirma o Relatório.

Dentre as principais ferramentas de IA conhecidas e utilizadas, as principais são: ChatGPT (82,5%), Google Gemini (61,4%) e Microsoft Copilot (31,3%).

“A concentração massiva em ChatGPT revela uma dependência tecnológica: a comunidade acadêmica institucional  está primariamente vinculada a uma única plataforma comercial, inclusive deixando de utilizar ferramentas gratuitas disponibilizadas à UENF, como o Gemini e o Perplexy. É necessária uma maior divulgação das tecnologias disponíveis aos servidores da UENF”, diz o Relatório.

Um percentual muito pequeno dos respondentes (4,2%) não consideram ético o uso da IA em nenhuma situação. Para os demais, o relatório aponta uma clara hierarquia nas percepções éticas.

“Atividades de suporte,  como revisão, tradução e busca bibliográfica, alcançam 66-80% de aceitação, enquanto atividades criativas, como geração de ideias e programação, caem para 30-50%, refletindo uma preocupação com a substituição de atividades cognitivas humanas”, aponta o relatório.

Segundo João Almeida, as ações de implementação das diretrizes incluem a criação de um comitê de governança em IA, o desenvolvimento de programas de literacia, a capacitação técnica e a atualização constante das práticas de gestão e fiscalização.

— O documento reafirma o compromisso da UENF com a inovação responsável, qualidade acadêmica e respeito aos direitos e à integridade de toda a comunidade universitária, sendo baseado na literatura científica e nos parâmetros mais atuais sobre o tema — conclui.

(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri – ASCOM/UENF)

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