
Ao participar da mesa-redonda “A Escola Brasileira de Cinema e Televisão (EBCTV) e a retomada do cinema na UENF”, na manhã de ontem, 20/08/25, a reitora da UENF, Rosana Rodrigues, garantiu que sua gestão dará todo o apoio à implantação de um curso de Cinema e Audiovisual da Universidade e informou que alguns passos já foram dados. Segundo a reitora, neste momento a administração da UENF está em processo de aquisição de equipamentos básicos para a oferta de disciplinas de cinema e audiovisual dentro dos cursos que já existem na Universidade.
— Nossa intenção nesse momento é trabalhar uma infraestrutura que nos permita caminhar na direção de abrigarmos a Escola de Cinema — disse Rosana.
A mesa-redonda integrou o segundo dia de programação do Seminário de Cinema e Audiovisual do Norte e Noroeste Fluminense, que, por sua vez, faz parte da programação do I Festival Internacional Goitacá de Cinema, aberto na última terça-feira. Também participaram do debate o gerente da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Hernani Heffner; e o diretor geral do Festival, o doutorando de Sociologia Política da UENF, Fernando Sousa. A mediação ficou a cargo do professor Hamilton Garcia, do Centro de Ciências do Homem da UENF (CCH).
Rosana lembrou que trabalha para a UENF desde 1992 — portanto, um ano antes de sua fundação —, quando atuou na Secretaria de Assuntos Extraordinários, cujo secretário era Darcy Ribeiro — “um homem fazedor de coisas, um visionário, uma mente inquieta e inovadora”.
— Então naquele tempo ele já tinha uma percepção muito forte do papel que a imagem ía ter no futuro. E, com a bagagem que ele tinha, enxergava a possibilidade de a UENF abrigar uma escola brasileira de cinema e televisão. Precisamos mencionar aqui que era um projeto do Darcy em colaboração com a Irene Ferraz, diretora de cinema que passou um período em Cuba, e se inspiraram naquele modelo pra fazer a proposta que seria a escola brasileira de cinema e televisão (escola de Cuba) — lembrou.
Segundo Rosana, a escola de cinema ainda faz parte dos planos da Universidade.
— Isso consta no plano diretor da UENF. E nós devemos isso ao Darcy: implementar a escola de cinema. Mas é claro que nós precisaremos repactuar essa escola, diante das mudanças nesta área. Essa ideia já começa a ganhar corpo, porque já temos hoje oficinas, teremos certificação, treinamento, capacitação, formação de publico. Eu entendo que esse sonho começa a ser materializado — disse.
O professor Hamilton Garcia abriu o evento lembrando que a retomada do projeto da Escola de Cinema da UENF, bem como a realização do Festival, surgiram com as discussões em torno do Plano de Desenvolvimento Institucional do CCH (PDI), iniciadas no ano passado.
— Foi neste plano que, a partir de uma relatoria elaborada pelo professor Roberto Dutra e pelo Fernando Sousa a gente resgatou a ideia da Escola de Cinema da UENF. A partir daí abrimos um debate que chegou até a reitora, que nos deu todo o apoio e chegamos a esse resultado que vocês estão vendo, que é o Festival. É um longo processo que exige planejamento, discussão, e o CCH está aberto para ajudar a UENF a impulsionar esse projeto, que abre uma série de possibilidades — disse.

Em sua apresentação, Hernani Heffner apresentou um breve perfil da trajetória de cursos de cinema e audiovisual no Brasil. Ele ressaltou que, devido à mudança no perfil da área, nos últimos anos houve também uma mudança nos cursos relacionados a cinema e audiovisual, que antes eram extremamente caros e, portanto, difíceis de serem instalados.
— Na virada do século, com o digital, isso foi ganhando um outro perfil e possibilidades. Isso significa, de um lado, repensar como se define um curso desse hoje. Por outro lado, qual é o caminho que se quer seguir dentro de uma determinada região e até qual segmento dentro do universo audiovisual, hoje gigantesco — disse.
Ele ressaltou que, no Brasil, a Igreja Católica teve participação fundamental no ensino de cinema, devido à encíclica papal de 1948, que mudou a imagem — até então negativa — do cinema, que passou a ser considerado um instrumento de evangelização importante e de formação do cidadão. No Brasil, a Ação Social Arquidiocesana (ASA) criou um curso de cinema do qual saíram religiosos que criaram cursos regulares na área, a maioria em caráter de graduação, formando o primeiro momento do ensino do cinema no Brasil.
O diretor do Festival, Fernando Sousa, explicou por que resolveu criar um festival internacional. Segundo ele, para provar que o interior do estado tem capacidade de aglutinar ações nesta área, apesar de todos os desafios que possui. Prova disso, afirmou, foi o número de filmes inscritos no festival — um total de 793, de todas as regiões do Brasil, sendo 26 estados além do Distrito Federal. E também dos Estados Unidos e de países da América Latina, Europa, África e Oceania. Ele também informou que nas seis oficinas oferecidas durante o Festival houve mais de 100 inscritos.
— Isso demonstra o interesse nesse campo. E precisamos pensar numa escola de cinema que pense também o patrimônio histórico e cinematográfico dessa região. Essa região tem uma diversidade de riquezas — disse.
(Jornalista: Fúlvia D’Alessandri – Fotos: Cassiane Falcão – ASCOM/UENF)