‘Informação salva vidas; fake news podem matar’

Durante palestra de abertura do ano letivo na UENF, a jornalista Cristina Serra chamou a atenção para os perigos da disseminação de notícias falsas pelas redes sociais

Cristina Serra

O Brasil é um dos países onde mais são propagadas fake news. Só em 2019, houve 9 bilhões de cliques em notícias falsas. O site E-farsa, criado em 2002, começou checando uma informação falsa por semana. Hoje, o site precisa checar de cinco a seis informações falsas por dia.

Os dados foram apresentados pela jornalista e escritora Cristina Serra, durante palestra ministrada na tarde da última segunda-feira, 08/03/21, no Facebook da UENF. Intitulada “O Brasil em tempos de fake news, pandemia e urgência ambiental”, a palestra marcou o início do ano letivo de 2021 na Universidade e teve a presença do reitor da UENF, Raul Palacio, e da vice-reitora, Rosana Rodrigues.

Colunista do Jornal Folha de São Paulo, Cristina Serra disse que a pandemia tem sido “um terreno fértil” para as fake news. “As pessoas estão com o emocional abalado, mais vulneráveis”, afirmou, lembrando que um dos principais veículos de propagação de fake news são os aplicativos de mensagem, dos quais o mais utilizado é o whatsapp.

“São mensagens sobre supostas curas milagrosas, informações falsas sobre efeitos colaterais da vacina etc, que circulam livremente pela internet. As fake news viraram um capítulo à parte na pandemia. Há um esforço gigantesco de restabelecimento da verdade por parte dos cientistas, pois informações corretas salvam vidas e mentiras podem matar. Como se não bastassem as complexidades do Brasil, como é o caso das desigualdades sociais, ainda temos que lidar com as fake news neste momento de pandemia”, disse.

Segundo Cristina, três fatores contribuem para que o whatsapp seja o maior veículo utilizado para a disseminação de fake news. Um de ordem econômica, pois o aplicativo, por ser bastante acessível, rapidamente conquistou o mercado brasileiro. Outro fator é a facilidade de uso. “Ele permite a criação de grupos nos quais pode-se mandar áudios e vídeos com muita facilidade e com uma capilaridade muito grande”, disse. E o último fator é a criptografia, que dificulta qualquer investigação sobre o conteúdo das mensagens. “Essa características o transformaram em uma espécie de câmara de eco que dissemina mentiras e discursos de ódio de forma assustadora, difícil de controlar”, disse.

Segundo Cristina, para identificar as fake news é preciso desconfiar de notícias bizarras, estranhas ou surpreendentes demais, embaladas muitas vezes por teorias conspiratórias, por mais atraentes que sejam. “Essa é a isca que eles jogam. Muitas pessoas não resistem em compartilhar histórias incríveis. As fake news trabalham com esse desejo, essa vaidade das pessoas de querer mostrar que são antenadas, que têm acesso a informações frescas”, disse.

Ela alertou, porém, que  as pessoas precisam entender que este comportamento não deve ser visto como algo sem consequências. “Não é uma brincadeira, é um esquema empresarial que beneficia alguém. Ou seja, alguém está ganhando dinheiro com isso ou prejudicando a vida das pessoas”, afirmou. “As fake news são usadas com objetivos criminosos e tem conseguido eleger políticos”.

Segundo a jornalista, grande parte das pessoas hoje prefere se informar através das redes sociais ao invés da imprensa. “Isso ocorre porque  estas pessoas querem confirmar as crenças que já têm. É como se buscassem uma validação do que já acreditam. As fake news trabalham com esses mecanismos psicológicos”, disse. “Hoje já se fala na necessidade de uma educação midiática para ajudar as pessoas a discernirem melhor as informações que chegam”.

Cristina observou que hoje, “‘só não se informa quem não quer”. Isto porque há vários sites de imprensa com acesso livre pela internet. “Quem busca informações sérias tem onde procurar”, disse a jornalista, que fez questão de esclarecer algumas mentiras que andam circulando pela internet, como os efeitos das vacinas contra o coronavírus. “As vacinas não apresentam efeitos colaterais além de ínfimas reações alérgicas para poucas pessoas. Elas são absolutamente seguras”, garantiu.

Ela observou que a questão da pandemia e a questão da urgência ambiental estão intimamente relacionadas. Segundo Cristina, a sociedade vive hoje num contexto em que o homem avança cada vez mais em ecossitemas. “Passamos a viver com espécies com as quais não tínhamos proximidade. Não se sabe ainda quais as consequências disso. Assim que a epidemia for controlada, teremos que encarar a questão da urgência climática, que é outro território fértil para a disseminação de fake news.

Formada em Jornalismo pela UFF, Cristina Serra trabalhou durante 26 anos na Rede Globo, tendo sido correspondente internacional da emissora de 2002 a 2005. Atuou também no Jornal do Brasil e na Revista Veja. Em 2018, ela lançou o livro “Tragédia em Mariana – A história do maior desastre ambiental do Brasil”, pela Editora Record. Esta foi a segunda palestra de Cristina na UENF — a outra ocorreu em 2019.

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